A candidatura de Guilherme Boulos à prefeitura de São Paulo, outrora louvada pela imprensa e apresentada com grande entusiasmo por parte da esquerda brasileira, hoje se revela como um embuste em desmoronamento. No último dia 24, o editorial do jornal Estado de S. Paulo não poupou ironias ao comentar sua trajetória e deboche ao tratar da sua “conversão de ‘marxista revolucionário’ a candidato desengonçado”.
“A um repórter do Estadão em 2014, Boulos se disse ‘um marxista com a missão de acumular forças políticas para a revolução socialista’. Já de barba aparada e terno bem cortado, o deputado Boulos, eleito em 2022, vocalizou sua intenção de derrubar as reformas e o marco do saneamento e votou contra o arcabouço fiscal do próprio governo Lula. Que ironia”, destacou o editorial.
A suposta mudança de Boulos não passou despercebida pelos setores que o financiaram ao longo dos anos. A campanha de Boulos para a prefeitura de São Paulo é a mais cara do País, tendo destinado cinco milhões de reais à contratação de cabos eleitorais, tamanho o caráter burguês de sua candidatura. Ainda assim, nem mesmo o investimento vultoso garantiu o sucesso esperado, com Boulos quase ficando de fora do segundo turno. Sua campanha, embalada por toda sorte de demagogia, incluindo a defesa do “empreendedorismo”, não conseguiu convencer nem a burguesia que ele tanto tentou agradar.
O que muitos interpretam como capitulação de Boulos à direita não é novidade para quem sempre o denunciou como o oportunista que é. Desde o famoso “Não vai ter Copa”, este Diário alertava que o psolista nada mais é do que um infiltrado da direita no campo da esquerda, utilizando a verborragia esquerdista como fachada.
Agora, em sua campanha à prefeitura, Boulos revela sua verdadeira face: o direitista que sempre foi. Sua aproximação com a ROTA inserida em sua campanha, com os banqueiros na defesa do corte de despesas sociais e mais recentemente, a política do “empreendedorismo” contra os interesses da classe trabalhadora, além da tentativa de cortejar o empresariado, não são sinais de conversão, mas uma confirmação do que já havíamos apontado há 10 anos.
Durante um longo período, a propaganda incansável da Folha de S. Paulo conseguiu convencer setores desorientados da esquerda pequeno-burguesa de que Boulos era um líder revolucionário genuíno. Matérias como A revolução Boulos, publicada em 2020, são exemplo disso. Na ocasião, Folha retratou Boulos como “a única candidatura de contestação nacional” e o homem capaz de superar a “fratura entre centro e periferia”. Esse retrato foi utilizado para construir a imagem de Boulos como o novo líder incontestável do campo progressista em São Paulo, ignorando completamente as suas raízes direitistas.
Outras publicações, como a Jacobin, também caíram nesse embuste, acreditando que Boulos representava uma plataforma radical capaz de superar o neoliberalismo e unir movimentos sociais contra a extrema-direita. A matéria Boulos já venceu politicamente – agora ele só precisa virar nas urnas é um exemplo claro de como setores da esquerda foram seduzidos por essa propaganda barata de “radicalidade”.
A esquerda pequeno-burguesa que depositou suas esperanças no “projeto Boulos” agora se vê diante de um picareta disposto a defender qualquer coisa, por mais reacionária que seja. E o próprio Boulos, que sonhava em ser uma espécie de “Gabriel Boric” à brasileira, isto é, um direitista de aparência esquerdista, ficou a ver navios, na medida em que a classe dominante já dá sinais de que partirá para um bolsonarismo turbinado.
Boulos, com sua trajetória errante e suas tentativas fracassadas de se adequar ao jogo eleitoral burguês, tornou-se irrelevante. Tentou se rastejar para os braços do mercado financeiro, com discursos de conciliação e acenos ao empresariado, mas o editorial do Estadão deixa claro: é um picareta que não terá serventia no momento.