Durante muito tempo, houve a crença difundida tanto pela imprensa burguesa quanto por setores da esquerda pequeno-burguesa de que o Nordeste seria um bastião de resistência progressista e de que a região estaria naturalmente alinhada com políticas de esquerda. No entanto, as eleições recentes desmontaram esse mito ao expor o avanço do bolsonarismo em várias áreas do Nordeste, o que evidencia que essa leitura simplificada da dinâmica política regional não passa de uma ilusão.
A ideia de que o Nordeste seria intrinsecamente revolucionário, enquanto o Sul e Sudeste seriam conservadores, é uma simplificação que já não se sustenta diante dos resultados eleitorais. Esse tipo de análise, muito utilizada por setores da esquerda, serve apenas para confortar aqueles que, incapazes de interpretar a realidade política em constante transformação, preferem se apegar a mitologias políticas que não correspondem aos fatos.
Nas últimas eleições, candidatos alinhados ao bolsonarismo conseguiram vitórias expressivas em várias partes do Nordeste. O crescimento do bolsonarismo na região é um sinal claro de que o movimento de extrema direita, liderado por Jair Bolsonaro, tem conseguido penetrar em setores populares, utilizando-se de uma retórica que apela ao descontentamento das massas com as velhas estruturas políticas locais. Este crescimento não pode ser ignorado ou minimizado. Trata-se de um fenômeno que reflete uma crise mais profunda do regime político, em que a classe trabalhadora, desiludida com a política capituladora da esquerda, começa a buscar alternativas, ainda que reacionárias, para seus problemas.
O avanço do bolsonarismo no Nordeste expõe, sobretudo, a falência da política de conciliação de classes que tem sido adotada pelos partidos tradicionais da esquerda, como o PT. Com o aumento da crise política, o espaço foi aberto para que o bolsonarismo, com seu discurso de rompimento com o sistema e sua retórica antipolítica, conseguisse atrair uma parcela significativa dos eleitores.