Um tribunal francês ordenou, nesta sexta-feira (10), a libertação do revolucionário libanês Georges Abdallah, preso na França desde 1984. Atualmente com 73 anos, Abdallah será libertado no dia 6 de dezembro, sob a condição de deixar o território francês e nunca mais retornar. Promotores “antiterrorismo” da França já anunciaram, no entanto, que irão recorrer da sentença. Em comunicado, os promotores alegaram que a decisão do tribunal “concedeu liberdade condicional a Georges Ibrahim Abdallah a partir de 6 de dezembro, sujeita à condição de que ele deixe o território francês e não retorne”.
Georges Abdallah, membro do movimento Facções Armadas Revolucionárias Libanesas (FARL), organização que reivindicou autoria de quatro ataques na França durante os anos 1980. O libanês é o mais antigo prisioneiro político da Europa.
Condenado em 1987, sob acusação de envolvimento no assassinato do adido militar norte-americano Charles Robert Ray e do diplomata israelense Yacov Barsimantov em 1982, Abdallah nunca reconheceu os crimes e acusou a Justiça francesa de utilizar artifícios para sustentar sua condeção. A sentença foi além do que os promotores pediram à época. A acusação solicitava 10 anos de prisão para o militante, porém a Justiça o condenou à prisão perpétua, o que foi classificado por seu advogado, Jacques Vergès, como “uma declaração de guerra”.
Mesmo elegível paraa liberdade condicional desde 1999, Abdallah teve seus pedidos sistematicamente negados. Em 2013, uma decisão autorizando sua libertação, condicionada à expulsão para o Líbano, foi bloqueada pelo então ministro do Interior francês, Manuel Valls.
Pressões internacionais e apoio à resistência
O caso de Georges Abdallah tem sido marcado por forte interferência política, particularmente dos Estados Unidos. Documentos vazados pelo sítio jornalístico Wikileaks revelaram que a então secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, pressionou autoridades francesas em 2013 para impedir sua libertação. Apesar disso, a decisão atual não requer autorização do governo francês, conforme explicou o advogado de Abdallah, Jean-Louis Chalanset, que descreveu o resultado como “uma vitória legal e política”.
Abdallah também recebeu amplo apoio de movimentos de esquerda, organizações de direitos humanos e figuras públicas. A escritora laureada com o Nobel de Literatura em 2022, Annie Ernaux, denunciou, em artigo publicado no jornal comunista L’Humanité, a detenção prolongada de Abdallah como uma “vergonha para a França”.
Após quatro décadas de cárcere, Georges Abdallah se tornou um símbolo da resistência palestina. Em mensagem no Dia dos Prisioneiros Palestinos, em abril deste ano, Abdallah destacou o papel dos presos políticos como espelho da luta do povo palestino contra a ocupação israelense. Ele denunciou as políticas genocidas da ditadura sionista, afirmando que “os heróis da luta revolucionária, especialmente aqueles que representam a vontade coletiva da Resistência, são os alvos preferenciais das políticas de extermínio”.
Na época, o militante da resistência islâmica disse que este dia também visa “encorajar as forças revolucionárias vibrantes e suas vanguardas resistentes a tomar todas as medidas necessárias para expressar de forma prática nossa determinação definitiva de libertar nossos camaradas das garras de seus carcereiros.”
Abdallah também chamou a atenção para a necessidade de mobilização internacional contra o genocídio palestino, que descreveu como “um crime que acontece à vista de todos, sem esconderijos, diante de centenas de milhões de pessoas em todo o mundo”.
A libertação de Georges Abdallah representa um importante avanço na luta pela liberdade dos presos políticos, sendo também uma confirmação do momento de ascensão da resistência palestina que deve ser enfrentada, na luta contra a opressão imperialista e sionista.