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Eleições municipais

O problema agora é marketing?

Esquerda apresenta a nova tese do fracasso: precisamos de mais marqueteiros

O nocaute que a esquerda levou nas eleições deste ano ainda tem gerado teses e mais teses sobre o que aconteceu e sobre o que fazer. No intuito de esconder os reais motivos da derrota, como a capitulação para a direita, aparecem teses como as de que falta marketing para esquerda e não política.

É o que diz, pelo menos, Paulo Henrique Arantes, redator do Brasil 247, jornalista de quase quarenta anos de rodagem, e que, em texto publicado naquele site, afirma que “a complexidade da narrativa cultural reside em tecer uma teia e montar uma radiografia do imaginário de um grupo de pessoas em determinado momento”.
Isso, essas aspas, é a conclusão do texto que deveria ser político, ou despertar o sentimento político das pessoas para realizar alguma coisa progressista. Mas, como pode ser lido em sede de conclusão, parte da esquerda está mesmo desnorteada e apelou para fórmulas malucas para esconder o fracasso.

A análise de Paulo Henrique é parte de uma concepção geral que é apresentada pela esquerda, depois do fracasso das eleições, que é “como conversar com o povo”? O bom e velho jargão universitário de que “precisamos dialogar”, ou melhor, “saber dialogar” com o povo, com a juventude, etc.

Isso quando, ao mesmo tempo, a esquerda chamou todos os eleitores de Jair Bolsonaro de “gado”, uma ótima forma de dialogar com metade da população. Não tardou para Joe Biden, o “mal menor” norte-americano, junto com Kamala Harris, chamar os eleitores de Donald Trump de “lixo”. Tanto em um caso como em outro se nota mais preconceito e arrogância que uma política supostamente superior. Eis uma das explicações da derrota eleitoral.

Paulo Henrique afirma que “talvez a esfera progressista precise apenas de um impulso tecnológico no marketing que exerce. A partir dos bancos de dados, hoje, chega-se a interpretações das narrativas culturais de grupos específicos e, então, ‘conversa-se’ com eles”.

Precisa, então, pedir o dinheiro de volta dos marqueteiros de Guilherme Boulos (PSOL), que receberam quase sete milhões de reais para realizar a campanha do psolista. Mas, convenhamos, era uma tarefa árdua transformar um suposto comunista invasor de imóveis abandonados em um tucano moderno, de fazer inveja ao finado Bruno Covas.

Nessa trama marqueteira eleitoral, Boulos ameaçou (e de fato é uma ameaça) dobrar o efetivo da Guarda Municipal de São Paulo, uma espécie de estagiária da ROTA, e, falando em rondas ostensivas, chamou um militar da própria ROTA para compor sua campanha. Além de tantas outras falcatruas marqueteiras que, isso sim, o fizeram perder as eleições.

A pergunta, até meio cínica, de “como falar com o povo” revela que a esquerda abandonou totalmente a tradição do movimento de luta, dos partidos revolucionários, de sindicatos combativos, enfim, toda a tradição de luta que nos trouxe até aqui.

A direita se apresenta com palavras de ordem mais decisivas, com maior capacidade de mobilização. “Bandido bom é bandido morto”, “Deus, Pátria e Família”, etc. E a esquerda desiste de denunciar essa política reacionária, e, ainda pior, busca se adaptar. 

O povo, ao contrário do que se pensa, não é trouxa e prefere aderir a pessoas que parecem menos ensaboadas, mais diretas, por mais que não passe de pura demagogia o que a direita apresenta.

Os direitistas falam: “Venezuela é uma ditadura”. Vem o representante da esquerda e enrola: “precisamos das atas” (Lula), aí vem outro: “se persegue opositor, é ditadura” (Boulos). A direita grita: Hamas é terrorista! Vem o presidente do Brasil que seria de esquerda e fala: “somos contra o terrorismo do Hamas”, o outro, ex-candidato à prefeitura de São Paulo (SP) pelo PSOL/PT, e a poeira cósmica do PCdoB/PV, debocha: “não sou candidato à prefeito de Telavive”. Ora, melhor escolher o defensor franco da proposta, a direita, que os acovardados enrolões. 

Paulo Henrique continua apresentando sua tática marqueteira para reverter o problema que é abertamente político: “uma novidade chamada microtargeting, criada pelo grande publicitário e figura humana André Torreta, que morreu de Covid, falava de algo semelhante à narrativa cultural, mas com uma diferença seminal: o microtargeting restringe-se a delimitações geográficas, já a narrativa cultural abraça quaisquer aspectos de grupos específicos, sejam eles econômicos, sociais ou comportamentais”. Se seguirmos ao pé da letra essas recomendações, com certeza a esquerda não vence nem eleição de síndico mais. 

Todo o problema consiste em mobilizar o povo em torno de um programa de luta, o que envolve panfletar, organizar reuniões, comícios, assembleias, atos, especialmente após a campanha eleitoral, para, com isso, fazer evoluir a política do povo de conjunto.

É disso que se trata, por exemplo, o ato nacional convocado pelo PCO (Partido da Causa Operária) a ser realizado no Rio de Janeiro (RJ) durante o encontro do G20, que reúne os principais genocidas do mundo. Denunciar os donos do mundo assassinos de crianças e mulheres, e fazer evoluir a luta em defesa da Palestina, ou seja, evoluir a luta da esquerda no geral.

Abandonar essas atividades em troca de um punhado de truques marqueteiros, ou ceder para a direita em temas fundamentais (polícia, Palestina, etc.) ou mesmo realizar alianças com a direita para evitar ser derrubado ou para ser bem quisto, é justamente o caminho do fracasso que já é possível notar que vai acontecer em 2026 caso tudo fique como está. 

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