Previous slide
Next slide

Brasil

A esquerda que não for para o enfrentamento irá sucumbir

A defesa da apatia por parte da esquerda pequeno-burguesa revela estratégia que visa manter a esquerda em um estado de inércia diante dos desafios políticos, nas eleições e depois

Em um curioso artigo para o portal Brasil 247 intitulado Este é o grito de guerra: partam para o enfrentamento, Moisés Mendes faz uma entusiasmada defesa da apatia, como se a pasmaceira fosse uma virtude e a defesa do enfrentamento, algo negativo. “Mas que enfrentamento, companheiro?”, questiona o autor, esclarecendo na sequência: “o enfrentamento com pautas, dizem, com retórica e ação política” e acrescentando por fim, “enfrentamento pela radicalidade da volta às origens das esquerdas pós-ditadura”. Claro que Mendes colocaria de forma caricata, porém o objetivo central, como fica evidente, é desacreditar quem quer uma reação enérgica da esquerda após o fiasco retumbante no primeiro turno. Diz o autor:

“Proliferam na internet, em escritos e em falas, receitas de bolo de como encarar o crescimento da direita, a partir da calibragem de discurso e do tom das mensagens eleitorais em São Paulo, Porto Alegre, Fortaleza. Partam para o enfrentamento, esse é o grito de guerra.”

A afirmação de Mendes é emblemática do direitismo dos setores da esquerda que presos aos arranjos derrotistas produzidos pela Frente Ampla, insistem na defesa da apatia. Com isso, terminam apoiando táticas que ignoram completamente o clamor do povo por uma transformação verdadeira e radical da sociedade.

Enquanto isso, a extrema direita se destaca não apenas pela retórica incisiva, mas por um posicionamento político claro, conectado diretamente com as frustrações populares, em uma total inversão auxiliada por Mendes. Ao desqualificar de maneira tosca o que chama de “enfrentamento” (isto é, uma politização da campanha eleitoral) o autor demonstra o temor de se posicionar de maneira contundente, refletindo um método próprio da pequena burguesia de fazer política, muito útil para se evitar compromissos reais. Essa hesitação gera um vácuo que a direita não hesita em ocupar, explorando o ressentimento e a insatisfação da população com um sistema do qual a direita é a defensora e a esquerda deveria enfrentar.

A polarização que observamos na sociedade brasileira é um indicativo de que a população está cansada de candidaturas “limpinhas”, que se esquivam de um compromisso profundo com as questões que realmente importam, de fundo político. Soluções meramente administrativas falham em abordar a essência dos problemas e em meio à polarização, tendem a ser desprezadas pelo povo.

A esquerda, por sua vez, ao adotar a tática derrotista defendida por Mendes, se alia ao polo dos vampiros odiados pela população. O demonstra total ignorância de como anda os humores da população contra os exploradores no parágrafo:

“Brancaleones de internet, que nunca entraram numa vila, recomendam com empáfia, enquanto balançam o copo com gelo: partam para o enfrentamento.

Há nessa gritaria uma certa arrogância do glamour acadêmico, de quem teria lugar de fala e lugar de titulação. Gente com títulos, que conhece a história, com carteiraço, com formação teórica que a habilita a determinar: partam para o enfrentamento.”

Ora, tivesse feito Mendes o que cobra e ido a uma vila ou se dado ao trabalho de conversar com os trabalhadores, teria observado o fenômeno acima descrito, da evolução da polarização do povo e como isso tem empurrado a população de um modo geral a um estado de asco com o figurino tucano, que por sinal, Boulos imita muito bem ao fugir de um questionamento sobre a Palestina dizendo não ser candidato a prefeito de Telavive e em outras posições bem pensantes.

Por fim e expressando a profundidade do seu esquerdismo pequeno-burguês, Mendes faz uma defesa do ex-presidente uruguaio José “Pepe” Mujica, homem cujo governo foi tão direitista que tornou desnecessário um golpe de Estado no Uruguai, ao contrário do que ocorreu no resto do subcontinente, durante o realinhamento que o imperialismo operou na política latino-americana a partir de 2008, com o golpe em Honduras.

A defesa da apatia por parte de Mendes revela uma estratégia que visa manter a esquerda em um estado de inércia diante dos desafios políticos, nas eleições e depois. Mendes não apenas enfraquece a possibilidade de uma luta efetiva, mas promove uma tática derrotista que se distancia das reais necessidades do povo. O que ele sugere, na prática, é que apenas a direita lute por sua política.

Essa tática de recuo é inaceitável. O verdadeiro enfrentamento é inevitável e necessário; no entanto, ao escarnecer de quem defende uma política mais combativa, Mendes contribui para alimentar a passividade. É essa postura que cria um vácuo ocupado pela direita, que fazendo o oposto do que defende o pequeno-burguês, consegue capitalizar o descontentamento popular e crescer.

A polarização crescente na sociedade brasileira não é um fenômeno a ser temido, mas sim uma oportunidade de lutar por uma transformação de impacto. Ignorar isso é um convite à irrelevância, uma auto-sabotagem que perpetua o domínio de um sistema político podre, decadente e odiado. Mendes propõe, assim, uma apatia que, longe de ser uma virtude, é uma estratégia derrotista.

Gostou do artigo? Faça uma doação!

Rolar para cima

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Quero saber mais antes de contribuir

 

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.