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Editorial

A volta da Era FHC?

Ministro da Fazenda defende abertamente cortes em áreas sociais

Em entrevista recente ao jornal Folha de S.Paulo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse não ver alternativa a não ser limitar gastos essenciais, como os destinados ao salário mínimo, à saúde, à educação e ao Benefício de Prestação Continuada (BPC).

Sua fala expõe a completa submissão da área econômica do governo às exigências do mercado financeiro, capitulando diante da pressão da burguesia e dos especuladores internacionais. A política de austeridade é uma rendição total ao neoliberalismo, algo que deveria ser combatido por um governo que se diz de esquerda.

O ministro afirma que “a saúde e a educação cresceram mais que a receita”. Mas, em vez de procurar ampliar o investimento nessas áreas, o que seria o normal para qualquer governo que não queira ver a população passando fome, Haddad propõe o oposto: contenção. Trata-se de uma inversão de prioridades, em que o povo é deixado à mercê de políticas que favorecem apenas os banqueiros e os especuladores. A submissão à chamada “responsabilidade fiscal” está levando o governo Lula a fazer o oposto do que prometeu em sua campanha eleitoral.

As recentes declarações de Haddad indicam que o governo Lula parece estar trilhando o mesmo caminho do governo neoliberal de Fernando Henrique Cardoso (FHC). O orgulho demonstrado por Haddad em elevar a arrecadação do governo federal, enquanto propõe cortes drásticos nos gastos sociais, evoca lembranças do passado sombrio de arrocho fiscal dos anos 1990. Falta apenas Lula anunciar privatizações de grandes empresas nacionais para que seu governo se revele um clone da nada saudosa era tucana.

Com essa política, o governo Lula irá afundar da mesma forma que os governos que aplicaram receitas semelhantes ao redor do mundo. Cortar gastos públicos em áreas essenciais em um país marcado por imensas desigualdades é uma fórmula garantida para o desastre social e político. E é exatamente essa trilha que o governo está percorrendo.

Na Europa, onde a miséria é muito menor, a política neoliberal já levou à liquidação da esquerda. É o caso da França, onde o apego da esquerda ao governo do banqueiro Emmanuel Macron tem lhe custado muito caro. É o caso do Reino Unido, da Itália, da Grécia, da Espanha. Na Alemanha, não apenas o apoio à política neoliberal liquidou a esquerda institucional, como o setor da esquerda que tentou se desvencilhar dessa política teve um crescimento meteórico. É o caso da Aliança Sahra Wagenknecht (BSW).

As semelhanças da atual política econômica de Lula com a do governo de FHC se tornam ainda mais gritantes quando Haddad, questionado sobre a chamada “herança maldita”, relativiza o impacto das políticas neoliberais dos anos 90, argumentando que a situação atual é “bem pior” devido ao que chamou de “desordem econômica” herdada de governos recentes. É inacreditável que, ao invés de reconhecer o desastre que foi a era FHC para o povo brasileiro, o atual governo busque reescrever a história para legitimar suas próprias políticas de austeridade.

O caminho seguido por Haddad e sua equipe econômica está se tornando cada vez mais distante de qualquer perspectiva popular ou de esquerda. A política econômica do governo, conforme visto na indicação do neoliberal Gabriel Galípolo para a presidência do Banco Central, é ditada pelo mercado financeiro e pela burguesia internacional, enquanto a população trabalhadora, que foi quem garantiu a vitória eleitoral de Lula, sofre as consequências.

O governo Lula segue uma política de se ajoelhar diante do imperialismo, incapaz de resistir às pressões dos banqueiros e dos especuladores internacionais. O resultado dessa submissão é um desastre econômico e social iminente. Assim como no governo FHC, quem pagará o preço mais alto será o povo trabalhador, que verá seus direitos sendo gradualmente corroídos em nome de um ajuste fiscal que só beneficia os ricos.

Essa política, além de ser um golpe contra seu eleitorado, é ainda um suicídio político. Ao se chocar com sua base, Lula dependerá apenas da burguesia para se manter no governo. E esta não está minimamente disposta a sustentá-lo.

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