O Partido Obrero da Argentina, em seu sítio na internet, publicou o seguinte artigo no último dia 5/7/2024: Vamos reagrupar as forças internacionalistas para lutar por uma solução revolucionária para a barbárie capitalista.
Traindo os ensinamentos de Leon Trótski, que o PO diz seguir, a posição “internacionalista” contida no texto é, na realidade, uma capitulação envergonhada diante da política imperialista. Envergonhada porque, ao invés de dizer “todo apoio à Ucrânia, contra a Russia”, o PO levanta a teoria dos “dois imperialismos”.
“Dois anos depois da guerra na Ucrânia, o conflito entre os dois blocos reacionários que se enfrentam nesta guerra imperialista continua longe de estar resolvido. Tanto Putin na Rússia como o regime fantoche da OTAN de Zelensky na Ucrânia refletem interesses capitalistas de dominação social e nacional.”
Vejam só a aula de capitulação. A OTAN, máquina de guerra imperialista comandada pelos EUA e que usa Vladimir Zelenski como fantoche seria “tão reacionária quanto Putin”. Quer dizer que todos os países imperialistas do mundo se juntam contra a Rússia, mas Putin é tão ruim quanto eles.
E qual a desculpa? Os dois “refletem interesses capitalistas”. Ou seja, como Putin é capitalista, ele é tão ruim quanto os Estados Unidos e a OTAN. Uma formulação que pode parecer genial para quem a formulou, mas é totalmente anti-trotskista, portanto, anti-leninista.
O PO perdeu as coordenadas fundamentais da política revolucionária que diz defender. De acordo com o raciocínio do texto, a esquerda não deveria, por exemplo, lutar contra nenhum golpe de Estado porque em quase 100% das vezes o governo que está para ser derrubado “reflete interesses capitalistas”.
Trótski e Lênin ensinaram que o imperialismo é a força mais reacionária do mundo e que os trabalhadores devem se colocar contra ele. Os trabalhadores devem, inclusive, fazer uma frente única com forças nacionalistas, ou seja, capitalistas, contra o imperialismo. Para o PO, no entanto, se Putin é capitalista, então ele é tão reacionário quanto o imperialismo.
Com isso, o PO acaba num alinhamento com a política do imperialismo porque não há, nesse caso, a possibilidade de não estar em nenhum dos lados. Diante da ofensiva imperialista contra a Rússia, a única posição possível para um revolucionário e para os trabalhadores é apoiar a Rússia contra o imperialismo.
Quando o assunto é Oriente Médio e genocídio palestino, a posição do PO, apesar de se colocar contra “Israel”, acaba sendo também ambígua. Não há uma posição clara sobre o papel do Irã na luta contra “Israel” e o imperialismo.
“Sem dúvida que a troca de mísseis entre Israel e o Irã, por mais limitada ou de baixa intensidade que tenha sido, mostra quão próxima a situação está da eclosão de uma guerra de outra dimensão.”
Para um texto que se propõe a discutir o “reagrupamento de forças internacionalistas”, ignorar o papel revolucionário do Irã tem na região e, por consequência, no mundo, é ignorar um fator fundamental na luta de classes atual. Não sabemos, porque nesse caso o PO não simplesmente se omite, mas a julgar pela lógica usada no caso da Rússia, o PO deve considerar o Irã um país reacionário.
Quando o assunto é América Latina, a posição do PO é ainda mais claramente pró-imperialista. Primeiro que não é dita uma palavra sequer sobre a Venezuela, que, embora a matéria tenha sido escrita antes da eleição, já passava por uma crise com a oposição imperialista. Mas sobre Cuba o texto fala:
“O processo de restauração capitalista em Cuba não conduziu a qualquer desenvolvimento econômico. Pelo contrário, processa-se um tremendo ajustamento contra os trabalhadores, que contrasta com os privilégios dos burocratas, dos empresários e do turismo. Opomo-nos ao embargo dos EUA e às intervenções imperialistas contra Cuba, o que não deve ser uma desculpa para tomar medidas em direção à economia capitalista e à opressão contra o povo. Apoiamos as genuínas explosões sociais que se geram contra a miséria e os abusos em Cuba e exigimos a libertação dos prisioneiros da rebelião da fome de 11 de julho de 2021.”
Aqui já não há mais confusão. Se a desculpa para não apoiar a Rússia contra o imperialismo era o governo capitalista de Putin, o PO também não quer apoiar o regime revolucionário de Cuba contra o imperialismo.
Se o imperialismo é contra, o PO também é contra, mas, para disfarçar, pinta sua capitulação com frases feitas contra o “capitalismo e o imperialismo”. Chamar as manifestações em Cuba de genuínas, se colocando lado a lado com o imperialismo que organizou, financiou e promoveu tais manifestações é uma falência definitiva de um grupo que se diz trotskista. Falar contra o embargo criminoso dos EUA contra o povo cubano não muda nada, é apenas perfumaria. A posição do PO é, essa, sim, vergonhosa e contrarrevolucionária.
Essas são algumas posições apresentadas no documento contido no sítio do PO. Elas demostram a completa separação do grupo dos fundamentos do trotskismo e o que é mais grave, um alinhamento total ao imperialismo. Diante do recrudescimento da luta de classes mundial, o PO se coloca do lado das forças mais reacionárias, representadas pelo imperialismo.
