Os protestos violentos que eclodiram no Reino Unido em agosto deste ano não surgiram espontaneamente, nem foram resultado de um ressentimento popular sem direcionamento. Segundo uma denúncia detalhada publicada por David Miller no The Grayzone, esses levantes — dominados por manifestações anti-muçulmanas e anti-imigração — foram, em grande parte, impulsionados por uma rede sionista cujo objetivo é desviar o ódio das massas para os imigrantes muçulmanos.
A figura central desse espetáculo de intolerância é Tommy Robinson, agitador autoproclamado do “contra-jihadismo” e um dos maiores beneficiários desse aparato. Mas quem pensa que Robinson é apenas um personagem inglês marginal, natural desse tipo de mobilização, engana-se. Robinson, cujo nome real é Stephen Yaxley-Lennon, tem um histórico de laços financeiros e ideológicos com o lobby sionista, que o vê como um “agente do caos” ideal para amplificar a política de ódio aos muçulmanos e ao povo árabe.
No artigo de Miller, fica claro que Robinson não passa de um fantoche em um esquema muito maior, iniciado nos anos 1980 por ninguém menos que o então em ascensão político israelense Benjamin Netanyahu, responsável por popularizar o termo “terrorismo islâmico” como forma de justificar as investidas militares da ditadura sionista. Na década de 2000, o lobby sionista se intensificou, articulando a formação de grupos de extrema direita europeus, com destaque para a English Defence League (EDL, “Liga para Defesa Inglesa” em tradução literal), fundada sob uma estratégia claramente delineada de ataque aos muçulmanos na Europa.
Miller descreve como esse plano foi delineado no chamado “Counterjihad Summit” (Encontro da Contrajihad, em português) de 2007, onde os sionistas definiram “as bases de uma organização política transnacional dedicada a combater a influência muçulmana” no continente europeu. As conexões diretas com o aparato sionista são notórias e não deixam dúvidas sobre o financiamento e a logística por trás da empreitada.
Nas palavras de Miller: “O Estado de Israel é profundamente implicado na cruzada para atacar muçulmanos por toda a Europa”. Um dos episódios mais simbólicos dessa conexão é a migração de membros do Partido Nacional Britânico (BNP) para a EDL, em que as manifestações fascistas, já impregnadas de ódio racial, passaram a incluir bandeiras de “Israel”, demonstrando uma nova direção nos esforços da extrema direita.
Como destaca Miller, esse movimento não foi “natural”, mas orquestrado: o objetivo era redirecionar o ressentimento da classe trabalhadora europeia contra a crise, direcionando-a aos imigrantes muçulmanos para benefício da política sionista. Não é mera coincidência que Robinson tenha sido financiado por figuras centrais do sionismo internacional, como Alan Ayling, um cristão evangélico fervoroso, e Christine Brim, então vice-presidente da think tank sionista norte-americana Center for Security Policy. Essa “rede do ódio” recebe apoio contínuo do imperialismo, que deseja ver o conflito com os muçulmanos se espalhar por toda a Europa, tudo sob o pretexto de uma defesa “contra o terrorismo islâmico”.
As palavras de Douglas Murray, agitador sionista influente no Reino Unido, refletem o verdadeiro objetivo dessas ações: “tornar a vida mais difícil para os muçulmanos de todas as formas”. Esse é o nível de intervenção promovido pelo lobby sionista, que transformou as mobilizações da extrema-direita britânica em uma “milícia de rua” islamofóbica e, agora, sionista.
A relação da EDL com a ditadura israelense é ainda mais estreita do que se pode imaginar. Em 2011, a rede britânica BBC revelou que a EDL recebia diretamente de “Israel” materiais de propaganda contra o islamismo. Em uma demonstração de lealdade explícita, Robinson e seus comparsas incluíam em seus discursos citações selecionadas do Corão para promover a ideia de que a jihad (“guerra santa”, em português) seria uma ameaça constante contra “o Ocidente”, isto é, o imperialismo.
The Grayzone expõe também que em 2016, Robinson visitou as Colinas do Golã ocupadas por “Israel”, onde posou em cima de um tanque de guerra e vestiu uma camiseta das Forças Armadas de “Israel”, em um espetáculo de lealdade à ideologia sionista. Não à toa, Robinson acabou recebendo a bolsa de estudos Shillman, do David Horowitz Freedom Center, uma das mais influentes organizações pró-sionistas da América do Norte, ligada ao bilionário Robert Shilman, um conhecido financiador da máquina de guerra israelense.
Mas o financiamento a Robinson e à EDL não parou por aí. Como afirma Miller, “o lobby sionista ajudou a transformar a extrema direita britânica, orientando suas energias para o ódio aos muçulmanos e promovendo o alinhamento com as políticas expansionistas de ‘Israel”. O Center for Security Policy de Frank Gaffney, outra das grandes forças por trás do movimento, recebeu apoio de fundações pró-sionistas e também de nomes como o Henry Jackson Society, think tank conservador inglês de postura abertamente sionista.
No entanto, as alianças formadas entre grupos britânicos de extrema-direita e entidades sionistas não param na EDL. O The Grayzone revela que, em 2010, Roberta Moore, uma ex-militar israelense e adepta do kahanismo — uma ideologia abertamente fascista — fundou a chamada Divisão Judaica da EDL, registrando inclusive uma empresa com o nome de “English Defence League Limited”. Em declarações ao jornal israelense Haaretz, Moore deixa claro o jogo sujo por trás dessa aliança: “Eles acham que a Liga [EDL] está nos explorando, mas fomos nós que criamos a Divisão Judaica. Se alguém está explorando alguém, somos nós explorando eles”.
O histórico sionista da EDL não é incidental. Desde sua fundação, o movimento tem sido alimentado por elementos fanáticos do sionismo internacional, em especial aqueles ligados à doutrina kahanista, que defende um expansionismo judaico ultraortodoxo. A conexão com o movimento fascista de Meir Kahane fica evidente com a participação do “Rabino Surfista”, Nachum Shifren, em comícios da EDL. Durante uma manifestação de 2010 em Londres, Shifren destilou seu ódio contra os muçulmanos, chamando-os de “cães” e afirmando que “nunca nos renderemos à espada do Islã”.
Finalmente, The Grayzone revela o que há por trás dessa colaboração. Segundo Miller, “o movimento contra-jihadista europeu foi deliberadamente financiado e organizado pelo lobby sionista nos EUA e em ‘Israel’, com o objetivo de redirecionar a ira popular contra os muçulmanos e fortalecer a imagem de ‘Israel’ como bastião de resistência ao terrorismo”. A escolha de Robinson como figura central não é por acaso: um personagem altamente manipulável, com um histórico de violência e de oportunismo político, ideal para os interesses sionistas.
O lobby sionista encontrou na extrema direita britânica uma ferramenta para promover uma atualização do nazismo, voltada contra os muçulmanos e para legitimar suas próprias investidas coloniais. Essa é uma aliança de conveniência: de um lado, o sionismo busca impulsionar o ódio aos muçulmanos para justificar suas ações expansionistas; de outro, grupos como a EDL encontram no sionismo um apoio financeiro que os permite crescer e consolidar seu espaço de influência. Essa estratégia perversa não apenas desvia o foco dos verdadeiros problemas enfrentados pela classe trabalhadora europeia, mas também abre caminho para a normalização do racismo e da islamofobia sob a tutela de uma política internacional fascista.