Na última quinta-feira (31), a Folha de S. Paulo realizou entrevista com o presidente do Bradesco, Marcelo Noronha, que afirmou estar otimista sobre a proposta que o ministro da Economia, Fernando Haddad, deve apresentar para que o limite global para despesas obrigatórias do governo não ultrapasse o índice estabelecido pelo “arcabouço fiscal”, ou seja, com crescimento máximo de 2,5% acima da inflação anual.
Haddad estaria estudando um mecanismo para, caso as despesas obrigatórias ultrapassem o limite de 2,5% acima da inflação, uma série de “gatilhos” para contenção de gastos seja acionada. Na entrevista do dia anterior, o ministro teria declarado que parte das medidas invariavelmente dependeria da aprovação de uma PEC (proposta de emenda à Constituição).
O que isso quer dizer? Significa que todas as despesas fundamentais com saúde, educação e infraestrutura não podem ultrapassar esse limite. Outro impacto importante seria sobre a previdência social, cujos beneficiários (aposentados e pensionistas) não poderiam ter aumento superior a 2,5%. Caso o governo mantenha o aumento dos valores do benefício vinculado ao do salário-mínimo, os trabalhadores também ficariam submetidos a este índice. Por isso, o governo estuda uma forma de garantir o aumento de algumas despesas. Isso vai funcionar? Evidentemente que não.
A popularidade do presidente Lula tem sofrido uma queda bastante significativa, muito em virtude da política fiscal de Haddad. Medidas impopulares como a taxação as compras de importados na internet, a aprovação da reforma tributária que atinge os trabalhadores que ganham acima de dois salários-mínimos e o reajuste zero para servidores federais estão minando o apoio ao governo. Nas eleições, Lula havia prometido isentar de imposto de renda salário de até 5 mil reais e o incerto projeto de taxação das fortunas também sofreu uma derrota.
Mas, para Haddad, o que é a insatisfação quando os banqueiros estão radiantes? O executivo do Bradesco disse que o mercado bancário “está mais otimista, senão a gente não tinha visto o crescimento de 9,9% na carteira de crédito, que o Banco Central demonstrou ontem, com o crédito à pessoa física crescendo mais.”
Noronha considera que mesmo num “cenário em que o câmbio fica um pouquinho mais apreciado, com um nível de desemprego hoje, de 6,7%, crescimento real de renda, de mais de 6% neste ano. Por isso, está bom na pessoa física. Estamos capturando em linhas mais seguras.
E como não poderia estar bom? Enquanto 54,3 milhões de brasileiros possuem renda per capita de R$ 218, o Bradesco, por sua vez, anunciou um lucro líquido de R$ 5,1 bilhões no terceiro semestre de 2024, refletindo um aumento de 13,1% em relação ao mesmo período do ano passado e 10,8% em relação ao semestre anterior. Isso significa que, não somente o Bradesco, mas os banqueiros baterão mais um recorde de lucros ao final do ano. A despesa total com Bolsa Família é da ordem R$ 14 bilhões, já os banqueiros lucraram R$ 104 bilhões líquidos em 2023.
A população se endivida, não por conta do financiamento de veículos novos ou imóveis, como nos governos petistas anteriores, mas por conta de outras dívidas, para pagar tratamento médico, reparação domésticas, de veículos para locomoção e até mesmo para comer ou pagar água e luz. É neste contexto que o Banco Central anunciou que as operações de crédito atingiram a marca de R$ 6,2 trilhões em setembro.
Este é o resultado da política do “teto de gastos” aprovado no governo golpista de Michel Temer, que impõe limites para investir naquilo que é essencial para a população e nenhum limite para pagamento de juros de dívida pública. É também resultado do controle dos banqueiros sobre o Banco Central, aprovado no governo golpista de Jair Bolsonaro, que mantém a taxa Selic e o valor do dólar nas alturas para destruir a economia nacional e as condições de vida da população em favor do lucro.
O governo Lula foi eleito justamente para superar esta política econômica, a população esteve nas ruas por salários melhores e por emprego, contra a parasitagem dos banqueiros imposta pelo golpe. A continuidade desta política pode custar muito caro para o governo Lula, que somente pode sobreviver amparado na mobilização popular e na defesa dos seus interesses contra a farra dos banqueiros.