Promovido pelo vereador carioca Rick Azevedo (PSOL), o chamado movimento pela jornada de trabalho 4×3 é, acima de tudo, uma ferramenta de autopromoção que também abre brechas para ser utilizado como um instrumento golpista contra o governo Lula. Sob a fachada de uma reivindicação popular — a redução da jornada de trabalho — esconde-se um projeto que ameaça colocar os trabalhadores em uma situação ainda pior, com mais trabalho, menos direitos e salários reduzidos. A propaganda dá à armadilha um aspecto operário e popular, mas o conteúdo revela intenções empresariais e uma estratégia política que pode facilmente impulsionar uma verdadeira onda golpista.
A proposta central, que parece defender uma redução da jornada semanal, na verdade deixa lacunas estratégicas, que podem ser exploradas para transformar a vida dos trabalhadores em um caos. Ao propor uma escala de quatro dias de trabalho por três de folga, totalizando 36 horas semanais, o projeto esbarra na matemática: com quatro dias de oito horas de trabalho, faltam quatro horas para atingir a carga prometida. Esse déficit abre espaço para políticas de banco de horas ou jornadas flexíveis, sempre em favor dos interesses patronais.
Mais grave ainda, o texto não garante a manutenção dos salários, criando o risco de redução nos rendimentos sob a justificativa de diminuição da carga horária. Outro ponto alarmante é a ausência de garantias quanto ao descanso no final de semana, tradicionalmente reivindicado pelos trabalhadores.
A proposta deixa margem para que empregadores escalem trabalhadores de maneira alternada ao longo da semana, acabando com a uniformidade do descanso e inviabilizando momentos de convivência familiar e comunitária, que, conforme o projeto, não seriam necessariamente nos finais de semana, quando muitas famílias operárias realizam suas atividades religiosas, por exemplo. O resultado disso é óbvio: maior fragmentação social e mais desgaste físico e emocional.
A ideia, no entanto, não é nova. Rick Azevedo trouxe para o Brasil o conceito do movimento Vida Além do Trabalho (VAT), inspirado em um movimento norte-americano chamado “4 dias por semana” (4 days a week, no original em inglês) e defendido abertamente por grandes monopólios imperialistas. É a velha fórmula de flexibilização do trabalho, disfarçada de modernização, mas que, no fim, beneficia apenas a burguesia. A destaque e os elogios a Azevedo em veículos como Exame e Folha de S.Paulo escancaram a natureza burguesa do projeto. Afinal, desde quando os porta-vozes do imperialismo se preocupam genuinamente com os trabalhadores?
O problema, no entanto, não é apenas a essência empresarial do VAT. Azevedo, além de registrar o movimento como propriedade privada — uma picaretagem sem precedentes na vida política brasileira —, tem usado sua visibilidade para atacar o PT e fomentar divisões dentro da esquerda. Em suas redes sociais, o obscuro e até outro dia desconhecido vereador se dedica a caluniar o governo, chamando-o de “neoliberal”, o que apenas favorece os setores mais reacionários da sociedade.
Suas ações repetem os mesmos métodos observados com o famigerado movimento “Não vai ter Copa”, liderado pelo atual deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP), quando seu partido e ONGs imperialistas criaram o terreno fértil para as mobilizações golpistas que culminaram no golpe contra a então presidenta petista, Dilma Rousseff.
Rick Azevedo é, sem dúvida, um oportunista político. Sua proposta de 4×3 não é apenas uma arapuca econômica para os trabalhadores, mas também uma peça em um jogo maior de desestabilização política.
Ao exigir manifestações apartidárias e sem bandeiras, ele repete o modelo que levou ao avanço da extrema direita em 2013. A expulsão das forças progressistas desses movimentos abre espaço para que os setores reacionários se apoderem das ruas e das reivindicações populares, transformando causas legítimas em armas contra o governo do PT.
O silêncio cúmplice ou a adesão de setores do PT a essa política revela uma miopia preocupante. Enquanto figuras como o ministro Luiz Marinho tentam apontar caminhos para a redução da jornada nas convenções coletivas e em diálogo com os sindicatos, o movimento VAT se posiciona de forma divisionista, sem qualquer preocupação real com os trabalhadores.
Os sindicatos e as organizações de trabalhadores precisam estar atentos. A verdadeira reivindicação deve ser por uma jornada de trabalho de 35 horas semanais, com cinco dias de trabalho, folga garantida nos finais de semana e sem redução de salários. Esse é o caminho que historicamente protege os trabalhadores e não a mera flexibilização proposta pelo movimento privado liderado por Azevedo, que, veladamente, favorece o capital.
Finalmente, Rick Azevedo deve ser tratado pela esquerda como o que realmente é: um picareta que utiliza o VAT como uma ferramenta privada (com registro industrial, inclusive) de autopromoção. Seu movimento não passa de uma manobra empresarial disfarçada de reivindicação popular, que, se não confrontado, pode se tornar um trampolim para a direita desestabilizar o governo e abrir caminho para retrocessos ainda maiores. Cabe à esquerda organizada denunciar essa armadilha e enfrentar manobras como essa, que não têm outro propósito além de enfraquecer as forças progressistas.