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Polêmica

Suicídio e fogos de artifício: precisamos de mais repressão?

Quem será mais perigoso para o dito estado democrático de direito: o finado “Tiu França” ou lavajatista Paulo Gonet?

Os fogos de artifício da capital federal, culminados com um suicídio em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF), despertaram, novamente, as tendências repressivas da esquerda que é incapaz de pensar por si própria.

Segundo Jeferson Miola, colunista do Brasil247, o fato do procurador-geral da República Paulo Gonet não agir com mais rapidez e dureza diante dos processos envolvendo Jair Bolsonaro é um dos fatores que deram vazão ao que a imprensa capitalista chama de “terrorismo” o ato praticado por Francisco Luiz nesta quarta-feira (13).

Segundo Miola, “há vários meses Bolsonaro já poderia estar respondendo a ações penais devido à participação em vários crimes, o mais grave deles a tentativa de abolição do Estado de Direito. Mas isso não aconteceu, no entanto, por escolha direta e pessoal do PGR Paulo Gonet, que decidiu adiar seu pronunciamento sobre os inquéritos da Polícia Federal para depois da eleição”.

O problema é que a existência de processos como estes contra Jair Bolsonaro e outros, como os referentes à manifestação de janeiro de 2023, são justamente o que eleva a indignação dos bolsonaristas. Aumentar processos e a repressão vai resultar em mais revolta dos bolsonaristas, no seu efeito mais leve. O efeito mais grave dessa repressão é aumentar a base social e popular do bolsonarismo.

Prossegue o colunista: “Gonet agiu politicamente, apesar da robustez e da consistência das provas colecionadas nos inquéritos. Esta demora do PGR deixou o país ainda mais exposto aos riscos da violência política e das práticas terroristas promovidas pelo bolsonarismo radicalizado”.

E mais: “deixado livre, leve e solto por Gonet, Bolsonaro percorreu mais de uma centena de cidades do país entre março e outubro fazendo campanha eleitoral, incitando violência política e espraiando ataques violentos contra o Supremo Tribunal Federal e seus ministros, especialmente Alexandre de Moraes”.

Conforme já dito, a repressão, a prisão de pessoas, não serve para conter uma determinada política. Na verdade, com a repressão, a tendência é o aumento da simpatia das pessoas pela pessoa perseguida, pois, como se sabe, ninguém gosta de juiz e todo mundo sabe como e para quem funciona a cadeia. Aparentemente, a eleição de Donald Trump não deixou nenhuma lição para a esquerda brasileira.

Miola afirma que “Francisco Wanderley Luiz é um bolsonarista radicalizado. Este terrorista que se auto-explodiu no atentado ao STF é um arquétipo exemplar do bolsonarista radicalizado: participou dos acampamentos criminosos nos quartéis do Exército, sabia manusear explosivos, armas e munições, tinha familiaridade com CACs e incorporava a gramática messiânica do bolsonarismo e do fundamentalismo religioso”.

Aqui há uma série de colocações histéricas, que entrega a oposição sentimental ao bolsonarismo e a indisposição de se debater política com qualquer pessoa que seja. O máximo que se pode dizer desse Francisco é que era uma pessoa perturbada psicologicamente. O senhor se matou colocando um de seus explosivos debaixo de sua cabeça, já deitado, intencionalmente, em uma forma horrenda de tirar a própria vida. Se tinha familiaridade com CAC (caçador ou colecionador de arma, etc), ou mesmo se possuía uma arma, na verdade, o que ele fez ontem diz mais sobre seu estado psicológico que sobre suas intenções em si.

Acampar diante do quartel do Exército também não é crime. Saber manusear fogos de artifício também não é crime. E se Francisco incorporou a “gramática messiânica do bolsonarismo” ao se matar dizendo que foi em defesa da liberdade, o colunista incorporou a “gramática fascista” da Rede Globo. Qual será pior?

Miola cita o próprio ex-presidente: “Bolsonaro só se pronunciou sobre o ataque terrorista quase 14 horas depois. Mas, ao invés de condenar categoricamente o crime e o criminoso, caracterizou o episódio como ‘um fato isolado, e, ao que tudo indica, causado por perturbações na saúde mental da pessoa que, infelizmente, acabou falecendo’”.

Suicídio não é crime. Explodir o próprio carro, com fogos de artifício, menos ainda. Soltar fogos de artifício em direção ao STF pode até ser algum tipo de crime, mas, sem ferir ninguém, não passa de uma medida teatral, e não quer dizer absolutamente nada. 

Miola afirma que Bolsonaro, em razão de seu pronunciamento, quer afastar a sua responsabilidade pelo ato de ontem. Mas, efetivamente, Bolsonaro ou qualquer outra pessoa, até o momento, não têm qualquer responsabilidade pelo que ocorreu ontem, só quem o fez. Mais uma vez, Miola importa o fascismo da Globo e do próprio Alexandre de Moraes para recriar um crime famoso: o crime de associação e a infeliz teoria do domínio do fato, que, curiosamente, serviu para prender os dirigentes do PT.

“Francisco Wanderley pertencia ao partido do Bolsonaro, o PL, e agiu com fanatismo e auto-martírio inflamado pela retórica odiosa e salvacionista propagada por Bolsonaro de norte a sul do Brasil”. Ou seja, Miola acredita que não só Bolsonaro deve ser preso, mas todo o Partido Liberal (PL).

“A tolerância de Gonet com a radicalização bolsonarista naturaliza e encoraja atitudes graves, como este ataque ao STF. Ele chegou a classificar o atentado terrorista singelamente como um ‘desatino’”. Mal sabe Miola que a tolerância com Jair Bolsonaro é justamente para não aumentar a popularidade e as ações dos bolsonaristas. Se Miola quer menos pessoas se matando na frente do STF, deveria pedir a anistia para todos os presos políticos da corte, em especial os que realizaram a manifestação de janeiro de 2023.

É possível realizar outra reflexão. Já foi muito comum entre a esquerda a ideia de que é preciso pôr abaixo a Praça dos Três Poderes em Brasília (DF). Isso porque quase toda a maldade que povo brasileiro sofre parte de lá. Ideia muito comum, em letras de música, de rock, em capas de disco, explodir o centro do poder político era tema corriqueiro em qualquer roda de conversa entre pessoas de esquerda. As coisas mudaram.

Agora, segundo Miola, é preciso acelerar os processos de repressão e as prisões, posto que a demora “estimula a ação de bolsonaristas radicalizados e deixa a democracia brasileira se equilibrando perigosamente na beira do abismo fascista”, sem saber ele, Miola, que o apelo dele é justamente para aprofundar as características fascistas do regime. 

Isso sem mencionar que o destinatário dos apelos de Miola é ninguém menos ninguém mais que Paulo Gonet. O homem da Lava Jato que, ninguém sabe a razão, está na Procuradoria-Geral da República, e já recorreu ao STF contra a anulação das condenações de José Dirceu nessa mesma operação. Quem será mais perigoso para o dito estado democrático de direito: o finado “Tiu França” ou lavajatista Paulo Gonet?

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