No artigo É hora de acabar com a publicidade das “bets”, publicado por Eugênio Bucci no portal A Terra é Redonda, o autor faz um apelo dramático pela proibição total da publicidade das apostas online, alegando que o Brasil se entregou à jogatina e que tal medida seria necessária para proteger as crianças, adolescentes e jovens. No entanto, ao defender a repressão moralista e o controle estatal, Bucci ignora as verdadeiras causas que levam milhões de brasileiros a recorrerem às apostas como forma de subsistência em um país assolado pela pobreza e desigualdade.
Bucci tenta nos convencer de que o problema das apostas está na publicidade, e não nas condições econômicas que empurram os mais pobres para essa atividade. Segundo ele, cinco milhões de beneficiários do Bolsa Família estariam gastando 21% do valor recebido em apostas. Mas o que o autor falha em entender é que o desespero dessas famílias não é uma questão moral, mas um reflexo de um sistema econômico que as empurra para a miséria. Se essas pessoas estão apostando o pouco que têm, é porque o sistema que as rodeia não oferece alternativas.
É fácil, para a burguesia, atacar os sintomas sem olhar para a causa. Proibir a publicidade das apostas não resolverá a pobreza, nem o vício. Enquanto Bucci e seus pares se preocupam em proteger a “moral” da sociedade, os banqueiros e grandes empresários seguem lucrando com a exploração da classe trabalhadora. Onde estão as propostas de Bucci para aumentar o salário mínimo, criar empregos ou melhorar as condições de vida das famílias pobres? Essas soluções, que realmente poderiam transformar a vida das pessoas, ficam de lado enquanto ele foca em mais uma política de controle.
A proibição da publicidade das “bets” não é apenas inútil, mas hipócrita. Ela serve apenas para desviar a atenção da verdadeira questão: um sistema capitalista que beneficia uma minoria às custas da exploração de milhões. Ao invés de criminalizar as escolhas dos pobres, por que não atacar a estrutura que os obriga a fazer essas escolhas? Proibir a publicidade de apostas é, na melhor das hipóteses, uma medida paliativa; na pior, é um controle estatal disfarçado de proteção.
No final, Bucci não está defendendo a liberdade ou a segurança das famílias brasileiras. Ele está defendendo uma agenda de repressão e controle, a mesma que mantém os pobres sob a tutela do Estado e os ricos livres para continuarem acumulando suas fortunas. Se o verdadeiro objetivo é proteger a população, a solução passa por garantir que cada família tenha uma renda digna, que os empregos sejam abundantes e que o Estado promova o bem-estar social. Mas isso, é claro, exigiria uma luta real contra o sistema capitalista – algo que Bucci parece não estar disposto a enfrentar.
Portanto, a defesa de Bucci por censurar a publicidade das apostas é mais um exemplo de como a burguesia preferem atacar as consequências ao invés de combater as causas. A verdadeira solução para o problema das “bets” e da exploração que elas representam não está em calar anúncios, mas em dar ao trabalhador alternativas dignas de sustento.