A esquerda pequeno-burguesa continua capitulando diante do imperialismo no que diz respeito à guerra na Ucrânia. Desde antes da deflagração do conflito, está claro que a política correta é o apoio total à Rússia, pela derrota da OTAN, ou seja, da maior aliança militar do imperialismo. Não é algo tão complexo: a Rússia é um país oprimido e, portanto, deve ser apoiado contra o imperialismo. No entanto, setores da esquerda continuam procurando uma forma de defender a Ucrânia e, consequentemente, a OTAN. É o caso do Esquerda.Net, grupo de Portugal que publicou o texto Movimento Social discute as tarefas da esquerda ucraniana.
O texto é uma tradução de um programa de um grupo de esquerda ucraniano. Ele começa falado que Zelenski deve adotar uma política democrática: “acreditamos que o governo deve iniciar um diálogo transparente com o povo, delineando os objetivos alcançáveis da guerra e, mais importante, introduzir uma economia defensiva ou reconhecer a falta de preparação para lutar pela vitória”. Ou seja, eles acreditam que Zelenski, que governa com base em milícias nazistas, como o batalhão Azov, e como um lacaio da OTAN, poderia se tornar um governo democrático aliado dos trabalhadores. Já se questiona, com isso, se o grupo que escreveu esse texto é, de fato, de esquerda.
Então, eles pedem solidariedade internacional: “para lutar contra a agressão russa e prosseguir uma reconstrução pós-guerra que beneficie o povo trabalhador, precisamos do apoio da comunidade global, incluindo ajuda humanitária e militar”. Aqui, se abre uma discussão importante. A solidariedade internacional existe. A vítima da agressão é a Rússia, que está sendo atacada pela OTAN. Por isso os povos do mundo se agrupam na defesa da Rússia. Mas e os trabalhadores ucranianos? Estes também são vítimas da OTAN. São vítimas do imperialismo, principalmente a partir de 2014, quando o golpe de Estado conhecido como “Euromaidan” transformou a Ucrânia numa base militar contra a Rússia. Nesse sentido, a vitória da Rússia também é uma vitória dos trabalhadores ucranianos.
Aqui, aparece o ponto principal: é possível a esquerda ucraniana defender a Rússia? Sim. O principal setor da esquerda ucraniana são os governos e os trabalhadores do Donbas, da República Popular de Donetsk e de Lugansk. Foi lá onde a esquerda foi vitoriosa e derrotou o golpe de Estado e as milícias nazistas. Essa região do Donbas se tornou o principal alvo da opressão da OTAN. Foram oito anos de guerra contra essa população antes da Rússia decidir tomar a iniciativa da Operação Militar Especial. Ou seja, é perfeitamente natural que ucranianos defendam a Rússia.
Alguém pode argumentar que esses são os ucranianos de origem russa, o que é um fato. Entretanto, a esquerda não deve usar questões étnicas para definir sua política. Ao mesmo tempo, é preciso perguntar: os ucranianos estão melhores sendo uma colônia do imperialismo ou sendo um país aliado da Rússia? Basta comparar a realidade da Ucrânia com a da Bielorrússia, um país muito semelhante. Comparar os dois países é perfeito para mostrar o que é o imperialismo de fato.
A Ucrânia foi dominada pelo imperialismo com o golpe de 2014. A economia foi totalmente destruída pelas reformas neoliberais. O país entrou em guerra contra a própria população e depois se tornou bucha de canhão para atacar a Rússia. O imperialismo destruiu a Ucrânia. Como está a Bielorrússia? É onde se encontra a melhor situação em todo o leste europeu. Esse é o perigoso “imperialismo russo”.
Voltando ao argumento do texto, ele defende o “direito da Ucrânia à autodefesa e apoia a luta de outras nações pela libertação”. O que a esquerda deveria defender é a autodefesa da Ucrânia contra a OTAN. Em relação à luta pela libertação nacional, é preciso a apoiar a Rússia, que trava uma guerra de libertação nacional contra o imperialismo. A guerra aparece no território ucraniano, mas a vitória da Ucrânia levaria a uma agressão direta da OTAN contra a Rússia.
Uma esquerda dominada pelo imperialismo
Até aqui, foram usados argumentos para demonstrar com a tese de apoio à Ucrânia e contra a Rússia é incorreta. Agora, vale mostrar como aqueles que tem essa tese são totalmente pró-imperialistas. O texto segue: “exigimos o controlo total do Estado sobre a proteção das vidas e do bem-estar dos trabalhadores, que estão mais ameaçados do que nunca”. Porém, afirma isso sem uma referência à derrubada de Zelenski. Ou seja, pede que o governo lacaio da OTAN garanta o bem-estar dos trabalhadores, um apoio ao regime dominado pelo imperialismo. Mas fica ainda pior.
O próximo ponto é: “o eco-terrorismo da Rússia, combinado com anos de exploração predatória e em grande escala dos recursos naturais pelos oligarcas nacionais e com a negligência das autoridades em relação à proteção ambiental, constitui uma ameaça para os ecossistemas da Ucrânia, incluindo a sua biodiversidade, os recursos de água potável, a fertilidade do solo, a saúde e a vida da população”. O país está infestado de milícias nazistas, algo que o texto não comenta em momento algum, mas a sua preocupação é o “eco-terrorismo”! Uma expressão de quão pró-imperialista é a política do grupo em questão.
Para concluir, eles tentam mostrar uma política mais combativa: “o Movimento Social defende a restauração dos direitos eleitorais, o direito de reunião pacífica e de greve dos trabalhadores, e a abolição de todas as restrições aos direitos laborais e sociais”. Aqui, o texto esboça uma política real de esquerda. Mas é preciso lembrar que o governo Zelenski não é um governo qualquer, é uma ditadura nazista. Se a esquerda defendesse essa política durante o governo de Mussolini ou na ditadura militar do Brasil, por exemplo, seria ridículo. O mesmo vale para o caso da Ucrânia: é preciso lutar pela saída de Zelenski, pela derrubada da ditadura que foi instaurada pelo imperialismo A política correta é a defender a expulsão da OTAN da Ucrânia.
Um comentário final é importante. O Esquerda.Net é um portal de Portugal, um país membro da OTAN. O fato deles não estarem ao lado da Rússia mostra como é um grupo reacionário. O país deles está ativamente participando da guerra de agressão contra a Rússia e eles fazem coro com o governo imperialista de Portugal. É essa decadência política da esquerda europeia que abre margem para o crescimento da extrema direita.