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Eleições nos EUA

Perseguição política tornou Trump ainda mais popular

Chega a ser infantil a ideia de que o Judiciário poderia ter impedido o crescimento do trumpismo

Não por acaso, a vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais norte-americanas vem sendo utilizada pela esquerda pequeno-burguesa brasileira para justificar a sua política oportunista e capituladora diante do imperialismo. No artigo Trump, sua vitória é filha da impunidade. O Brasil não punirá Bolsonaro?, publicado pelo Brasil 247, Arnóbio Rocha apresenta a tese infantil de que Trump só teria sido eleito por causa da inação do Judiciário dos Estados Unidos. Diz ele:

“No texto tratando da vitória espetacular de Trump, disse que boa parte dela é fruto da impunidade, da falha do sistema de permitir ao golpista Trump se candidatar. Aliás, em ser candidato já simbolizava que a democracia era incapaz de punir seus crimes, epe [sic] de criminoso, virou vítima do sistema.”

Antes de tudo, é preciso colocar o debate de maneira concreta. Impedir que Trump fosse candidato nos Estados Unidos implicaria em algo absolutamente inédito. Na história dos Estados Unidos, nunca houve um caso em que um candidato à presidência tenha sido formalmente impedido de concorrer por motivos legais, como condenações criminais. A Constituição dos EUA estabelece poucos requisitos para a elegibilidade presidencial: o candidato deve ser um cidadão nato, ter pelo menos 35 anos de idade e residir nos Estados Unidos por pelo menos 14 anos – requisitos esses que Trump cumpre.

Se a esperança da esquerda era derrotar o seu inimigo político por meio de algo que não está previsto no regime jurídico, já se tratava de uma luta fadada ao fracasso. Já diz muito sobre os métodos da esquerda pequeno-burguesa: não importa a eficácia do método, basta que haja uma história que possa enganar algum trouxa. O caminho das ilusões é necessariamente o caminho da derrota.

Dito isto, cabe também analisar o que Rocha estava de fato propondo. Para ele, a direita deveria ser derrubada “no tapetão”, por meio da cassação de seus direitos políticos. Isto é, por meio de medidas de exceção.

Essa concepção, além de revelar uma total covardia política, de quem não se dispõe a lutar de fato contra a direita, mas apenas se esconde atrás do regime político, também revela uma política profundamente direitista. Uma eventual – embora praticamente impossível – cassação de Trump poderia ser vista superficialmente como uma vitória da esquerda porque um inimigo seu estaria fora do páreo. Concretamente, no entanto, seria uma grande derrota para a esquerda, uma vez que um inimigo muito mais poderoso, que é o Estado norte-americano, teria criado condições para cassar qualquer candidatura por motivos políticos.

Por fim, Rocha ignora que, aparte de todas as questões de princípios, a campanha para que Trump fosse preso ou cassado apenas fortaleceria a extrema direita politicamente. Nenhuma liderança política na história teve a sua capacidade de mobilização destruída por causa de uma medida judicial. Pelo contrário: uma vez que o Judiciário é visto como inimigo do povo, aqueles perseguidos pelo Judiciário acabam sendo vistos como mártires da luta contra o “sistema”.

Isso foi visto a cada momento das eleições norte-americanas. A condenação de Trump e cada nova acusação eram como gasolina para a fogueira de sua campanha. Cada medida policial ou judicial desfavorável fazia crescer o seu número de contribuintes e apoiadores. Por fim, as tentativas de assassinato radicalizaram ainda mais a sua base.

Ignorando tudo isso, Rocha diz: “o golpismo do Capitólio foi premiado. O golpismo de 8 de janeiro também será? (…) Além dessa espera, há uma visão tosca de que Bolsonaro é o adversário ideal, ouço por ali, por aqui. Isso repete uma ideia (errada) e recorrente de marqueteitos [sic], aprendizes de feiticeiros, a mesma tática eleitoral. (…) Quando o Brasil agirá contra o Bolsonaro? A eleição de Trump criará dificuldades para ir em frente na denúncia e processo em face de Bolsonaro e nos artífices, financiadores e coniventes da tentativa de golpe? A resposta dessas questões serão cruciais para o processo eleitoral de 2026. Quem defende a democracia e o Estado de Direito não pode errar ou falhar, mais uma vez”.

Rocha erra, em primeiro lugar, por achar que o Judiciário brasileiro não prendeu o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) até agora por uma questão de “estratégia”. Bolsonaro segue solto porque o regime político não quer o prender. Bolsonaro é visto como uma “carta na manga” da burguesia – carta essa que sempre poderá ser lançada à mesa caso seja necessário para impedir uma vitória da esquerda.

E erra mais ainda em acreditar que atropelar o Estado de direito e prender Bolsonaro a qualquer custo seria a melhor maneira de impedir o crescimento da extrema direita. Afinal, segundo as atuais projeções, Lula perderia as eleições de 2026, mesmo se Bolsonaro não fosse candidato.

O apelo para a prisão dos líderes da extrema direita apenas oculta o fato de que a esquerda se nega a partir para uma política de enfrentamento contra os seus inimigos. O governo Lula é um exemplo claro disso. Em vez de defender a Venezuela, romper com a política fiscal dos banqueiros e aumentar o salário mínimo, o governo vem se mantendo refém de seus inimigos. Com essa política, será incapaz de mobilizar os trabalhadores contra a extrema direita.

É por isso que a tese de Rocha é, acima de tudo, uma obra do oportunismo. No final das contas, toda a histeria de que “tem que prender” Trump e Bolsonaro é apenas a forma dele dizer: a luta contra a extrema direita não deve ser travada pela esquerda, mas sim pleo regime político. É uma política de colocar a esquerda a reboque do imperialismo.

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