Um levantamento exclusivo realizado pela agência de dados e estatísticas do Diário Causa Operária (DCO), a DataDCO, revelou um dado surpreendente: no primeiro turno das eleições municipais de 2024, a votação dos partidos de esquerda ficou limitada a apenas 10,35%. Enquanto isso, o bloco de partidos considerados “de centro” obteve 48,01% e os de extrema direita, um total de 41,57%. Os partidos considerados como sendo de “extrema esquerda” tiveram 0,07% dos votos válidos.
Para chegar a esse número, a equipe do DataDCO analisou a votação de cada um dos blocos em cada um dos 5.570 municípios brasileiros. Para efeitos de análise, consideramos como integrantes de cada bloco as seguintes agremiações:
- Extrema esquerda: Partido da Causa Operária (PCO), Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), Partido Comunista Brasileiro (PCB), Unidade Popular pelo Socialismo (UP);
- Esquerda: Partido dos Trabalhadores (PT), Partido Verde (PV)*, Partido Comunista do Brasil (PCdoB), Rede Sustentabilidade (Rede)*, Partido Socialismo e Liberdade (PSOL);
- Centro: Democracia Cristã (DC), Mobiliza, Cidadania, Solidariedade, Podemos, Avante, Partido Democrático Trabalhista (PDT), Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), Partido Socialista Brasileiro (PSB), Movimento Democrático Brasileiro (MDB), Partido Social Democrático (PSD), Agir;
- Extrema direita: Progressistas (PP), União Brasil, Republicanos, Partido Renovação Democrática (PRD), Partido Liberal (PL), Partido Novo (NOVO), Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB), Partido da Mulher Brasileira (PMB).
Em números absolutos, a votação de cada um dos blocos foi a seguinte:
- Extrema esquerda: 163.859;
- Esquerda: 23.062.856;
- Centro: 106.978.430;
- Extrema direita: 92.633.740.
Apenas no estado de São Paulo, maior colégio eleitoral do País, a extrema direita obteve quase a mesma quantidade de votos, em termos absolutos, que o total da esquerda no Brasil inteiro. Foram mais de 19 milhões de votos para a extrema direita naquele estado, cerca de 82% da votação que a esquerda obteve nas 26 unidades da federação.
Em praticamente todos os estados, predomina o mesmo cenário que o resultado nacional: a esquerda isolada, com uma quantidade pequena de votos, enquanto a direita e a extrema direita disputam o primeiro lugar na posição de bloco mais bem votado. Em apenas dois estados, a situação foi um pouco diferente. No Piauí, a esquerda teve um desempenho de 27,02%, ultrapassando os 24,51% dos votos da extrema direita, mas ficando bem atrás do centro, que obteve 48,46% dos votos. No Ceará, a esquerda alcançou 21,08% dos votos, contra 30,65% da extrema direita. No restante do País, o cenário foi verdadeiramente devastador:
- Acre: Esquerda (3,17%), Centro (35,67%), Extrema Direita (61,15%)
- Alagoas: Esquerda (2,96%), Centro (52,62%), Extrema Direita (44,42%)
- Amapá: Esquerda (6,16%), Centro (60,45%), Extrema Direita (33,39%)
- Amazonas: Esquerda (5,27%), Centro (48,54%), Extrema Direita (46,19%)
- Bahia: Esquerda (16,20%), Centro (50,78%), Extrema Direita (33,02%)
- Espírito Santo: Esquerda (4,89%), Centro (53,34%), Extrema Direita (41,77%)
- Goiás: Esquerda (5,49%), Centro (40,67%), Extrema Direita (53,84%)
- Maranhão: Esquerda (5,47%), Centro (51,16%), Extrema Direita (43,37%)
- Mato Grosso do Sul: Esquerda (6,46%), Centro (51,69%), Extrema Direita (41,85%)
- Mato Grosso: Esquerda (5,59%), Centro (31,92%), Extrema Direita (62,50%)
- Minas Gerais: Esquerda (9,47%), Centro (48,84%), Extrema Direita (41,68%)
- Pará: Esquerda (7,18%), Centro (60,07%), Extrema Direita (32,76%)
- Paraíba: Esquerda (3,95%), Centro (49,38%), Extrema Direita (46,67%)
- Paraná: Esquerda (5,74%), Centro (50,58%), Extrema Direita (43,68%)
- Pernambuco: Esquerda (8,19%), Centro (59,58%), Extrema Direita (32,24%)
- Rio Grande do Norte: Esquerda (9,36%), Centro (46,79%), Extrema Direita (43,84%)
- Rio Grande do Sul: Esquerda (12,51%), Centro (46,98%), Extrema Direita (40,51%)
- Rio de Janeiro: Esquerda (8,44%), Centro (42,89%), Extrema Direita (48,67%)
- Rondônia: Esquerda (2,59%), Centro (39,22%), Extrema Direita (58,18%)
- Roraima: Esquerda (1,31%), Centro (56,59%), Extrema Direita (42,10%)
- Santa Catarina: Esquerda (6,96%), Centro (44,66%), Extrema Direita (48,38%)
- São Paulo: Esquerda (13,26%), Centro (44,79%), Extrema Direita (41,96%)
- Sergipe: Esquerda (8,95%), Centro (49,41%), Extrema Direita (41,64%)
- Tocantins: Esquerda (2,79%), Centro (32,89%), Extrema Direita (64,32%)
Das 26 unidades da federação, em um total de 10, a esquerda obteve menos de 6% dos votos. Foram elas: Acre (3,17%), Alagoas (2,96%), Espírito Santo (4,89%), Goiás (5,49%), Maranhão (5,47%), Mato Grosso (5,59%), Paraíba (3,95%), Rondônia (2,59%), Roraima (1,31%).
Também merece destaque a votação baixíssima da esquerda nos estados da região nordeste, frequentemente apontado como um reduto eleitoral do Partido dos Trabalhadores (PT), devido aos programas de assistência social lá implementados. À exceção de Bahia, Ceará e Piauí, a esquerda não conseguiu chegar aos dois dígitos: Alagoas (2,96%), Bahia (16,20%), Ceará (21,08%), Maranhão (5,47%), Paraíba (3,95%), Pernambuco (8,19%), Piauí (27,02%), Rio Grande do Norte (9,36%), Sergipe (8,95%).
Ao mesmo tempo em que a esquerda teve um resultado catastrófico em todo o País, a extrema direita teve uma vitória histórica. Em oito estados, o setor mais direitista da política nacional ultrapassou o centro e a esquerda, ocupando o primeiro lugar. Foram eles: Acre (61,15%), Goiás (53,84%), Mato Grosso (62,50%), Rondônia (58,18%), Rio de Janeiro (48,67%), Roraima (42,10%), Santa Catarina (48,38%), Tocantins (64,32%). Em dois deles, sua votação foi maior que a do centro e a da esquerda juntos: Mato Grosso (62,50%) e Tocantins (64,32%).
Nas próximas edições, continuaremos analisando minuciosamente o resultado das eleições municipais.
*PV e Rede foram considerados como legendas de esquerda porque estão integrados a federações com PT, PCdoB e PSOL