Nas últimas semanas, a vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, surpreendeu ao anunciar que Liz Cheney, uma conhecida neoconservadora, faria parte de sua campanha para as eleições presidenciais de 2024. A decisão gerou reações imediatas tanto entre apoiadores quanto opositores, destacando o papel controverso de Cheney nas políticas de guerra do Oriente Médio.
Liz Cheney, ex-congressista e filha do ex-vice-presidente Dick Cheney, tem uma longa trajetória na política norte-americana, marcada por seu apoio às intervenções militares no exterior, especialmente no Oriente Médio. Ao longo de sua carreira, defendeu a invasão do Iraque, sendo uma das principais vozes a sustentar a ideia de que o regime de Saddam Hussein possuía armas de destruição em massa — uma alegação que posteriormente foi desmentida.
Além disso, Cheney foi uma crítica fervorosa da retirada das tropas americanas do Afeganistão e sempre advogou por uma postura militarista contra o Irã. Segundo a agência russa RT, Cheney “quer ir à guerra com todos os países muçulmanos conhecidos pela humanidade”, um posicionamento que remete à doutrina belicista defendida por seu pai, Dick Cheney, durante os governos de George W. Bush.
A presença de Cheney na campanha de Harris não passou despercebida. O ex-presidente Donald Trump atacou imediatamente a decisão, chamando Cheney de “falcão de guerra burro” e afirmando que sua participação na campanha de Harris alienaria eleitores árabe-americanos, especialmente em estados decisivos como Michigan, Pensilvânia e Wisconsin, onde essa comunidade é significativa. De acordo com Trump, citado pela Newsweek, “Os eleitores árabe-americanos estão muito irritados que a camarada Kamala Harris […] esteja fazendo campanha com a ‘falcão de guerra burra’, Liz Cheney.” Trump alertou que, se Harris vencer, o Oriente Médio “passará as próximas quatro décadas em chamas”, sugerindo que seu governo traria mais instabilidade e violência para a região.
Essa crítica de Trump toca em um ponto sensível: a situação no Oriente Médio, já marcada por conflitos intensos e crises humanitárias. A contínua ofensiva de “Israel” contra o Hamas em Gaza, apoiada pelos EUA, gerou indignação global, com denúncias de genocídio contra o povo palestino. Segundo o órgão do imperialismo norte-americano New York Times, os Estados Unidos enviaram secretamente tropas de operações especiais para auxiliar “Israel” no conflito, além de drones de ataque MQ-9 Reaper que estão sendo utilizados contra territórios palestinos. A aliança de Harris com Cheney, que representa a continuidade das políticas intervencionistas americanas na região, levanta preocupações sobre a intensificação desses conflitos. No cenário atual, em que países como Irã e Síria enfrentam sanções e ameaças militares constantes, a perspectiva de uma nova administração Harris com uma figura como Cheney a seu lado indica que a política externa americana continuará a priorizar a guerra e o controle militar sobre países considerados “atrasados”.
Recentes tensões internacionais também indicam a preparação para um conflito militar de grandes proporções. No último domingo (20), o Exército de Libertação Popular da China detectou a passagem de navios de guerra dos Estados Unidos e do Canadá pelo Estreito de Taiwan, uma provocação clara para a China, que considera Taiwan parte de seu território. Segundo informações da RT, o governo chinês criticou severamente o movimento, chamando-o de uma violação de sua soberania.
Além disso, no Oriente Médio, o Irã permanece em alerta máximo devido às contínuas ameaças de “Israel”. Durante uma cerimônia em homenagem ao general iraniano Abás Nilforushan, assassinado por “Israel” em um ataque aéreo no Líbano, Iraj Masjedi, comandante adjunto da Força Quds do Corpo de Guardiões da Revolução Islâmica (CGRI), reafirmou que as forças iranianas estão preparadas para retaliar qualquer agressão israelense.
Enquanto isso, as tensões na Península Coreana também aumentam. Segundo a RT, a Coreia do Sul convocou o embaixador russo para discutir o suposto envio de soldados norte-coreanos para auxiliar a Rússia na guerra contra o regime de Vladimir Zelenski, um movimento que intensifica as preocupações sobre uma escalada no conflito da Ucrânia. Além disso, o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, ordenou a explosão de rodovias e ferrovias que ligam seu país à Coreia do Sul, em resposta a provocações sul-coreanas.
A crise entre o bloco imperialista e o Iémen, liderado pelo Ansar Alá, atingiu um novo patamar com ataques aéreos dos EUA. Segundo a emissora libanesa Al Mayadeen, os ataques não atingiram os depósitos de armas do Ansar Alá, mas demonstram a crescente agressão imperialista na região.
Trump, que tem se esforçado para reconquistar o apoio de eleitores árabe-americanos, continua a criticar Harris por sua aliança com Cheney, chamando-a de uma política que apenas prolongará os conflitos no Oriente Médio. Embora Trump também tenha um histórico controverso em relação à política externa, ele tenta se posicionar como um defensor da paz, prometendo o fim das intervenções militares americanas caso seja reeleito.
Essa aliança Harris-Cheney é um sinal claro de que, ao atrair figuras republicanas desiludidas com Trump, Harris está se consolidando como a candidata oficial do imperialismo americano. Sua escolha por Cheney revela uma estratégia de unir forças com aqueles que, historicamente, apoiaram as políticas mais agressivas e devastadoras para o Oriente Médio, demonstrando que a política imperialista dos EUA não pretende diminuir seu ímpeto.
Se eleita, Harris e sua equipe provavelmente darão continuidade à política de controle militar sobre as nações mais vulneráveis, mantendo as intervenções e aumentando a presença militar em regiões estratégicas. A análise recente do presidente do Partido da Causa Operária Rui Costa Pimenta, durante transmissão do programa Análise Internacional na Causa Operária TV, destaca que a política de guerra do imperialismo é inevitável e se intensificará nos próximos anos.
Segundo Pimenta, “pode acontecer agora ou mais para frente, mas é inevitável […] o imperialismo não pode conviver com a situação atual”. Para ele, a situação no Sudeste Asiático, especialmente em Taiuã, pode ser o próximo grande foco de provocação imperialista, com um possível reconhecimento da independência de Taiuã pelos EUA e seus aliados, o que levaria a uma resposta militar chinesa.
Com a crise econômica global já em curso, a escalada militar apenas agravará as condições econômicas e sociais, tanto nos países imperialistas quanto nas nações atingidas pelos conflitos. Segundo Pimenta, “vai morrer muita gente se houver guerra, e isso pode provocar uma grande crise social nos países imperialistas”. Ao que tudo indica, o próximo período será marcado por uma intensificação das tensões internacionais, com os EUA, sob a liderança de Harris, prontos para continuar sua política de guerras intermináveis em nome de seus interesses econômicos e geopolíticos.