A direita está fechando o cerco contra a esquerda. O caso mais recente é o de cinco estudantes da USP que estão ameaçados de expulsão sob a acusação de antissemitismo. Apesar de não terem atentado contra nenhum judeu, os estudantes fazem parte de um movimento em defesa da Palestina dentro da universidade. O crime, portanto, é de terem expressado uma opinião política.
Vejamos o que disseram: “Na manhã de sábado [7 de outubro de 2023], forças palestinas iniciaram uma ofensiva histórica contra o colonialismo israelense a partir da Faixa de Gaza, região palestina que vem sendo ocupada por Israel há 16 anos de maneira colonial, baseada em assentamentos coloniais em terras e cidades palestinas roubadas”. Onde está o antissemitismo?
Fernando Lottenberg, comissário da OEA (Organização dos Estados Americanos) para o monitoramento e combate ao antissemitismo, (e aqui temos de nos perguntar o porquê de a OEA ter um órgão especializado em antissemitismo) disse, segundo a Folha de S. Paulo (24/10), que “a ação dos dirigentes da USP é exemplar, demonstrando a importância de as universidades criarem mecanismos para o recebimento, apuração e determinação de sanções relacionadas às denúncias de antissemitismo ou qualquer outro tipo de disseminação do discurso de ódio”. Eis aqui a implicação direta do tal “discurso de ódio”, tão defendido pela esquerda, está a serviço da direita para atacar e perseguir politicamente seus adversários.
Lottenberg disse também que as universidades são “locais onde a intolerância e o desrespeito à diversidade não deveriam ter qualquer tipo de espaço”, mas nas universidades — ele acabou omitindo, ou talvez não saiba: a universidade é o local onde as ideias deveriam ser livremente debatidas.
Com o andar da carruagem, em breve, não se poderá falar nada contra o governo norte-americano, pois logo apresentarão um pretexto para colocar pessoas na cadeia. Lutar contra o imperialismo será transformado em “atentado contra a democracia”, ou algo parecido, e é preciso que se diga com toda a clareza. E é preciso dizer que tudo isso é resultado da luta em favor da censura que a boa parte da esquerda travou aqui no Brasil.
Tudo é terrorismo
A grande imprensa, a direita, a extrema direita, têm martelado a palavra “terrorismo”. E alguns amalucados da esquerda foram mais longe e falam até mesmo em “terrorismo verbal”. Ou seja, a depender do que seja dito, a pessoa, ou entidade, poderá ser considerada terrorista. E ninguém duvide que o imperialismo aproveitará essa valorosa contribuição. Em outras palavras, para ser acusado de terrorismo não é preciso recorrer a métodos violentos, basta falar.
Apesar de estarmos alertando sobre o problema da censura há tempos, a esquerda pequeno-burguesa, que tem dificuldade de pensar, decidiu que a melhor maneira de defender os oprimidos, seria dar ao Estado burguês nacional, dirigido majoritariamente por pessoas das mais reacionárias, o poder de censurar todo mundo.
Foi fácil para a direita enganar esses setores da esquerda, pois pegaram, de início, elementos da extrema direita para perseguir, tais como Sarah Winter, Daniel Silveira e os pequeno-burgueses morderam a isca. Agora, está instaurado um clima de repressão.
Essa esquerda “bem-pensante”, e conservadora, nos acusa de sermos a favor da liberdade de expressão “irrestrita”. Para um conservador, qualquer coisa que não tenha restrição é, por si, prejudicial. Como consequência, a direita, especialmente o imperialismo, está no ambiente perfeito para aumentar a repressão e apertar seus dedos ao redor do pescoço de qualquer um que ouse lutar contra sua política genocida.