A coalizão do governo da Alemanha desmoronou, isolando o chanceler do Partido Social-Democrata, Olaf Scholz, à frente de um governo minoritário, composto apenas pelo seu partido e o Partido Verde. Juntos, esses dois partidos têm 324 assentos dos 736 do parlamento alemão. São precisos 368 lugares no Bundestag para conquistar a maioria.
A garantia ao governo era o Partido Liberal Democrático (FDP, na sigla em alemão). O partido de direita, com 92 deputados, garantia à coalizão 416 dos 368 necessários para a maioria. No entanto, o partido direitista deixou o governo após a demissão de seu líder, Christian Lindner, do Ministério das Finanças.
Lindner era o responsável pela política neoliberal e de austeridade realizada pelo governo imperialista, que se aprofundou ainda mais após o início da operação militar especial russa na Ucrânia. A demissão do ministro ocorreu após negociações fracassadas na noite de quarta-feira (6). Em resposta, o líder do grupo parlamentar do FDP, Christian Durr, anunciou que o partido está retirando seus ministros do governo de Scholz, encerrando formalmente a coalizão.
O Partido Verde, no entanto, decidiu se manter no governo minoritário e lamentou da decisão do FDP. O vice-chanceler e ministro da Economia, Robert Habeck, em um comunicado assinado com a ministra das Relações Exteriores, Annalena Baerbock, afirmou que: “para nós, isso parece errado e inadequado nesta noite — quase trágico em um dia como este, quando a Alemanha precisa mostrar unidade e capacidade de agir na Europa”. “Hoje não é um bom dia para a Alemanha e também não é um bom dia para a Europa”, acrescentou Baerbock.
A declaração sobre a importância da Alemanha e da União Europeia se relaciona com a eleição de Donald Trump como novo presidente dos Estados Unidos. Ao contrário do Partido Social-Democrata alemão e do governo Scholz, o novo presidente norte-americano não faz parte do setor majoritário do bloco imperialista — representando, portanto, uma instabilidade para a atual política unificada desse bloco principal.
Trump, por exemplo, afirmou que pretende acabar com o apoio dos EUA à guerra contra a Rússia na Ucrânia, que tem — assim como o patrocínio promovido por “Israel” na Palestina — esgotado os cofres dos países imperialistas, prejudicando setores da burguesia destes países. Se ele fará ou até mesmo conseguirá fazer isso ou não, é uma incógnita. Mas fato é que ele é um empecilho para a política majoritária do imperialismo.
Scholz, por outro lado, é um ferrenho defensor da manutenção da guerra contra os russos, do financiamento do governo e das milícias nazistas da Ucrânia — ao custo da própria economia alemã, em recessão. Antes da guerra, os russos eram os principais vendedores de gás para os alemães. Mas o governo Scholz, jogando uma bomba no país, decidiu apoiar os ucranianos e romper relações com os russos, aumentando a inflação e realizando uma política de completa austeridade contra o povo alemão. Tudo isso a reboque dos Estados Unidos.
Lindner foi demitido depois de supostamente propor eleições antecipadas, quando os líderes dos três partidos da coalizão mais uma vez não conseguiram chegar a um consenso sobre como lidar com o déficit de bilhões de euros no orçamento do próximo ano. Scholz denunciou que “frequentemente, o ministro Lindner bloqueou leis de maneira inadequada”, acusando-o de se recusar a flexibilizar as regras de gastos que, entre outras coisas, permitiriam mais ajuda à Ucrânia.
Lindner, por sua vez, acusou Scholz de ignorar as reais “preocupações econômicas” do povo alemão e de “há muito tempo” não reconhecer “a necessidade de um novo despertar econômico em nosso país”.
Diante da crise, Scholz defendeu uma união com o principal partido da oposição, os Democratas Cristãos, desnudando ainda mais a total falta de divergência entre os dois principais partidos do imperialismo alemão. O primeiro-ministro afirmou que pretende entrar em contato com o líder da Democracia Cristã, Friedrich Merz, para oferecer-lhe a “oportunidade” de trabalhar com seu governo, acrescentando que, à luz da eleição nos EUA, isso é “talvez mais urgente do que nunca”.
Aproveitando-se da impopularidade do governo, o partido da extrema direita, a Alternativa para a Alemanha (AfD, na sigla em alemão), celebrou o colapso da coalizão como uma “libertação” há muito esperada para a Alemanha. “Após meses de paralisia e inúmeras sessões de terapia autocentradas, agora precisamos urgentemente de um reinício político fundamental para tirar a economia e o país como um todo da grave crise em que foram mergulhados pelas políticas ideológicas do SPD, Verdes e FDP”, afirmaram os líderes parlamentares da AfD, Alice Weidel e Tino Chrupalla, no X (antigo Twitter).
Scholz anunciou que o Bundestag realizará uma votação de confiança em 15 de janeiro e, de acordo com a constituição, se o chanceler não conseguir apoio suficiente, ele poderá formalmente solicitar ao presidente a dissolução da câmara e convocar novas eleições dentro de 60 dias. Isso pode adiantar as eleições parlamentares da Alemanha, previstas para março de 2025.
A crise do governo alemão reflete, ao nível internacional, a crise da própria política do imperialismo, que está perdendo as guerras na Ucrânia e na Palestina. E, ao nível nacional, o fracasso da política neoliberal, que já derrubou inúmeros governos na região e fez a extrema direita mundial crescer no mundo inteiro.