O artigo O eleitorado consolida sua preferência à direita, publicado no jornal O Estado de S. Paulo, retrata bem as conclusões que a burguesia tirou da situação política após a realização das eleições municipais.
Há o esforço, já visto no conjunto da imprensa burguesa, de apresentar uma suposta “revitalização da política tradicional”. Isto é, de mostrar que o “centro político” teria se fortalecido, enquanto os “extremos” teriam sido derrotados. A tese não se sustenta, e o Estadão nem faz questão de comprovar. É pura propaganda de uma classe tentando evitar que sua falência apareça de forma tão explícita.
A tese desmorona na medida em que o próprio jornal procura aprofundar a sua análise. O artigo diz que “a pauta da inclusão social foi incorporada por outros espectros e a credibilidade da esquerda para implementá-la foi irremediavelmente maculada pela corrupção e pela recessão na gestão lulopetista de Dilma Rousseff” e que “as políticas assistencialistas já não são novidade e carecem de combustível por causa do aperto fiscal”. Embora cínicas, as colocações apresentam aspectos concretos. Não é fato que a esquerda foi “maculada pela corrupção”, mas é fato que a ofensiva golpista enfraqueceu muito a esquerda. E parte da ofensiva golpista consistia justamente na acusação de “corrupção” – acusação essa que a esquerda nunca conseguiu responder à altura, na medida em que nunca denunciou que tal campanha vinha do imperialismo e na medida em que fez questão de permanecer abraçada aos corruptos que lhe acusavam de corrupção.
A margem cada vez menor para as políticas sociais, por seu turno, são resultado, sim, da política fiscal. O que o jornal não explica, contudo, é que a tal política fiscal é o assalto institucionalizado dos cofres públicos pelos bancos. Coisa que a esquerda também não denuncia – pelo contrário, se adapta a essa política.
Os fatos por si só mostram como não há uma preferência pelo centro político. A esquerda está completamente acuada – a direita que está na ofensiva.
O artigo, então, admite que, “nas disputas entre o PT e o PL, de Jair Bolsonaro, o PL, em geral, levou a melhor”. Não se trata de “em geral” levar a melhor. O PL foi simplesmente o partido mais votado das eleições municipais de 2024, com mais de 15 milhões de votos. Enquanto isso, o PT foi o nono partido em número de votos.
O texto, então, afirma que “o maior derrotado foi Bolsonaro”, pois “os principais postulantes da direita para a Presidência em 2026 – os governadores Tarcísio de Freitas (SP), Ronaldo Caiado (GO) e Ratinho Jr. (PR) – emplacaram candidatos com apoio marginal de Bolsonaro ou até contra ele, como (veladamente) em Curitiba e (explicitamente) em Goiânia”. Ora, mas o próprio fato de que haveria tantos postulantes da direita tentando concorrer com Bolsonaro já é uma demonstração de que o regime evolui muito rapidamente à direita. Indica que, diante da falência de partidos como o PSDB, a burguesia vai procurar se apoiar na extrema direita.
Eventuais disputas no interior da direita, neste sentido, são absolutamente secundárias. O que importa é a tendência geral: se há uma tendência direitista, a extrema direita irá prevalecer no regime, seja com Tarcísio, seja com Bolsonaro. Há, no entanto, que se considerar uma grande diferença entre Bolsonaro e os demais direitistas. Conforme o caso Pablo Marçal revelou, Bolsonaro não é uma liderança artificial, é uma liderança de milhões de pessoas. E, neste sentido, qualquer tentativa da burguesia de se apoiar na extrema direita terá de levar em conta um acordo com o ex-presidente.