O psolista Guilherme Boulos, após a derrota acachapante nas eleições de São Paulo, mais uma vez se pronunciou, demonstrando a sua política direitista. Apesar do suposto radicalismo com declarações como “fomos para a defensiva, e agora a extrema está ganhando a disputa cultural por W.O”, o que seria correta, o discurso de Boulos mostra a tendência reacionária dentro da esquerda. Vale destacar que ele foi feito em uma entrevista à Folha de São Paulo, o principal órgão da imprensa burguesa que tenta influenciar a esquerda.
A colocação de Boulos sobre a principal disputa política no Brasil, Lula contra Bolsonaro, mostra essa tendência. Ele afirma: “quem salvou o país da extrema-direita em 2022, no fio da navalha, foi o Lula, porque ele é a maior liderança popular da história do Brasil. E só quem pode fazer isso novamente em 2026 é ele”.
Aqui começa o erro. Sim, foi Lula, mas não apenas ele. Foi o movimento de luta dos trabalhadores que derrotou a Lava Jata, conquistou a liberdade de Lula, seus direitos políticos e depois conseguiu derrotar Bolsonaro.
A força desse movimento era que os trabalhadores acreditavam que Lula reverteria as políticas do golpe, algo que a essa altura do governo parece que não acontecerá. Ou seja, sem luta e sem essa perspectiva essa vitória de Lula não está garantida. Boulos então afirma que defende uma política que está muito longe daquela política que ele realiza na prática:
“Um sonho reúne um segmento que vai do [presidente do PSD, Gilberto] Kassab ao João Campos [prefeito reeleito de Recife pelo PSB], que é o de uma americanização da política brasileira, com democratas contra republicanos [referindo-se aos dois principais partidos dos EUA]. Centro contra a extrema direita. Ou seja, a utopia de uma sociedade sem esquerda. Setores do PT, bem minoritários, afirmam que a esquerda foi derrotada porque não cedeu o suficiente em suas posições. Não virou centro”.
Aqui a farsa é total. É fato que a burguesia quer sempre criar dois blocos que ela controla, ao estilo Democratas e Republicanos dos EUA. Boulos, porém, não defende a criação de uma alternativa. Essa crítica ao sistema bipartidário dos EUA deve concluir que é necessário criar uma alternativa real dos trabalhadores que não só seja de esquerda, mas que não esteja alinhado com os partidos considerados democratas. O PT está longe de fazer isso, o PSOL mais longe ainda.
O PSOL realizou uma federação com o PV e com a Rede, partidos democratas no sentido mais norte-americano da palavra, são ligados diretamente as ONGs imperialistas. Boulos fez questão de levar Alckmin, do PSB, para sua campanha, também quis aliança com Tabata Amaral.
Em toda a esquerda, o PSOL é o partido mais alinhado com os democratas dos EUA. Ou seja, essa crítica ao sistema norte-americano é um absurdo vindo de Boulos. Por sua vez, o PT é centrista, às vezes se choca com os democratas e às vezes, se alia, como acontece nesse momento e é por isso que o governo Lula vai tão mal. A crítica que ele faz ao PT também não é real.
Ele diz que setores minoritários do partido afirmam isso. Nas bases isso pode ser uma realidade, mas é uma política muito firme da direção que é preciso fortalecer a chamada “frente ampla”. É a política do PT e do governo Lula, que aderiu à tese da “frente democrática internacional”, que agora não incluirá o governo dos EUA.
Em resumo, é preciso romper com esses setores da direita “democrática”. O grande sucesso do bolsonarismo nas eleições é justamente porque ele fez isso.
Boulos, apesar de tentar parecer muito esquerdista em seu comentário, deixa escapar a sua política em um momento da entrevista. Ele diz “é claro que a frente ampla foi necessária, e eu defendo a frente mais ampla possível para reeleger o Lula em 2026”. Este é o cerne da questão.
Então chega o ápice do direitismo de Boulos, que diz que: “o risco que a gente vive hoje é o de o Brasil se tornar um Irã, no sentido cultural e social, com o domínio de um fundamentalismo monolítico”. Uma calúnia absurda contra o Irã, o país que mais apoia os palestinos contra o genocídio, mas que Boulos considera bolsonarista.
A verdade é que o avanço da extrema direita ameaça transformar o Brasil em “Israel”, mas os trabalhadores brasileiros não seriam os colonos em seus condomínios chiques. Estariam em uma situação análoga à dos palestinos.
Ele termina a entrevista com o comentário tradicional da direita, o problema é o crime: “e eu acrescento: a entrada do crime organizado e da milícia [na política] nos leva à possibilidade de um futuro muito difícil, de uma mistura de Irã com México, historicamente marcado pelo crime, por cartéis e por assassinatos”. Aqui Boulos já adere de cabeça ao bolsonarismo. O problema do Brasil não seriam as petroleiras estrangeiras, os bancos, o imperialismo, enfim, que saqueia o País, mas “o crime”.
Fala cinicamente que a esquerda deveria ser radical, não faz nenhuma proposta real, defende a frente ampla, ataca o Irã e defende a “luta contra o crime”. Tirando o seu faz de conta radical, o psolista é mais um reacionário da esquerda pequeno-burguesa. Fala contra ir ao centro, mas defende a política da própria direita.