O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem comemorado recentemente a queda da taxa de desemprego, com ministros e lideranças petistas exaltando os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com um índice de 6,4%, a taxa de desemprego atinge o segundo menor nível desde o início da série histórica, em 2012, fato celebrado por figuras como o ministro da Casa Civil, Rui Costa, e a deputada Gleisi Hoffmann, presidente do PT.
Eles não hesitaram em atribuir essa conquista à “força da nossa economia” e à eficácia das políticas de emprego implementadas. No entanto, um olhar mais atento revela uma realidade diferente.
O governo é, para dizer o mínimo, otimista. Rui Costa, por exemplo, celebrou o dado como um “sinal da força da economia e do trabalho do governo Lula”. Mas o que essa comemoração ignora é que, por trás dos números friamente apresentados, há milhões de brasileiros lutando para sobreviver com empregos péssimos e salários que mal acompanham a inflação. O governo federal, pressionado pelo imperialismo, dá mais atenção para agradar o mercado financeiro do que efetivamente enfrentar os problemas do País. Enquanto o desemprego “diminui” no papel, o aumento da informalidade, dos trabalhos temporários e da baixa remuneração evidencia que a melhora é ilusória para quem sofre o peso do custo de vida.
Ao mesmo tempo que Rui Costa celebra a queda do desemprego, é o mesmo ministro que promete um novo “pacote fiscal” para os próximos dias, o que ele próprio define como “ajustes necessários para manter o crescimento do país, assegurar investimentos e cumprir o arcabouço”.
Esse pacote, longe de ser uma medida de progresso econômico, é a mais recente demonstração da submissão da ala econômica do governo ao mercado financeiro e da decisão de adotar medidas de austeridade. Nada mais é que um novo nome para as mesmas velhas políticas de arrocho que conhecemos desde os anos 1990. Políticas que, inevitavelmente, levam a um aumento do desemprego e a uma piora nas condições de vida da população.
Seguindo essa trilha, Lula e a equipe econômica de Fernando Haddad estarão cada vez mais próximos das políticas do governo neoliberal de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), período em que as condições de vida da população foram sacrificadas em nome de um ajuste fiscal severo e de cortes brutais nos serviços essenciais.
Em recente entrevista, Haddad declarou que “a saúde e a educação cresceram mais que a receita” para justificar cortes nesses setores essenciais. Em vez de ampliar o investimento, a resposta do ministro é propor contenção, com o povo como principal afetado. Trata-se de uma inversão completa de prioridades, onde os interesses do mercado prevalecem sobre o bem-estar dos cidadãos.
A preocupação com o ajuste fiscal também não deixa de afetar o presidente Lula, que, segundo fontes, está descontente com a pressão exercida pelo mercado financeiro, especialmente pela infame Faria Lima. O governo parece incapaz de combater as amarras que o prendem ao mercado. Na tentativa de arrefecer os ânimos dos especuladores, Lula se afasta cada vez mais do povo.
E aqui reside a ironia mais amarga deste governo: enquanto comemoram quedas ilusórias no desemprego, preparam medidas que aumentarão a miséria e o desemprego. A política de austeridade — travestida de “responsabilidade fiscal” — terá o efeito inverso do que foi prometido. Os cortes que Haddad propõe, com o apoio de ministros golpistas como Simone Tebet (MDB), já foram vistos em diversos países da Europa, onde resultaram na destruição da esquerda e na destruição dos direitos do povo.
A França, sob o governo de Emmanuel Macron, e o Reino Unido, com políticas semelhantes, são exemplos claros disso. Em ambos os países, devido à capitulação da esquerda diante da política neoliberal, inclusive, a extrema direita cresceu – e muito!
Os ajustes fiscais não são apenas um erro econômico, mas um erro político. Ao insistir nessa via, Lula arrisca sua base eleitoral e depende, cada vez mais, do apoio de uma burguesia que não está disposta a sustentar seu governo.
Que o governo ainda possa retomar seu rumo, pois, caso contrário, estará cometendo um verdadeiro suicídio político.