Dois artigos publicados nessa sexta-feira (25) pela imprensa burguesa expressam com clareza qual a posição do imperialismo em relação ao bloco dos BRICS e ao governo Lula. O primeiro deles, da Folha de S.Paulo, já apresenta em seu título um resumo da posição: “Brics é menos problemático sem a Venezuela”. Isto é, que tanto a Venezuela quanto os BRICS seriam, aos olhos da burguesia, um problema.
O artigo apresenta, sem muito rodeio, os motivos pelos quais a burguesia considera o BRICS “problemático”. O evento foi promovido pelo “autocrata Vladimir Putin, o presidente rotativo do Brics neste ano” e consagrou a expansão do bloco, que teria sido “comandada pela ditadura chinesa, com o apoio da Rússia em guerra, e agendas particularmente opostas às do Ocidente ganharam protagonismo no bloco”.
Embora dissimule suas intenções utilizando expressões como “autocrata” e “ditadura”, a Folha de S.Paulo não consegue esconder o real motivo de seu incômodo com os BRICS: trata-se de um bloco “anti-Ocidente”, isto é, com um conteúdo cada vez mais anti-imperialista. Independentemente do ingresso ou não da Venezuela, o BRICS não deixará de ser um bloco arquitetado pelos países que mais estão em confronto com o imperialismo no momento: Rússia e China, que estão envolvidos em vários frontes de guerra contra as potências dominantes.
E é esse o motivo pelo qual a burguesia considera a Venezuela “problemática”. A Venezuela torna o caráter anti-imperialista do bloco ainda mais visível. Não há dúvidas de que o convite de Putin para que o país caribenho ingressasse no bloco tem como objetivo, além de uma série de cooperações importantes para ambas as nações, dar um claro recado para o mundo: a Rússia é contra a ingerência norte-americana na América Latina.
O segundo artigo, publicado por O Estado de S. Paulo, reforça essa posição. Segundo o cínico periódico da Família Mesquita, o BRICS teria exposto, “de um lado, sua faceta original de uma coalizão de economias emergentes buscando seu lugar ao sol; de outro, a nova faceta de um clube geopolítico de viés autocrático e antiocidental liderado por China e Rússia”. Trata-se, portanto, de uma intriga visando voltar os países dos BRICS contra o seu bloco dirigente.
O curioso é que o jornal não se pergunta porque as economias são “emergentes” – isto é, atrasadas. Elas o são justamente porque os países que hoje controlam a ordem mundial nunca permitiram que se desenvolvessem plenamente. É o caso do Brasil, que viu a sua indústria automobilística nacional ser destruída pelos interesses estrangeiros.
O governo brasileiro, na medida em que atuou deliberadamente para impedir que a Venezuela ingressasse no bloco, está cumprindo exatamente aquilo que a imprensa golpista, lacaia do imperialismo norte-americano, tanto deseja. O Brasil está tentando impedir que o BRICS se desenvolva como um bloco “anti-Ocidente”. O que, na prática, significa atuar para que os países “emergentes” continuem para sempre “emergentes” – isto é, atrasados.
O governo Lula, sendo um governo que foi eleito em meio a uma ampla mobilização popular, se choca diretamente com os interesses de sua base ao adotar tal política. O grave veto à Venezuela, além de ser uma covardia com um irmão pobre sob ataque do imperialismo, é uma jogada alinhada com a estratégia do imperialismo para a América Latina. Estratégia essa que tem em seu horizonte próximo a derrubada de todos os governos que não sejam absolutamente subservientes à política criminosa dos grandes monopólios.