Segundo um artigo publicado no último dia 21 pelo sítio Alma Preta, 17 ex-funcionárias do Ministério das Mulheres denunciaram, em condição de anonimato, a ministra Cida Gonçalves e sua secretária-executiva Maria Helena Guarezi, por “situações de assédio moral e racismo dentro do Ministério das Mulheres, em especial contra mulheres negras”, conforme a matéria Ministério das Mulheres é alvo de denúncias de assédio moral e racismo. Assinada por Fernando Assunção e Pedro Borges, a matéria com as denúncias tratam a demissão da ex-secretária de Articulação Institucional, Ações Temáticas e Participação Política (Senatp) Carmen Foro, exonerada em 8 de agosto, como o momento em que as coisas ficaram especialmente ruins.
Em reunião ocorrida em 12 de agosto e já sem a presença de Foro, a ministra acusou a ex-secretária de priorizar a campanha eleitoral no Pará, de olho nas eleições de 2026. Segundo os denunciantes, a ministra teria ainda pressionado outras servidoras ligadas a Foro a se demitirem:
“Pode ser que boa parte de vocês também podem sair, ou não, depende de como vai ser o processo da nova secretaria. A princípio eu tinha dito para a Carmen, que quem é dela, que veio com ela, tinha que ir”, teria dito Gonçalves em um trecho de uma conversa gravada e tornada pública pela denúncia de Alma Preta. “E se vocês acham que eu não sei o que acontece nos corredores, eu sei. Cara, eu sei tudo”, teria dito também a ministra.
Para reforçar a campanha identitária, os denunciantes acrescentaram ao órgão que antes, em uma reunião ocorrida em 24 de abril, Guarezi teria solicitado que Foro se sentasse, alegando que seu cabelo crespo “atrapalhava a visão” do espaço. Segundo Alma Preta, cinco pessoas presentes denunciaram o caso. “A ministra Cida Gonçalves não estava na reunião, mas foi informada dos fatos”, informa a matéria, concluindo, porém, que, “nenhuma ação foi tomada ou repreensão à Guarezi foi feita”.
Desde o início da gestão de Gonçalves, 59 demissões foram registradas, levando a pasta a ser apelidada de “Ministério do Assédio” pelos denunciantes. As ex-funcionárias relataram um ambiente de trabalho caracterizado por assédio moral, com relatos de crises de ansiedade, burnout e outros problemas psicológicos.
Em resposta às denúncias, a Controladoria-Geral da União (CGU) anunciou que está investigando os relatos de assédio e racismo no Ministério das Mulheres. A CGU solicitou informações sobre as denúncias e afirmou que tomará as medidas necessárias conforme as competências legais do órgão.
Cida Gonçalves, em entrevista ao portal Poder360, manifestou que continuará a trabalhar normalmente e que quaisquer decisões sobre seu afastamento são de competência do presidente Lula. A ministra, contudo, não se pronunciou sobre as acusações.
O descontentamento crescente entre ex-funcionárias e o movimento negro, em geral, é notável. Críticas dos identitários à falta de ação da ministra frente ao que consideram racismo e ao assédio moral têm surgido não apenas de dentro do ministério. Esses episódios refletem um acirramento das pressões identitárias contra o governo Lula, que após conseguirem demitir de maneira sumária o antigo ministro dos Direitos Humanos Silvio de Almeida, retomam uma campanha paredista. Um trecho da denúncia apresentada por Alma Preta dá o tom da política por trás das denúncias:
“Um ex-funcionário enviou um e-mail para toda a equipe, em outubro de 2023, com um texto sobre a exoneração e uma série de reclamações. A reportagem teve acesso a esse documento.
Ele declarou que é eleitor do presidente Lula, mas viveu no atual governo as coisas que temia sofrer no governo Bolsonaro e que só se concretizaram na gestão petista [grifo nosso]. Ele afirma que a casa [o Ministério] é ‘craque’ em promover assédio moral, diz que teve o trabalho descrito como ‘buscador de papel de impressora’ e enxergou isso como um ‘tratamento vil’, como há muito tempo não recebia.”
Segundo o sítio Mundo Negro, o descontentamento também se estende ao Ministério da Igualdade Racial, onde líderes do movimento negro expressaram preocupações sobre a falta de diálogo e a exclusão de suas vozes nas decisões políticas. Uma carta enviada ao presidente Lula por dez entidades do movimento negro criticou a gestão da ministra Anielle Franco e pediu uma revisão nas práticas do ministério, que consideram insuficientes para atender às demandas históricas do movimento.
As denúncias de assédio moral e racismo no Ministério das Mulheres revelam uma crise de confiança que pode ter repercussões sérias para o governo Lula. Com a pressão aumentando tanto de dentro quanto de fora do ministério, a necessidade de ação imediata se torna ainda mais urgente. Para que o governo mantenha sua credibilidade e compromisso com a igualdade racial e de gênero, é fundamental que as acusações sejam tratadas com a seriedade que merecem, garantindo um ambiente de trabalho saudável e respeitoso para todos.
Esses episódios não apenas abrem um espaço para a reflexão sobre a gestão atual, mas também servem como um alerta sobre a importância de políticas inclusivas e eficazes que realmente atendam às necessidades da população, especialmente das mais vulneráveis. O futuro das políticas de igualdade no Brasil pode depender da capacidade do governo de responder adequadamente a essas crises e restabelecer a confiança de seus aliados mais próximos.