Na última quinta-feira (24), o governo brasileiro, por meio da delegação liderada pelo diplomata Eduardo Paes Saboia e pelo embaixador sionista Mauro Vieira, vetou a entrada da Venezuela no grupo BRICS, traindo o povo venezuelano e gerando uma forte revolta do governo do país. A República Bolivariana de Venezuela classificou, acertadamente, o ato como uma “agressão inexplicável e imoral”, destacando que o Brasil, parceiro histórico da Venezuela, havia traído essa relação em um momento crucial onde o povo é agredido por embargos crescentes provenientes do imperialismo. Essa ação foi considerada pelo governo reeleito de Nicolás Maduro como um gesto hostil, que reforça as tensões geopolíticas atuais, nas quais as potências imperialistas buscam limitar a influência de países como a Venezuela.
Saboia, um nome pouco conhecido pelo grande público, mas influente nas decisões diplomáticas do Brasil, possui uma longa trajetória que demonstra sua profunda ligação com setores da direita brasileira.
Nascido em 1967, no Rio de Janeiro, Eduardo Paes Saboia é bacharel em Direito pela Universidade de Brasília. Sua carreira diplomática começou em 1990, e ao longo dos anos, ele acumulou diversas posições de destaque. Entre 2018 e 2022, ao fim do governo golpista de Michel Temer (MDB) e durante o governo Bolsonaro, Saboia ocupou o cargo de embaixador no Japão.
Sua trajetória inclui ainda passagens pela missão brasileira junto à ONU, ALADI e na Embaixada em La Paz, na Bolívia. Além disso, foi chefe de gabinete do Ministro das Relações Exteriores durante o governo de Michel Temer (MDB), quando Aloysio Nunes (PSDB) assumiu a pasta.
O namoro com setores da direita foi consolidado em 2013, quando Eduardo Paes Saboia, então embaixador na Bolívia durante o governo Dilma Rousseff, organizou uma operação para trazer ao Brasil o senador boliviano Roger Pinto Molina, opositor ao governo de Evo Morales, que coordenava um golpe de Estado sob a orientação da CIA, a sinistra agência do serviço secreto norte-americano. Na ocasião, Saboia alegou risco iminente à vida do senador, conduzindo a fuga de Molina sem autorização dos governos de Dilma Rousseff e de Evo Morales. A operação não apenas gerou uma crise diplomática com a Bolívia, mas também custou o cargo do então chanceler Antonio Patriota.
A relação de Saboia com partidos como PSDB e MDB ficou ainda mais evidente quando o diplomata foi promovido pelo presidente Michel Temer ao posto de ministro de Primeira Classe, o mais alto na carreira diplomática. Essa promoção veio pouco depois de Saboia ser nomeado chefe de gabinete de Aloysio Nunes, outro político com forte ligação ao PSDB. Assim, o diplomata consolidou sua posição como uma figura de confiança dos setores mais à direita da política brasileira.
A postura de Saboia sempre incomodou a ex-presidenta Dilma Rousseff, que chegou a solicitar sua demissão após o incidente envolvendo o senador boliviano Roger Pinto Molina. Na época, Dilma interpretou a ação do diplomata como uma quebra de protocolos e uma interferência direta nas relações diplomáticas entre Brasil e Bolívia. Em resposta, Dilma decidiu remover o então chanceler Antonio Patriota, e Saboia foi transferido para a Secretaria de Estado do Itamaraty, enquanto era investigado por uma comissão disciplinar.
Apesar da forte desaprovação de Dilma, Saboia foi promovido durante o governo Temer, em um movimento que não apenas validou suas ações passadas, mas também reforçou sua posição de destaque na estrutura diplomática brasileira. Apesar dos pedidos da presidenta brasileira, Saboia não foi punido, sendo suspenso apenas por 20 dias.
No atual governo de Luiz Inácio Lula da Silva, Saboia assumiu a chefia da Secretaria de Ásia e Pacífico no Itamaraty (sede do Ministério das Relações Exteriores), reforçando sua influência nas decisões diplomáticas do País. Recentemente, no entanto, essa influência ficou mais evidente com o veto brasileiro à entrada da Venezuela no BRICS.
A nota oficial do governo venezuelano menciona explicitamente o nome de Eduardo Paes Saboia como o responsável por manter o veto que havia sido aplicado durante o governo Bolsonaro, acusando-o de reproduzir políticas de exclusão e intolerância promovidas por potências imperialistas. O governo de Nicolás Maduro destacou o veto como um reflexo das tensões geopolíticas atuais, onde potências ocidentais buscam conter o crescimento de nações que contestam sua hegemonia.
Para a Venezuela, o BRICS representa um espaço de cooperação entre países que compartilham a visão de um mundo multipolar, e a decisão brasileira de impedir a entrada do país foi recebida como a efetivação de uma traição. Maduro, por sua vez, enfatizou seu otimismo sobre o futuro e reforçou a importância de fortalecer alianças com países como Rússia e China.
Apesar das críticas de Dilma Rousseff e do desconforto de setores progressistas, Eduardo Paes Saboia permanece como uma figura de continuidade na política externa brasileira. Ainda neste ano, Dilma Rousseff, atual presidente do banco de desenvolvimento do BRICS, pediu à Lula a cabeça de saboia, alguns meses antes da Cúpula que aconteceu em Cazã, quando o encontrou no hotel e tomou ciência do cargo que ocupava. Lula, por sua vez, negou.
A permanência de Saboia em posições de destaque, tendo aval principalmente do presidente Lula, levanta diversas dúvidas sobre a coerência da política externa brasileira com o que o próprio presidente, historicamente, defendeu. A acusação de traição não é leviana, pois a submissão ao imperialismo é uma traição aos venezuelanos, que sempre estenderam a mão ao povo brasileiro na defesa contra o golpe, no combate à pandemia no Norte e na aliança política. É uma traição a política histórica de relações entre Brasil e Venezuela.