Esta semana se iniciou com a exposição pública de uma briga entre setores do PT. Diante dos resultados desastrosos das eleições municipais de 2024, lideranças do partido, como Washington Quaquá, Jilmar Tatto, Alexandre Padilha e Gleisi Hoffmann, trocaram “farpas” uns com os outros.
Campeão nacional na ‘Z4’
O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT), declarou, nesta segunda-feira (28), em tom de crítica, que o PT necessita de “profunda avaliação”. O pronunciamento ocorreu na porta do Palácio da Alvorada, após uma reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“O PT é o campeão nacional das eleições presidenciais, mas, na minha avaliação, não saiu ainda do Z4 em que entrou em 2016 nas eleições municipais. Então, teve conquistas importantes, a eleição na capital, elegeu cidades importantes neste 2º turno, mas ainda tem um esforço de recuperação”, afirmou o ministro.
“Eu acho que o PT vai fazer uma avaliação sobre isso, certamente sobre esse resultado, como voltar a ser um partido com mais protagonismo, sobretudo nas grandes e médias cidades”, completou Padilha.
Não atendeu às expectativas
A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, reagiu à declaração do ministro Padilha, considerando-a ofensiva ao PT.
“Ofender o partido, fazendo graça, e diminuir nosso esforço nacional não contribui para alterar essa correlação de forças […] Mais respeito com o partido que lutou por Lula Livre e Lula Presidente, quando poucos acreditavam”, afirmou Gleisi em seu perfil oficial no X (antigo Twitter).
Para Gleisi, Padilha diminuiu o esforço nacional da legenda, não focando em seu trabalho: “Padilha devia focar nas articulações políticas do governo, de sua responsabilidade, que ajudaram a chegar a esses resultados”.
Ela admite que havia maiores expectativas no pleito: “é óbvio que, por ter a Presidência da República, havia uma expectativa de o PT ter números maiores do que teve”. Ao mesmo tempo, tenta justificar o resultado desastroso: “isso mostra que ter o governo federal não quer dizer necessariamente que você vai ter vitórias nas eleições municipais, assim como ter a maioria dos prefeitos nos municípios não significa que você vai ser derrotado nas eleições nacionais”.
Gleisi ainda afirma que “estamos vivendo, sim, um ciclo, um contrafluxo de direita e extrema direita no país. Ao contrário do que fomos nos anos 1980 e 1990, em que a esquerda fez uma ascensão, a direita também está fazendo isso agora. É um fator internacional”. “Temos de refrescar a memória do ministro Padilha, o que aconteceu conosco desde 2016 e a base de centro e direita do Congresso que se reproduz nas eleições municipais, que ele bem conhece. Pagamos o preço, como partido, de estar num governo de ampla coalizão. E estamos numa ofensiva da extrema direita”, diz.
‘Jogando na várzea’
Deputado federal por São Paulo e secretário nacional de Comunicação do PT, Jilmar Tatto também protestou contra a colocação de Padilha, externando que ministros estão “jogando na várzea”.
“O Padilha falou de zona de rebaixamento. Então, se teve zona de rebaixamento, não sei exatamente o que ele falou, tem muito ministro que está jogando na várzea. E isso é perigoso pensando em 2026”, declarou o secretário de comunicação nacional do PT.
Tatto também teceu críticas à política executada nestas eleições, afirmando haver “erro tático” do partido na composição de chapas puramente de esquerda.
“Quando Lula sinaliza que a candidatura na principal cidade do país é de um candidato do PSOL… nada contra a figura do Boulos, não é isso… é que você sinaliza para o Brasil, para todas as cidades, que a nossa aliança é de esquerda. E aí a gente perde a eleição e não sabe por quê”, afirmou Tatto.
Mais à direita
A defesa de Tatto teve a solidariedade do vice-presidente do PT, Washington Quaquá. Para ele, a chapa à prefeitura da cidade de São Paulo foi uma “morte anunciada” por não ter na sua composição um elemento da direita.
“Boulos era a crônica de uma morte anunciada! A candidatura errada na cidade errada! Havia Márcio França, Tabata Amaral e até a Ana Estela Haddad, que nunca disputou eleição, mas poderia dialogar com uma ala mais conservadora nas periferias e classe média. Escolhemos uma candidatura com um teto de eleitor de esquerda. Parece que voltamos a reaprender a gostar de perder”, escreveu Quaquá em seu perfil no Instagram.
Para Quaquá, a fraqueza do PT não está na sua incapacidade de expressar os interesses da maioria da população, mas no “conservadorismo do povo”. Uma política direitista comum na esquerda, que não cumpre seu papel de mobilização e culpa os trabalhadores.
Ele também criticou a ausência do governo federal nas disputas eleitorais municipais
“E o governo federal também não atuou coordenado e apoiando sua base. Age como se não tivesse responsabilidade com as eleições e a luta política real no território. Tá na hora de mudar ou seremos derrotados no momento que não podemos, em 26!”, disse.
Sem novidades no fronte
No programa Análise Política da 3ª, com Rui Costa Pimenta, transmitido no YouTube pela Rádio Causa Operária, intitulado 2º turno confirma a derrota da esquerda e exibido nessa terça-feira (29); o presidente nacional do PCO falou sobre a “direitização” do PT diante das eleições. Pimenta relembrou a história do PT nas primeiras eleições disputadas pelo partido:
“Na primeira eleição que o PT participou, o PT teve, nacionalmente, 3% do voto. Era a primeira eleição, ainda era a ditadura militar, não era um resultado tão ruim. Ganhou a prefeitura de Diadema – em grande medida por causa do PCO -, mas ganhou”, disse. Ele explicou como os setores mais à direita se aproveitaram da situação para alterar a orientação política do partido:
“O que aconteceu quando acabou a eleição? Criticaram que a eleição era muito esquerdista, por isso que tinha dado errado. É daí que surgiu a famosa Articulação dos 113, surgiu como resultado da eleição.”
Essa manobra não foi instantânea, sendo possível devido ao apoio de setores da esquerda. Rui Pimenta explicou que a esquerda também ficou muito insatisfeita com o que a direção do PT estava fazendo. Ele afirma que a Articulação dos 113, uma criação de Lula, Genoíno e outros, queria que o partido fosse mais direitista. “Toda vez que perdem a eleição, dizem a mesma coisa”, argumenta o presidente do PCO.