Alex Solnik publicou coluna no portal Brasil 247, no último dia 18, chamada Há dois anos no poder, o PT atribui derrotas eleitorais à manipulação da direita. O conteúdo do artigo é bem pitoresco ao apontar como problema do PT na eleição não a adaptação à política da direita, mas a um suposto esquerdismo do partido.
Segundo Solnik, a “contradição fundamental” do PT é seu apoio a regime que ele, Solnik, considera ditaduras, como Cuba e Venezuela. Solnik e o imperialismo, esses países tão democráticos como Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra.
“Quando a extrema-direita, comandada por Jair Bolsonaro, tentou mudar o regime do Brasil de democracia para ditadura, derrubando o presidente eleito, Lula da Silva, a posição unânime da direção nacional do PT foi repudiar o golpe de Estado que levaria ao regime autoritário.
“A mensagem para o público foi: o PT é um convicto defensor da democracia.
“De lá para cá, a mesma direção nacional do PT declarou apoio e fez acordos com o Partido Comunista chinês, com o Partido Comunista Cubano, e com o regime autoritário da Venezuela.
“E nenhum acordo, nem apoio a algum partido de outros países genuinamente democráticos.”
De fato, estamos diante de uma contradição. Mas ao contrário de Solnik, o problema é justamente que o PT e Lula não apoiam de maneira decidida a China, Cuba, Venezuela, Nicarágua, países que estão lutando contra a força mais anti-democrática da história que é o imperialismo.
Segundo o colunista, os regimes desses países são ditaduras. Ele tem a mesma opinião, por exemplo, da democratíssima Rede Globo, que por sua vez repete a opinião do norte-americanos.
Ele critica o PT por não apoiar partido e países “genuinamente democráticos”. Segundo ele, esses partidos são os “países social-democratas europeus”. Ele não cita exatamente quais, mas é muito interessante saber que Solnik realmente acredita que o PSUV na Venezuela é um partido autoritário, enquanto que o Partido Social-democrata alemão ou o Partido Socialista francês ou o Partido Trabalhista britânico são democráticos.
Esses partidos tão democratas estão ou já estiveram nos governos desses países imperialistas e representam a política imperialista de esploração dos povos do mundo. No caso da Palestina, por exemplo, todos eles, cada um a seu modo, é cúmplice do genocídio que está ocorrendo.
Esses são os democratas para Solnik?
“Na hora das primeiras eleições nacionais depois de superado o golpe de Estado no Brasil, essas de agora, o eleitor não sabe se ao votar em candidatos petistas está votando no PT que defendeu a democracia em 2023 ou no PT que no plano internacional apoia regimes incompatíveis com a democracia.
“O eleitor não sabe se o PT quer um Brasil democrático ou autoritário.”
Há uma verdade nisso que diz Solnik, mas por motivos opostos dos que ele apresenta. O eleitor fica desorientado, sem saber se o PT é de esquerda mesmo ou se é paga pau do imperialismo.
A direita, por sua vez, se aproveita dessa vacilação e acusa o PT de “defender ditaduras”, o PT, em vez de esclarecer o povo sobre quem são as verdadeiras ditaduras, vacila e reforça a posição da direita.
“Ao ver os resultados das urnas, como os dessa eleição, petistas derrotados costumam culpar a ‘mídia antipetista’ ou o ‘eleitor manipulado pela direita’, sem tentar entender por que a mídia é antipetista ou por que o eleitor, apesar de ser governado por um presidente petista há dois anos, é tão vulnerável a ponto de ser manipulado pela direita que está há dois anos fora do poder.”
Realmente, a culpa não é do povo e atribuir as derrotas à imprensa golpista não é suficiente. O problema essencial é a política. Mas Solnik analisa totalmente errado o problema. O problema do PT é justamente estar abandonando a defesa de princípios da esquerda, como a Venezuela e Cuba. Diferentemente do que diz Solnik, o PT precisaria voltar a ser minimamente de esquerda, esse é o problema.
Para defender coisas direitistas como as que quer Solnik, já existe a direita. O eleitor, então, prefere votar na direita, os defensores originais da política que Solnik chama de “democracia”.
“Democracias, como está em todos os manuais de política, não são de direita, nem de esquerda; são regimes que permitem a alternância no poder entre a esquerda e a direita, por meio de eleições livres e diretas.”
A democracia para Solnik é uma questão de manual. Assim, ele acredita piamente que Cuba e Venezuela são ditaduras e a Europa é democrática. O colunista ignora totalmente o problema essencial da política que são os interesses de classe. Por isso ele acredita no que o imperialismo fala contra China, Venezuela e Cuba.
A ideologia democrática do imperialismo é uma farsa. É preciso ter claro, é preciso abandonar isso.
O PT, para voltar a ter apoio, precisa resolver essa contradição fundamental, ou seja, precisa abandonar esse tipo de ideologia que defende Solnik.