Quem não teve os olhos abertos para o oportunismo de Guilherme Boulos durante as eleições municipais de 2024, não os terá nunca. Sua campanha é toda marcada por uma série de acenos à direita e à extrema-direita nacional, mostrando que o psolista está disposto a fazer tudo que for necessário para agradar a burguesia paulistana e conquistar o tão sonhado cargo.
Depois de já ter colocado Marta Suplicy como sua vice, a mesma que traiu o PT e votou a favor do impeachment de Dilma no Senado; ter chamado um ex-comandante da ROTA para ser seu secretário de segurança pública; ter declarado em uma entrevista à imprensa burguesa que a Venezuela seria uma “ditadura”; ter prometido que iria dobrar o efetivo da Guarda Civil Municipal e diversos outros acenos à direita; Boulos, nessa reta final, surpreendeu a todos e se aliou com quem ele havia classificado durante toda a campanha como um de seus maiores inimigos, o direitista e ex-coach Pablo Marçal.
A aliança Boçal se consagrou em uma “sabatina” convocada pelo próprio Pablo Marçal nas redes sociais, da qual Boulos participou, durante a maior parte do tempo, com gigantesco sorriso no rosto. Marçal também chamou Ricardo Nunes para a live, que não teria dado resposta para seu ex-adversário, afirmando, depois, que foi chamado de última hora.
Marçal chamou o programa de “entrevista de emprego” com Boulos, pois, supostamente, ele seria, diante da população de São Paulo, um postulante ao trabalho de prefeito. Tudo uma grande farsa, bem ao estilo do que sempre foram as eleições burguesas. Boulos, nesse sentido, já se mostra um verdadeiro candidato da burguesia.
O tom da entrevista foi bastante ameno e amistoso, uma verdadeira camaradagem entre duas pessoas que, anteriormente, já tinham se acusado e se insultado de diversas formas nos debates do primeiro turno da campanha eleitoral. Essa nova “amizade” mostra-se como algo extremamente desagradável para qualquer pessoa séria que tenha acompanhado todo esse período eleitoral.
Boulos, já havia classificado Marçal como “ladrão de banco”, já havia pedido a cassação de sua candidatura e até sua prisão. Os “boulistas” fizeram a propaganda de que se deveria votar no psolista para impedir que Marçal (um suposto fascista sanguinário, de extrema-direita, bolsonarista etc.) chegasse ao segundo turno das eleições, pois este seria, talvez, o pior acontecimento da história humana.
No entanto, toda essa preocupação se dissipou agora. Boulos já se tornou grande camarada de Pablo Marçal. Boulos já defende o “empreendedorismo”, bandeira típica do neoliberalismo e uma das principais palavras de ordem de Marçal, além de dizer que já integrou à sua campanha propostas do candidato do PRTB. Quais seriam essas propostas, no entanto, é um verdadeiro mistério, tendo em vista que Marçal não apresentou, efetivamente, proposta nenhuma durante toda sua campanha, focando suas energias em atacar os seus adversários, principalmente o próprio Boulos.
Alguns trechos interessantes da entrevista são o próprio Guilherme Boulos pedindo voto para Marçal, dizendo “você vai ficar em Roma ou vem para São Paulo apertar o 50 na urna?”. Embora Marçal tenha declarado que não votaria em Boulos nem em Nunes, algo dito apenas para controlar a fúria dos “marçalistas” contra eles, a aliança Boçal é uma realidade.
Marçal também afirma que Boulos e ele terão embates durante os próximos 30 anos da mesma forma que Lula e Bolsonaro têm hoje. A previsão é absurda, primeiramente porque Boulos não é um líder popular como Lula, sendo apenas um político pequeno-burguês carreirista enganador sem nenhuma história de liderança política. Além disso, não se deve menosprezar o efeito desmoralizante que a tal “sabatina” ridícula entre os dois terá diante dos apoiadores de ambos.
Durante a entrevista, o ex-candidato do PRTB pede para Boulos definir algumas figuras políticas anteriores. Ao perguntar sobre Bolsonaro, o psolista responde dizendo que ele foi um péssimo presidente que teria zombado dos brasileiros durante a pandemia. A resposta interessante, no entanto, foi o que Boulos falou sobre Fernando Henrique Cardoso: “Fiz oposição a ele no movimento estudantil porque não concordava com as ideias que ele defendia, mas o admiro porque depois ele ficou do lado da democracia”, numa crítica muito mais amena se comparada com o que foi dito sobre Bolsonaro, apesar de FHC ser o responsável por uma das políticas mais devastadoras da história do País, com privatizações, destruição da economia nacional e muitos outros crimes.
Ao ser questionado sobre Dilma, Boulos a classifica apenas como uma mulher “corajosa”, não denuncia claramente o golpe do qual ela foi vítima. Mas já era de se esperar, tendo em vista que o próprio Boulos foi um dos maiores apoiadores deste golpe.
Outra questão levantada por Marçal no agradável debate foi sobre as “invasões”. Ele pergunta se Boulos irá “acabar com as invasões”, com o psolista respondendo que ele vai sim acabar com elas, ao fazer o maior plano fundiário da história da cidade de São Paulo. O plano é apresentado de forma totalmente abstrata e sem explicar como serão enfrentados os proprietários de terras e os banqueiros. Anteriormente, ele já havia dito que “não iria prevaricar” diante de invasores, sendo essa a sua verdadeira política.
Todo o clima de amor entre os dois é coroado com uma propaganda eleitoral feita por Boulos onde eleitores de Marçal aparecem trocando o característico bonezinho azul com a letra “M” por outros bonezinhos azuis com a letra “B”, de Boulos. Esse circo todo é muito esclarecedor para aqueles que em algum momento acreditaram que havia, da parte da esquerda pequeno-burguesa algum resquício de luta antifascista. Aqueles que disseram que Marçal era o maior criminoso fascista do planeta e que seus eleitores eram todos fascistas sanguinários agora transformam o outrora inimigo em santo, mostrando a farsa total da política do mal menor.