Nessa terça-feira, dia 15 de outubro, o jornal Opinião Socialista, do PSTU, publicou o artigo “Natal (RN): Contra Paulinho e a extrema direita, voto crítico em Natália”. A peça aponta para o chamado “voto crítico” do PSTU na candidata do PT, Natália Bonavides, enquanto simultaneamente faz uma enxurrada de críticas ao PT, inclusive no estado do Rio Grande do Norte. Diz o artigo:
“As eleições para a prefeitura de Natal chegaram ao segundo turno e o cenário que se apresenta é a disputa entre Paulinho Freire (União Brasil) e Natália Bonavides (PT). Dois projetos políticos que, apesar de suas diferenças, representam setores capitalistas da cidade. […] Agora, porém, para impedir o avanço eleitoral da extrema direita, representada por Paulinho Freire, e dialogar com uma parte importante dos ativistas e trabalhadores, indicamos o voto crítico em Natália Bonavides.”
Aqui temos algumas curiosidades. Em primeiro lugar, o PSTU aponta que ambas as candidaturas levariam adiante a política da burguesia, ou seja, não haveria diferença fundamental entre uma e outra. Ainda assim, chamam a impedir o “avanço eleitoral da extrema direita” para “dialogar com uma parte importante dos ativistas e trabalhadores”. É, em última instância, a declaração de que o próprio PSTU não possui programa político próprio algum, e sequer compreende a dinâmica da luta de classes no momento.
Aderem a um programa que denunciam como burguês, em nome de enfraquecer eleitoralmente a extrema direita. Contudo, o crescimento da extrema direita, o que faz com que ela represente uma ameaça à esquerda e aos trabalhadores não é um crescimento eleitoral, mas o apelo que ela obtém entre as massas, que vem se incrementando de maneira exponencial conforme a esquerda, em sua ampla maioria, se mostra um vazio político, uma massa amorfa sem um programa e sem compromisso algum com os trabalhadores. Em outras palavras, a colocação oportunista do PSTU, de que vai contra seu programa para “dialogar” com os trabalhadores, nada mais é que um atestado de falta de compromisso com qualquer coisa que digam defender.
“Trata-se de um voto contra a extrema direita e seu programa reacionário, mas crítico ao PT porque também não temos acordo com o programa petista de conciliação de classes. Estaremos junto com milhares de jovens e trabalhadores que almejam derrotar a extrema-direita nas urnas. Mas alertamos que a política de ‘Frente Ampla’ do PT com setores burgueses não resolve os problemas estruturais enfrentados pela população, pois busca conciliar os interesses dos capitalistas e dos trabalhadores, perpetuando o sistema de exploração e até ajudando a extrema direita.”
O PSTU declara quase um voto a favor do PT contra o PT, algo completamente sem sentido. Na prática, o que essa política demonstra é que o programa político, aquilo que se defende realmente, deve ser secundário frente a qualquer adversidade que apareça, no caso, de se há candidatura própria ou não. O que impede o PSTU de defender o seu programa, de apontar claramente que nenhum dos dois projetos o representa? Além da falta de programa do PSTU, temos a reafirmação de: “estaremos junto com milhares de jovens e trabalhadores que almejam derrotar a extrema-direita nas urnas”, o que evidencia que o PSTU simplesmente, além de não possuir um programa, sequer teria a coragem de defendê-lo, porque setores poderiam afirmar que está a favor da extrema direita ao defender seus próprios princípios (os quais ele não tem).
E é justamente isso o que leva amplos setores a aderirem à extrema direita mais feroz, o fato de ela afirmar categoricamente o que quer, ainda que sejam medidas completamente impopulares, como o aumento do encarceramento e o fortalecimento das polícias, o incremento do aparato repressivo do Estado. Isso destaca esse setor da direita tradicional, e da esquerda centrista, posição a que adere declaradamente o PSTU. Enquanto o partido denuncia o PT por “conciliar os interesses dos capitalistas e dos trabalhadores, perpetuando o sistema de exploração e até ajudando a extrema direita”, ele adere a exatamente a mesma política.
“Não temos ilusões nem confiança no PT. Seremos oposição de esquerda e socialista ao governo de Natália, caso seja eleita, porque repetirá em Natal o que Lula faz no país contra os trabalhadores.”
Quem poderia acreditar em qualquer afirmação do PSTU após, toda essa lenga lenga, expor tal declaração? Dizem se opor ao tal projeto político, mas não tem o mínimo de decência ao ponto de defenderem, claramente, às últimas consequências, aquilo que se propõem.
“No RN, a governadora Fátima (PT) é aliada das oligarquias, tem como vice Walter Alves, e governa criminalizando os direitos dos trabalhadores, a exemplo dos pedidos de ilegalidade das greves dos servidores públicos.”
É uma desmoralização total e completa.
“No primeiro turno, o PSTU apresentou um projeto socialista e revolucionário, enfrentando a extrema direita, as oligarquias e o PT. Agora, convidamos os companheiros […] que votaram no PSTU no primeiro turno, a continuarem conosco por uma alternativa de independência de classe, socialista e revolucionária, indicando o voto crítico em Natália Bonavides, mas sem adesão ao projeto petista. Precisamos derrotar tanto a extrema direta quanto a conciliação de classes e sua política do ‘mal menor’. Vamos seguir organizados e na luta por uma Natal Socialista.”
A proposta: derrotar a conciliação de classes realizando a conciliação de classes, contra a política do mal menor com a política do mal menor. O “socialismo” do PSTU, finalmente, é o socialismo dos que queriam, eles mesmos, estar negociando com a burguesia como melhor manterem-se em cargos com altos salários, enquanto gerenciam a piora das condições de vida dos trabalhadores.