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HISTÓRIA DA PALESTINA

Quem foi Iahia Sinuar, o arquiteto da Operação Dilúvio al-Aqsa

Atual líder do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) morreu lutando na cidade de Rafá

Nesta sexta-feira (18), o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) confirmou o martírio de Iahia Sinuar, atual líder do partido palestino. Reconhecido mundialmente como o grande arquiteto por trás da gloriosa Operação Dilúvio de Al-Aqsa, deflagrada no dia 7 de outubro de 2023 e que continua em curso, infligindo derrotas históricas ao Estado terrorista de “Israel”, Sinuar foi morto em combate na cidade de Rafá, lutando contra as tropas invasoras.

Nascido em 1962 no campo de refugiados de Khan Yunis, Sinuar é um homem cujas raízes remontam à diáspora palestina. Sua família foi forçada a abandonar o vilarejo de Al-Majdal Asqalan, destruído pelos sionistas e incorporado a “Israel” sob o nome de Ashkelon durante a Guerra Árabe-Israelense de 1948.

Formado na Universidade Islâmica de Gaza, no curso de Estudos Árabes, o jovem não seguiu a carreira acadêmica, dedicando-se à militância no Bloco Islâmico durante sua vida estudantil. Em 1982, acabaria preso pela ditadura de “Israel”, acusado de promover atividades antissionistas. Esse evento marcou o início de uma série de períodos de encarceramento, que não apenas aumentaram a sua convicção de que “Israel” deveria ser destruído, mas também consolidando os seus laços com líderes revolucionários palestinos, incluindo o Xeque Ahmad Yassin, fundador do Hamas preso em 1989 pelas forças sionistas.

Co-fundador da organização Al-Majd, focada em expor colaboradores locais e espiões, ele desempenhou um papel crucial na estratégia de consolidar Gaza como a fortaleza da resistência palestina. Em 1988, sua terceira prisão resultou em uma condenação à prisão perpétua por frustrar espionagem israelense, entre outras ações consideradas como subversivas.

A libertação só viria décadas depois, em 2011, como parte de uma troca de prisioneiros, o que marcou um ponto de inflexão em sua vida, devido a sua entrada no Hamas. Rapidamente, transforma-se em uma importante liderança do partido, sucedendo, em 2017, Ismail Hanié como líder do partido. Resultado de sua importância crescente no movimento revolucionário palestino, Sinuar é designado como “terrorista” pelo governo norte-americano em setembro de 2015.

Antes da Operação Dilúvio de Al-Aqsa, Sinuar era lembrado por um discurso profético de 2022, em que ameaçava “Israel” com um “dilúvio”, algo que se revelou uma previsão surpreendente dos eventos subsequentes da operação. A fala refletia a experiência resultante da Grande Marcha do Retorno, ocorrida em 2018, quando uma tentativa pacífica de quebrar o cerco a Gaza foi recebida com brutalidade israelense, evidenciando que só a resistência armada poderia acabar com o martírio do povo palestino.

O romancista por trás do gênio militar

Antes de tornar-se líder militar do Hamas, Sinuar esteve preso por 23 anos, por realizar uma operação contra dois soldados da ocupação sionista e quatro palestinos, colaboradores do regime sionista.

Porém, em seu tempo recluso, dentre os quais esteve quatro anos em solitária, o atual líder aprendeu hebraico através de jornais e executou planos de longo prazo. Sua soltura veio através de uma hábil negociação por parte da resistência, onde trocaram mais de mil prisioneiros palestinos por um único soldado israelense. Algo considerado um erro por diversos sionistas.

Em 2004, Sinuar, ainda prisioneiro, publicou seu romance, que em português pode ser traduzido como “Espinho de Cravos”. Nele o autor relata a luta do povo palestino, desde 1967 até a Intifada do ano 2000. Mesclando personagens reais e fictícios, porém todos inseridos no cenário daquele período.

O romance histórico atravessa as épocas e serve como referência para entender as crenças e o pensamento individual e coletivo dos palestinos durante o período retratado.

Sob a perspectiva de Ahmad, o leitor é levado a conhecer a realidade dos campos de refugiados: as condições de vida e a cultura da comunidade que lá vive, as condições climáticas, as transformações políticas em todo o território ocupado e a relação com a violência e perseguição promovida pelos sionistas.

Ahmad vive em um campo de refugiados em Gaza e testemunha a escalada da ocupação, assim como a da resistência, dessa maneira é possível observar como o contexto molda o caráter das pessoas envolvidas. Assim como o próprio surgimento e o desenvolvimento do Hamas. Ele narra a trajetória de Ibrahim, seu primo, órfão abandonado pela mãe após o martírio de seu pai.

Ibrahim é um sujeito que se criou sozinho, sem a referência de seus antepassados, precisando lidar com a realidade imposta a ele à sua própria maneira.

Essa condição fez com que ele se desenvolvesse sozinho, mas junto com seu povo, que termina por se desenvolver junto com ele, unindo sua existência ao compromisso político para com a sua comunidade.

Outra questão colocada é a relação entre crença religiosa e libertação nacional, afinal o romance tem início em 1967, período do fracasso do nacionalismo árabe, com a perda de diversos territórios de países como Egito e Síria para os sionistas.

Dessa maneira, a luta posterior a esses acontecimentos passa a ser carregada por um sentimento religioso, que é algo que permanece em meio as desgraças pelas quais o povo palestino foi submetido no período.

A partir daí, a religiosidade e a luta seguem juntas, sendo essa a base de criação do Hamas, justificando o martírio e o sacrifício de maneira geral, como algo inerente àqueles que optam pela resistência. Todo o amor e dedicação devem servir a causa da libertação nacional, não havendo qualquer espaço para outros sentimentos.

Afinal, sentimentos que levam o indivíduo a buscar sua própria estabilidade, sem levar em consideração a libertação de seu povo, podem ser explorados pelo inimigo e levar o sujeito a ser um colaborador da ocupação. No romance também há o esclarecimento que a construção de um movimento político, no caso a resistência palestina, depende de um grande nível de conhecimento da realidade que o cerca, sendo assim a única maneira de proteger e garantir a continuidade de suas ações. Portanto, une além da religião, a educação e a proteção.

A pistola de Sinuar

No dia 11 de novembro de 2018, uma operação criminosa de espionagem realizada por agentes do Mossad, o serviço de inteligência da entidade sionista, dentro da Faixa de Gaza resultou em uma série de eventos que não só expuseram os métodos do serviço secreto israelense, mas também consolidaram a posição de Iahia Sinuar como uma liderança efetiva do Hamas.

O plano, conduzido por oito agentes do Mossad disfarçados de palestinos, tinha como objetivo principal infiltrar dispositivos de escuta no sistema de comunicação privada do Hamas, o que teria permitido a “Israel” monitorar as atividades e estratégias do movimento de resistência. No entanto, a operação, que começou na cidade de Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza, tomou um rumo inesperado.

Durante a infiltração, os agentes israelenses foram interceptados por uma patrulha do Hamas que, após quase 40 minutos de questionamentos intensos, começaram a suspeitar da veracidade das identidades dos agentes, o que levou a um confronto armado. Usando pistolas com silenciadores, os agentes do Mossad abriram fogo, resultando na morte do comandante Nour Baraka, um dos líderes do Hamas, e de seu auxiliar. Em meio à troca de tiros, o chefe da equipe de espionagem, identificado como “Meni”, também foi morto.

A reação do Hamas foi imediata e intensa. Após a frustrada operação de espionagem, a Força Aérea israelense lançou bombardeios na área de Khan Younis para encobrir a retirada dos agentes sobreviventes de volta para o território ocupado. No entanto, o dano à reputação do Mossad já estava feito. Pouco tempo depois, uma investigação conduzida pela emissora catarense Al Jazeera revelou que os agentes israelenses pertenciam à unidade Sayaret Matkal, uma divisão de elite do Mossad especializada em operações de inteligência e reconhecimento, também revelando detalhes sobre como os agentes conseguiram entrar na Faixa de Gaza: sob a cobertura de uma organização humanitária internacional chamada Humedica. A missão, que pretendia ser furtiva, terminou com a exposição pública dos métodos e intenções do Mossad, além de aumentar a tensão já existente entre “Israel” e as forças de resistência palestinas.

Em 16 de novembro de 2018, apenas cinco dias após o confronto, Iahia Sinuar, então chefe do Hamas em Gaza, apresentou publicamente uma das pistolas com silenciador que haviam sido abandonados pelos agentes do Mossad no veículo usado durante a operação. O gesto simbólico de exibir a arma capturada não só representou uma vitória moral para o Hamas, mas também solidificou a imagem de Sinuar como um líder determinado.

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