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Governo Lula

A exaltação da covardia política

Articulista do Braisl 247 elogia o que há de mais conservador na política levada adiante pela presidência da República

Quem ler o artigo Lula, o maior diplomata do século 21, publicado pelo Brasil 247 e assinado por Emir Sader, terá a impressão de que foi encomendado para justificar a política fracassada, reacionária e pró-imperialista levada adiante pelo governo Lula nos últimos meses. Utilizando um velho truque dos setores mais direitistas do PT, Sader procura substituir uma discussão séria sobre a política que o Brasil deve ter diante da inédita crise mundial por uma exaltação da figura do atual presidente da República. O objetivo, como veremos, não é o de propriamente exaltar as qualidades do presidente, mas justamente o que há de pior em sua política no momento: a sua capitulação diante do imperialismo.

O texto começa reproduzindo um mito famoso difundido pelo PT. Diz Sader:

“Quando conversei com Lula no final do seu primeiro governo, perguntei qual a maior lição que ele teve. Ele me disse que, sem o apoio da maioria, não é possível governar. Depois de todas as tentativas de ser eleito presidente do Brasil, Lula finalmente conseguiu, foi reeleito e elegeu sua sucessora, Dilma Rousseff.”

É como se dissesse: se Lula conseguiu se eleger, ele tem razão no que diz. E o que Lula diz? Que é preciso conseguir o “apoio da maioria”. Leia-se: a maioria dos partidos mafiosos que controlam o Congresso Nacional, a maioria dos órgãos de imprensa venais que fazem campanha dia e noite contra o País, a maioria dos juízes que andam de carros blindados com medo do povo.

Dizer que é preciso o “apoio da maioria” das forças que controlam o regime político nada tem de sábio. É, na verdade, uma rendição. É dizer que, em vez de governar para o povo, o papel da esquerda é o de se adaptar às exigências daqueles que estão no poder. Trata-se de uma consideração não apenas profundamente conservadora, uma vez que condiciona a vida do povo aos interesses dos poderosos, como também idiota, pois a história recente mostrou que, quanto mais a esquerda se adapta à direita, mas ela se enfraquece e com mais facilidade é expulsa do regime político. O próprio texto de Sader lembra isso quando menciona “os processos de lawfare, que afastaram Dilma da presidência através de um impeachment que, ao mesmo tempo, colocou Lula na prisão”.

Escrever um texto hoje defendendo que a esquerda tenha como política os acordos com os seus inimigos é um péssimo sinal de desorientação política. No momento em que há uma clara ofensiva imperialista contra a América Latina, demandando por um arrocho fiscal, por mais privatizações e pela destruição de postos de trabalho, conseguir o “apoio da maioria” é sinônimo de deixar a população morrer de fome.

Sader continua, então, desencavando outro mito tosco do petismo. Diz ele:

“Concluídas as caravanas lideradas por Lula pelo país, voltamos para onde as havíamos iniciado, no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo. Poucos dias depois, o juiz Moro decretou sua prisão. Nesse mesmo sindicato, a grande maioria preferia que Lula não comparecesse à polícia. Pela primeira vez, conseguiram impedir que Lula o fizesse. Mas ele disse que não era pessoa para ir à clandestinidade, que se entregaria e provaria sua verdade.”

Tradução: Lula fez certo em capitular diante da direita, da Polícia Federal (PF), do bolsonarismo e das Forças Armadas ao se entregar. Esse erro, que acabou contribuindo para a vitória eleitoral de Jair Bolsonaro (PL) não consistiu em nenhuma genialidade. Pelo contrário: permitiu que a luta contra o golpe refluísse consideravelmente. Lula saiu da prisão não por que provou sua verdade – afinal, quantos panteras negras mofaram na cadeia após “provar sua verdade”? Lula foi solto por causa da mobilização daqueles que discordaram de sua política de acordo com as autoridades e procuraram uma alternativa revolucionária: impor ao regime político a vontade do povo.

Após os dois mitos petistas acerca da “genialidade” de Lula, o autor então elabora um mito acerca da política sul-americana. Diz ele:

“A multiplicação de governos antineoliberais teve sua liderança na aliança entre Brasil e Argentina. Após a década predominantemente neoliberal no continente, veio um período antineoliberal, que durou duas décadas e meia.”

Aqui, uma vez mais, o intelectual faz questão de esconder o papel do povo. A multiplicação de “governos antineoliberais”, se é que podem ser chamados assim, foram o resultado da mobilização revolucionária das massas em todo o subcontinente. Essa experiência, por sua vez, foi mais profunda em países como a Bolívia, a própria Argentina, o Equador e a Venezuela. A onda antineoliberal nada teve a ver com o estímulo dos governantes desses países, mas sim com a ação do povo.

Esse aspecto é fundamental para o que vem a seguir. Afinal, Sader procura utilizar a figura de Lula justamente para omitir o que há de mais progressista na luta de classes na América Latina. Diz ele:

“Lula consolidou sua liderança continental e global, especialmente com a construção dos BRICS, o fenômeno político mais importante do século XXI, que reúne os mais importantes governos de esquerda do mundo, confrontando o poder imperialista norte-americano.Na terceira década deste século, Brasil, México e Colômbia tornam-se os três países que mantêm e reforçam seus programas democráticos e antineoliberais na América Latina […] O futuro da América Latina depende do que acontecer com o México, o Brasil e a Colômbia. A liderança de Lula é essencial para esse futuro.”

Considerar o BRICS o fenômeno político mais importante do século é mais um exagero que mostra a incompreensão de Sader sobre a luta de classes. No século, houve eventos políticos que verdadeiramente sacudiram o mundo, como a insurreição talibã, operação russa na Ucrânia e a Operação Dilúvio de Al-Aqsa. E a importância do BRICS, por sua vez, está não na “liderança” de Lula, mas sim na relação entre o bloco e a tendência à formação de um bloco que irá se enfrentar militarmente contra o imperialismo.

Mas o que chama a atenção particularmente nas colocações de Sader é o destaque que dá a esses três países: Brasil, México e Colômbia. O que eles têm em comum? O fato de que os governos desses países estão tentando (e fracassando completamente) se equilibrar entre duas tendências opostas. Diante do aprofundamento da crise entre o imperialismo e os países atrasados, o Brasil de Lula têm feito um esforço para conseguir o “apoio da maioria”. Isto é, o apoio do imperialismo. Assim como Colômbia e México.

Com o pretexto de não querer brigar com ninguém, os governos desses países estão servindo de correia de transmissão para a política do imperialismo. O grande exemplo de diplomacia que está sendo apresentado por Lula e por seus aliados é a covardia política diante do imperialismo. É atacar a Venezuela enquanto seu povo é vítima de tentativas de golpe, é atacar a resistência palestina enquanto ela luta contra os exércitos mais poderosos do mundo.

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