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Movimento Sindical

Um engodo para os trabalhadores

Movimento importado dos empresários norte-americanos pode resultar em uma catástrofe para os trabalhadores brasileiros

Um problema na esquerda é que se ninguém pisa no pé da esquerda brasileira, ela não se mexe. Ninguém liga para nada que tenha conteúdo político. O problema da liberdade de expressão é assim, se não lhe afeta, ela não apenas não liga, como ainda é capaz de apoiar.

Temos o caso do movimento VAT, liderado por um tal de “Rick”, que lançou um abaixo-assinado para mudar a escala de trabalho e que ganhou notoriedade pelo apoio da imprensa capitalista, o que é muito curioso. O capitalista agora é a favor dos trabalhadores terem sua carga horária de trabalho reduzida? “Rick” foi elogiado pela revista Exame, pelo jornal Folha de S. Paulo e o amplo mundo empresarial que, de repente, passou a apoiar que os trabalhadores tenham “vida além do trabalho”.

Isso deveria ligar o sinal de alerta da esquerda. Você não vai fazer avançar um movimento de luta dos trabalhadores com a adesão a qualquer tipo de coisa, sem analisar de maneira mais profunda o que realmente está acontecendo.

Para piorar, se a CUT tentar criar um movimento não será fácil, mesmo com os mais de quatro mil sindicatos que tem. No entanto o “Rick”, além de ter criado o “movimento”, o registrou como propriedade intelectual. “Rick” criou um movimento privatizado, o que é frontalmente contra qualquer tipo de movimento legítimo, realmente operário e popular.

No dia de seu aniversário, 15 de novembro, chamou atos que não poderiam ter a presença de partidos e nem de outras cores além do preto. Em 2013 aconteceu o mesmo com o movimento do Passe Livre que, após ser sequestrada pela direita, passou a funcionar com a palavra de ordem “abaixa essa bandeira e levanta a do Brasil”.

Muitas pessoas na esquerda não entendem o que aconteceu em 2013, mas as manifestações de junho começaram com um movimento legítimo da esquerda, sendo sequestrado, inclusive, com violência. O PCO manteve suas cores e bandeiras, mas os demais partidos todos abaixaram e vimos o resultado: a direita dominou completamente o movimento e a partir daí, surgiu a atual extrema direita.

O movimento é um engodo. A palavra de ordem é “contra a escala 6×1”, o que é uma palavra de ordem negativa, não é a favor de nada, só é contra. O capitalismo é uma forma de escravidão, por isso o negócio é horrível mesmo, trabalhar seis dias e descansar um é um reflexo da escravidão.

Conquistar o fim de semana livre de novo já seria impressionante, os trabalhadores brasileiros já tiveram e perderam, mas o que ele propõe é aumentar os dias de folga, para três dias. E isso reduzindo a escala semanal para 36 horas, o que torna incongruente a proposta com a jornada diária máxima de 8 horas, afinal, 4 dias de trabalho com 8 horas, dá 32 horas, o que deixa de fora 4 horas. Mostra que não é um projeto sério, mas quando se pesquisa a origem do movimento 4×3, a coisa fica melhor.

Na revista Época Negócios aparece uma matéria intitulada “‘Fim da escala 6×1: falar de modelos de trabalho mais flexíveis é caminho sem volta’ diz embaixadora da semana de 4 dias”. Quem é a “embaixadora”? Uma empresária, fundadora da Reconect happines at work, empresa parceira da 4 day week global. Esse projeto é empresarial e internacional, de uma ONG norte-americana, que pretende estabelecer a jornada 4×3 em comum acordo com as empresas, o que não faz sentido.

Se os trabalhadores trabalham menos e ganham o mesmo tanto, as empresas perdem dinheiro, o que fatalmente levaria as empresas a reagirem contra, afinal, vão perder. Na nossa proposta, por exemplo, defendemos que a empresa perca dinheiro mesmo, por isso, nada mais natural que as empresas oponham uma resistência gigantesca a essa proposta. Esse projeto, porém, não fala em salário e nem na folga aos finais de semana.

Se você é um trabalhador, tem sua família, seus filhos estudam e você quer ter tempo com os filhos, é no final de semana que isso acontecerá. Uma parte importante dos trabalhadores tem uma religião e é no final de semana que as celebrações religiosas acontecem. Por isso o final de semana livre é uma reivindicação importante para os trabalhadores.

Pela proposta do VAT, que só fala “jornada 4×3”, o trabalhador poderia ser contratado para trabalhar sábado, domingo, segunda e terça, e folgar quarta, quinta e sexta, o que seria altamente inconveniente. Ou seja, a PEC não fala em salário e nem fim de semana, e apresenta uma proposta esdrúxula, que muitos patrões aceitariam, tanto que a propaganda está sendo feita na Época Negócios, um órgão da Globo. Trata-se de uma proposta patronal, portanto.

Falar “contra a escala 6×1” não diz o que você está defendendo, o que o torna adaptável a qualquer coisa, incluindo o que defende a embaixadora do modelo, que defende maior flexibilização da jornada. Isso é importante porque no atual estágio de crise capitalista, muitas empresas não têm uma produção constante durante períodos consideráveis do ano, diminuindo a quantidade de trabalho durante esse período. Em outras épocas do ano, porém, a demanda aumenta e a necessidade de trabalho também.

Sob esse modelo do VAT, com a flexibilização, a empresa chama o trabalhador durante o período mais aquecido, o que pode durar cinco ou seis dias, pagando hora-extra. Isso seria a jornada “flexível”. Para financiar isso, as empresas rebaixarão os salários.

Quem atua no movimento sindical sabe que o salário do trabalhador, principalmente o operário industrial, o horista que trabalha na produção, já leva em consideração as horas extras. A flexibilização proposta pelo VAT vai levar as empresas a contratarem os trabalhadores por apenas 4 dias e quando precisar de mais, usará a hora extra. Com a terceirização, a proposta do 4×3 pode se tornar uma catástrofe para o trabalhador.

Os sindicatos e os partidos que atuam no sindicato precisam discutir a PEC com muito cuidado. A proposta correta precisa levar em consideração “fim de semana livre” e a questão salarial. Muito difícil que os salários não se desvalorizem com a redução da jornada para 4×3. Com a jornada de 5 dias da semana pode ser que haja uma desvalorização, mas não será uma flexibilização porque é um regime de trabalho definido, cinco dias na semana, dois dias de folga no final de semana.

PT não resiste

O PT embarcou nisso a contragosto. Trata-se de um partido que não resiste a nada que ganha uma determinada popularidade, como demonstram constantemente com a pressão da direita em defesa da repressão na qual eles sucumbem. Com a PEC foi a mesma coisa, porém o deputado mineiro Reginaldo Lopes. Esse deputado tem se destacado por ser um dos elementos mais direitistas do PT, uma espécie de Alberto Cantalice turbinado, que já atacou a Venezuela, defendeu que o PT saísse do Foro de São Paulo e que o PT se transformasse em um partido de “centro”, ou seja, de direita.

Nas eleições municipais deste ano, o PT lançou Rogério Correa à Prefeitura de Belo Horizonte para apoiar a prefeitura do PSB ainda no primeiro turno. Não é uma pérola? O entusiasmo de Lopes, que já tem um PL parecido, aumenta as suspeitas sobre a PEC. A proposta de Lopes é também neoliberal, dedicado a flexibilizar a jornada de trabalho.

A Constituição de 1988 consagrou a jornada de trabalho em 44 horas semanais. O que muita gente não sabe, ou esquece, é que em 1986 a CUT fez uma enorme campanha pela redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais. Os metalúrgicos do ABC fizeram uma greve de cerca de um mês para reduzir a jornada.

Preocupados com a pressão dos trabalhadores, a Constituinte acabou reduzindo a jornada brasileira, não para as 40 horas semanais, mas para 44h. Agora, no entanto, sem nenhuma pressão operária, sem mobilização, sem greve, nada, de repente, aparece um cidadão do PSOL totalmente desconhecido chamado “Rick”, cria um movimento coxinha e consegue reduzir a jornada de trabalho? É claro que se trata de um engodo.

O caso mostra como a esquerda deve ter atenção com tudo o que vem do PSOL, um partido totalmente dominado por ONGs e organizações internacionais, principalmente norte-americanas. Essa proposta é importada de um movimento empresarial.

Terrorista suicida

A semana teve o folclórico caso do “terrorista suicida” da Praça dos Três poderes. Um cidadão compra R$1.500 de fogos de artifício, o que transforma o “atentado” em uma pantomima. O homem não conseguiu arrancar nenhum ladrilho da Praça, fazendo do ataque um dos menos eficientes atentados terroristas de todos os tempos.

A direita brasileira é um tanto folclórica, como mostrou o “golpe de Estado” do 8 de Janeiro, que queria derrubar o governo, mas era um circo. Existe uma extrema direita perigosa, os policiais, os militares, os descendentes do golpe de 1964 e da Ditadura Militar. Esses, no entanto, são os menos atuantes no momento.

A maioria das pessoas que Bolsonaro arregimentou inúmeras pessoas desgostosas com a vida e que responsabilizam a esquerda pelos seus problemas, o que em um certo sentido, está correto, dado o endosso de uma parte da esquerda ao neoliberalismo. O atentado do Riocentro, por outro lado, mostra que quando a verdadeira base da extrema direita entra em ação, a coisa pode até dar errado, mas é muito mais profissional.

O suicídio na Praça dos Três Poderes foi visivelmente um ato isolado de uma pessoa desequilibrada, o que mesmo assim, deu lugar a uma campanha contra o “terrorismo, o “extremismo”, a “radicalização”, o que é exatamente a campanha do imperialismo contra os povos oprimidos em luta por sua liberdade, inclusive as palavras.

No Brasil, chegamos a um ponto em que setores da esquerda falam abertamente contra o “extremismo” e a “radicalização”, palavras que historicamente pertenceram à direita e foram usadas para atacar a esquerda. Agora, é a esquerda que quer colocar todo mundo na cadeia, censurar a internet, criar esse caos total que estamos vivendo e para o qual, a esquerda dá seu apoio.

O cidadão catarinense que fez isso em Brasília não é um “terrorista” em nenhum aspecto da palavra. É visivelmente um cidadão desequilibrado. Usar isso para “combater o bolsonarismo” é algo que ninguém normal levará a sério e fatalmente, entregará o País à extrema direita.

A campanha contra o “terrorismo” é importada dos EUA, principalmente o governo Bush. Resultou na famigerada “Lei Patriota” que derrubou direitos históricos do povo norte-americano. Quem quer apoiar essa histeria de “caça aos terroristas” deve saber que está apoiando a política do que existe de pior na direita, a que está encastelada nas sinistras agências do serviço secreto norte-americano e sionista.

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