Contrastando com a posição vergonhosa do governo federal, o Partido dos Trabalhadores e o Foro de São Paulo reconhecem a vitória eleitoral de Nicolás Maduro. O PT já havia emitido nota da Executiva Nacional do partido logo no dia seguinte às eleições do dia 28 de julho. Agora, no dia 16 de outubro, foi a vez do Foro de São Paulo, grupo integrado por diversos partidos da América Latina, incluindo o PCdoB e o próprio PT. Na contramão desta importante posição anti-imperialista, temos justamente a posição do governo Lula.
A nota da Executiva do PT, além de ser emitida na hora certa, diante da tentativa de um golpe de Estado apoiado pelo imperialismo, é firme e direta. Saudando o povo venezuelano, caracteriza o processo eleitoral como uma jornada “pacífica, democrática e soberana”. Reconhece ainda a autoridade do Conselho Nacional Eleitoral, que apontou a reeleição de Maduro e que avaliaria com lisura quaisquer recursos apresentados dentro dos “prazos e nos termos previstos na Constituição”.
Por fim, a nota ainda deixa claro seu caráter de enfrentamento à tentativa de golpe, comprometendo o partido com os esforços para que “os problemas da América Latina e Caribe sejam tratados pelos povos da nossa região, sem nenhum tipo de violência e ingerência externa”. Partindo do partido que elegeu o atual presidente do Brasil, a nota tem grande importância. Teria peso ainda maior, porém, se o governo acompanhasse esse posicionamento, que cabe pontuar não tem nada de “radical”, simplesmente reconhece o direito de autodeterminação do povo venezuelano.
A resolução do Foro de São Paulo, com pouco mais de dois meses de atraso em relação aos acontecimentos, avalia também a reação violenta da extrema direita pró-imperialista na República Bolivariana: “Dadas as ações da extrema-direita, se torna imperativo para nossas forças políticas fazer um chamado a respeitar as instituições democráticas da Venezuela e a autodeterminação do povo venezuelano com relação aos resultados eleitorais que deram a vitória ao presidente Maduro”.
O documento alerta para a “ameaça crescente do extremismo de direita, do neofascismo e do imperialismo”, instando para uma “unidade das forças democráticas, progressistas e revolucionárias, assim como levantar a bandeira da paz, a integração soberana e a justiça social em nossa região”. Nesse sentido, condena o “genocídio e a limpeza étnica do governo Netanyahu de Israel contra o povo da Palestina” e a “escalada da guerra na direção do Líbano, considerando ‘Israel’ como um governo que ‘não respeita nenhuma norma ou estrutura internacional.’”
O Foro de São Paulo ainda denuncia a atuação da OTAN, que “permanece como uma força de agressão e ameaça constante contra os povos do mundo”, se opondo às “propostas e tentativas de uma saída política para o conflito na Ucrânia, especialmente por parte do Brasil e da China”. A saudação que fecha o documento defende “a unidade dos povos da América Latina e Caribe pela paz e a autodeterminação”.
Enquanto isso, o governo brasileiro ainda não reconheceu oficialmente o resultado eleitoral na Venezuela, servindo como um apoio aos golpistas venezuelanos. A imprensa golpista brasileira, aproveita o posicionamento de figuras reacionárias do próprio PT para seguir pressionando o governo Lula.
A rede norte-americana CNN, por exemplo, usou péssima fala do deputado petista por Minas Gerais, Reginaldo Lopes, que expõe um enorme distanciamento entre os parlamentares do PT e sua base: “a posição do PT sobre Venezuela é desconectada com o que pensa o Lula e a grande maioria dos simpatizantes do PT. Somos um partido conectado com a democracia. A posição do Maduro gera um constrangimento para a América Latina”.
Ao contrário do que afirma o deputado, a posição oficial do PT está perfeitamente alinhada com o que pensam Lula e a base do partido. O que “constrange” a América Latina é a posição do governo brasileiro e de parlamentares do PT como o próprio Reginaldo.
Enquanto a direita petista sucumbe à pressão imperialista, a posição do governo peca especialmente pela omissão. Buscar um distanciamento ou uma “neutralidade” enquanto a Venezuela sofre uma sequência de ataques é apoiar a tentativa do imperialismo, liderado pelos Estados Unidos, de derrubar um governo nacionalista num país vizinho. Uma capitulação que, além de piorar a situação venezuelana, deixa o Brasil mais frágil diante da mesma ingerência externa.
Iniciativas como a tomada pela Executiva Nacional do PT e pelo Foro de São Paulo devem servir como impulso para que o governo Lula adote uma posição clara em defesa da soberania da Venezuela e dos países oprimidos de todo o mundo. Fora da América Latina, golpistas vendidos!