O jornalista Miguel do Rosário publicou no seu blog O Cafezinho denúncia sobre a atuação abertamente anti-BRICS e anti-China de figuras importantes da pasta de relações exteriores do governo brasileiro. O alerta é feito com a ressalva de que o jornalista ainda deposita “ardentes esperanças” no governo. No entanto, o cenário é bastante preocupante, com representantes do governo atuando em flagrante contradição com a política defendida publicamente pelo presidente.
Deixando completamente de lado o vexame brasileiro em relação aos nossos vizinhos venezuelanos, Rosário foca na atuação praticamente militante de figuras do alto escalão do Itamaraty e do Ministério das Relações Exteriores em seu antagonismo com a China e com os BRICS em geral. Uma postura nitidamente pró-imperialista e que prejudica significativamente os interesses econômicos do Brasil, especialmente diante da vacilação do próprio Lula e seu assessor para assuntos internacionais, Celso Amorim.
Rosário abordou o próprio Amorim sobre a sinalização dada em entrevista ao jornal O Globo de que o Brasil não iria aderir à Nova Rota da Seda ou Iniciativa do Cinturão e da Rota. O assessor de Lula justificou que o Brasil procura se aproximar do gigantesco projeto de investimentos chinês de maneira menos formal, no que chamou de “sinergia”. Haddad também teria usado o mesmo termo em conversa com o jornalista, tendo declarado cinicamente: “não entendo muito bem essa ideia do Brasil aderir ao projeto de outro país”.
Obviamente, toda essa ambiguidade gerou, digamos, um desconforto com os chineses. Mas o cenário se mostra ainda pior ao analisar o posicionamento de outros quadros importantes da diplomacia brasileira. O caso mais notório é o do embaixador Eduardo Paes Saboia, secretário do Itamaraty para Ásia e Pacífico, que tem uma longa ficha de serviços prestados ao imperialismo. Ocupando o espaço de principal negociador brasileiro nos BRICS, de acordo com apuração de O Cafezinho, o embaixador “fala abertamente contra os BRICS com seus interlocutores”.
Como Rosário explicita, “o representante mais importante do Brasil nos BRICS e que também é o representante mais importante do Brasil na China é contra os BRICS e a China”. Não por acaso, Saboia foi nomeado por Bolsonaro. O que causa espanto no jornalista e em qualquer pessoa que apoiou a candidatura de Lula é que Saboia permaneça no cargo sabotando a diplomacia brasileira. A um custo político e econômico muito caro.
Rosário cita que a embaixadora Maria Laura da Rocha, secretária geral do Ministério das Relações Exteriores, teria feito lobby junto aos diversos ministérios do governo para defender a não adesão do Brasil à Nova Rota da Seda. Ou seja, assim como Saboia, atuando na contramão da política defendida pelo presidente Lula, e sabotando o governo por dentro. Rosário aponta ainda que a secretária de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, Tatiana Rosito, também seria uma figura “hostil à adesão do Brasil ao projeto da Rota da Seda”. Marcos Galvão, embaixador do Brasil na China, também é apontado por Rosário como alguém que se opõe à integração do Brasil no projeto chinês, sendo “um quadro conservador, com poucas luzes sobre as grandes oportunidades que se abririam para o Brasil, caso optasse por ampliar a parceria com o gigante asiático”.
Essas contradições dentro do governo tendem a custar um preço altíssimo ao próprio Lula, como aponta Rosário:
“Uma adesão corajosa do Brasil à Iniciativa do Cinturão e da Rota da Seda poderia dar a marca que hoje falta ao governo Lula. É a oportunidade do século, pois a China tem exatamente aquilo de que precisamos nesse momento: recursos financeiros em abundância, desenvolvimento científico e tecnológico em todas as áreas, uma classe média que deve chegar a 800 milhões de pessoas em alguns anos, para citar apenas alguns”.
O jornalista cita uma série de possibilidades de investimentos de infraestrutura de grande porte que só poderiam ser viabilizados no contexto da Nova Rota da Seda, pontuando que nenhum dos projetos citados poderia vir dos Estados Unidos ou da Europa, que são os maiores interessados na não adesão do Brasil. Como alerta ao governo, sugere até a possibilidade de uma vitória eleitoral da direita em 2026 e até da adesão de um futuro governo de direita à Nova Rota da Seda. Algo que seria profundamente desmoralizante para a figura de Lula.