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Editorial

É dever da esquerda lutar contra o ‘centro político’

Ministro da Secretaria de Comunicação Social afirmou que Lula representa o "centro político do Brasil"

Em entrevista ao programa Estúdio I, da GloboNews, o ministro da Secretaria de Comunicação Social, Paulo Pimenta, afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) representa o “centro político do Brasil” e que isso teria ficado claro com o resultado das eleições municipais. “O centro é o Lula hoje. O centro político do Brasil é o Lula. O centro se aglutina em torno do Lula e isolou a extrema direita. Esse é o resultado da eleição”, afirmou.

Dizer que Lula isolou a extrema direita é simplesmente uma inverdade. A extrema direita venceu na principal cidade da América Latina – a cidade de São Paulo, na qual o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB) venceu graças ao apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Não bastasse isso, no segundo turno, a extrema direita venceu na maioria das capitais e das grandes cidades. O Partido Liberal (PL), de Bolsonaro, foi o que mais teve votos em todo o País.

O tal isolamento da “extrema direita” é uma história difícil de se acreditar, e que serve apenas para iludir os setores mais ingênuos da política nacional. Essa ilusão, por sua vez, tem um propósito muito claro: defender uma aliança da esquerda com a direita “tradicional”. A fala de Pimenta é esclarecedora porque mostra que, para um setor da esquerda, não basta se aliar ao chamado “centro político”: a ambição desses setores é se tornar, em si, o centro político do País.

A esquerda que almeja tal coisa almeja, no fim das contas, deixar de ser esquerda. O centro político de qualquer regime é a direita, é um bloco de sustentação do grande capital, do latifúndio e dos grandes empresários. É, acima de tudo, um bloco que serve de base para a política do imperialismo no País.

Os partidos que outrora representaram o centro político – MDB, DEM (hoje União Brasil) e PSDB – foram responsáveis pelo que houve de pior no Brasil nos últimos anos. A destruição neoliberal do governo de Fernando Henrique Cardoso foi mil vezes pior do que qualquer governo da última década. Esses foram responsáveis pela morte de milhares de crianças por fome, pela entrega das principais riquezas nacionais a vampiros estrangeiros e pelo aumento inacreditável da repressão.

O regime brasileiro é necessariamente neoliberal e pró-imperialista, de modo que representar o seu “centro” é representar uma política anti-povo. Qualquer coisa, por menor que seja, que sirva para atender aos interesses da população, deve passar por uma luta contra o regime – e, portanto, centro o centro político.

Para se tornar efetivamente o centro político, o governo Lula teria de praticar um estelionato eleitoral total contra os seus eleitores. Teria que abrir mão de tudo o que prometeu, no que diz respeito à política social, e governar somente para os banqueiros.

Essa política, além de minar por completo a base do governo, ainda parece inviável. Os editoriais da imprensa burguesa mostram muito mais o governo Lula como um obstáculo à ofensiva do imperialismo sobre a América Latina do que um governo realmente disposto a fazer tudo o que os grandes monopólios querem fazer no Brasil.

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