Quem observa as recentes capitulações do governo brasileiro em relação à defesa da Palestina pode não dimensionar a magnitude da guinada à direita que ela representa, mas a posição da esquerda latino-americana em favor dos palestinos e contra a invasão sionista do país árabe é pelo menos tão antiga quanto a Revolução Cubana. Em 18 de junho 1959, poucos meses após o triunfo revolucionário, Ernesto Che Guevara chegou à Faixa de Gaza em 28 junho de 1959, representando a nova liderança revolucionária cubana. Sua visita aconteceu no contexto da luta palestina contra a ocupação israelense. Os palestinos já viviam sob a criminosa repressão da ditadura sionista, instaurada 11 anos antes e responsável pela Nakba (palavra árabe que significa “Catástrofe”), quando quase um milhão de palestinos foram forçados a deixar suas terras em uma campanha de terror realizada pelos israelenses com o apoio do imperialismo.
O objetivo de Che e dos revolucionários cubanos era firmar alianças com países e movimentos anti-imperialistas em especial do Oriente Médio, região visitada entre os meses de junho e julho. A visita a Gaza, uma região que já enfrentava a opressão do colonialismo sionista. Naquela época, Gaza estava sob administração egípcia, país que na ocasião era governado pelo nacionalista Gamal Abdel Nasser. Convidado por Nasser a visitar o Egito, Che Guevara estendeu sua viagem aos territórios palestinos livres, onde teve a oportunidade de ver in loco as consequências da expulsão dos palestinos de suas casas.
O contato com a realidade de Gaza também influenciou a visão internacionalista de Che Guevara. A partir dessa viagem, a causa palestina passou a ocupar um lugar importante na política externa cubana. O governo revolucionário de Cuba apoiou consistentemente a luta do povo palestino, defendendo o direito de retorno dos refugiados e condenando as agressões sionistas.
Che, no entanto, não estava ali apenas para testemunhar a opressão, mas para fortalecer laços com outros movimentos de libertação. A luta palestina passou a ser uma questão central para a política revolucionária cubana.
A viagem à Gaza também representou uma mensagem clara ao imperialismo, de que a Revolução Cubana, não seria uma força isolada. Estava disposta a apoiar qualquer nação ou povo que enfrentasse o colonialismo e o imperialismo. Esse internacionalismo revolucionário fez com que Cuba se tornasse um importante ponto de apoio a movimentos de libertação em todo o planeta.
Durante a visita, Che condenou as condições desumanas em que os palestinos eram mantidos nos campos de refugiados, tendo também denunciado os crimes da ditadura sionista e sua aliança com o imperialismo. A solidariedade de Che com o povo palestino também se refletiu em suas ações posteriores. O revolucionário reiterou, em diversas ocasiões, a necessidade de apoiar a luta do povo palestino pela autodeterminação. Cuba, sob o comando de Fidel e com a influência de Che, se tornaria um dos mais firmes defensores da causa palestina nos fóruns internacionais, como a ONU.
A visita de Che a Gaza, portanto, foi um marco na aliança entre os movimentos revolucionários da América Latina e do Oriente Médio, colocando a questão palestina no centro da luta anti-imperialista no continente americano. A viagem feita logo após a Revolução de 1959 reforça a importância da união dos oprimidos na luta contra o imperialismo e suas diversas faces, seja na América Latina ou no Oriente Médio.