Recentemente, a Venezuela tem sido um ponto de tensões políticas e diplomáticas na América Latina. No dia 31 de outubro de 2024, a Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América-Tratado de Comércio dos Povos (ALBA-TCP) emitiu uma declaração exigindo que o Brasil respeite a autodeterminação da Venezuela. A declaração foi uma resposta ao governo brasileiro, que se recusa a reconhecer a legitimidade do governo de Nicolás Maduro, ao mesmo tempo que aceita outros regimes considerados problemáticos. Segundo a ALBA-TCP, “a posição do governo brasileiro de não reconhecer a legítima representação da Venezuela é uma violação dos princípios de autodeterminação e não intervenção nos assuntos internos de um país soberano”.
Essa exigência da ALBA-TCP é um sentimento crescente entre aliados da Venezuela, que veem as ações do Brasil como uma forma de subserviência ao imperialismo norte-americano. O governo brasileiro, sob a liderança de Lula, tem sido criticado por sua abordagem, que muitos consideram como uma capitulação às pressões externas, especialmente dos Estados Unidos.
Outro ponto importante que merece destaque é a premiação feita pelo Parlamento Europeu em 26 de outubro de 2024, onde foram homenageados golpistas venezuelanos, como Corina Machado e Juan González Urrutia. Esse evento é um reconhecimento “da luta pela democracia e pelos direitos humanos na Venezuela”, segundo uma declaração do Parlamento Europeu. Contudo, essa homenagem é uma tentativa de deslegitimar o governo de Maduro, aumentando o golpismo.
O governo brasileiro, ao não reconhecer o governo Maduro, cria um paradoxo interessante. Como apontou Rui Costa Pimenta, “o Brasil reconhece governos que, de várias maneiras, também não têm a legitimidade que se espera, enquanto nega a legitimidade da Venezuela, que é um pilar de resistência ao imperialismo na região”. Essa recusa é uma escolha política que desconsidera toda luta da Venezuela e a sequência de golpes que o país enfrenta.
Por outro lado, o discurso em torno da Venezuela também revela um fenômeno preocupante na política interna brasileira. Existem vozes de esquerda que, em sua crítica ao governo de Maduro, estão alinhadas com a direita no Brasil. Isso mostra que parte da esquerda já é bolsonarista em sua abordagem à Venezuela, focando apenas em casos isolados e ignorando a gravidade da situação como um todo.
A situação na Venezuela é emblemática de uma luta mais ampla contra o imperialismo e as interferências externas. O discurso que legitima ações contra Maduro muitas vezes ignora o fato de que, mesmo em circunstâncias de conflito e crise, há um elemento de soberania nacional que deve ser respeitado. A crítica à política do governo Lula em relação à Venezuela não se restringe a questões eleitorais, mas se insere em um contexto de resistência contra a opressão imperialista.
Em suma, a resistência da Venezuela, mesmo frente às dificuldades e acusações de fraude eleitoral, deve ser compreendida como parte de uma luta maior pela autodeterminação. Não se pode reduzir a questão venezuelana a meros procedimentos eleitorais, pois estamos diante de um conflito que envolve a sobrevivência de um país sob o jugo do imperialismo. A postura do Brasil e de outros países que se colocam como defensores da “democracia” deve ser revisitada, a fim de que as verdadeiras causas e realidades da luta venezuelana sejam levadas em consideração.