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São Paulo

Informe Político da 37ª Conferência Nacional do PCO

A Direção Nacional do Partido da Causa Operária apresentou o balanço político do Partido sobre as eleições municipais de 2024 na 37ª Conferência Nacional do PCO

eNo sábado, 12 de outubro de 2024, foi realizada a 37ª Conferência Nacional do Partido da Causa Operária. O evento, tradição da democracia operária do PCO, reuniu os militantes de todo o país para fazer um balanço e uma ampla discussão sobre os rumos do Partido.

Confira abaixo, na íntegra, o informe político da Direção Nacional do PCO, apresentado pelo presidente do Partido, Rui Costa Pimenta:

O tema principal dessa conferência é o balanço eleitoral e o plano de trabalho que decorre tanto do balanço da eleição de conjunto como do balanço da nossa atividade eleitoral. Mas é importante fazer algumas observações sobre a situação internacional e a nacional de conjunto, que permitem ver melhor o que aconteceu na eleição. Interpretar de uma maneira mais adequada o que aconteceu na eleição

Do ponto de vista internacional, nós temos uma situação extremamente crítica. Apesar de que, num certo sentido, a situação que parecia caminhar para um enfrentamento bastante agudo, retrocedeu nessas últimas duas semanas.

Nós tínhamos toda uma operação militar organizada pelo imperialismo contra o Líbano que começou com aquele ataque dos aparelhos, que explodiram na mão de diversas pessoas, feriram uma quantidade grande de pessoas, que a imprensa burguesa apresentou como se fosse um grande ato de heroísmo dos sionista. Sendo que esse tipo de atividade é a própria definição do que o imperialismo estabeleceu como terrorismo.

Eles fizeram esse ataque, mataram o líder do Hamas, Ismail Hanié, no Irã, e mataram o líder do Hesbolá, Nasseralá, no Líbano. Numa operação preparatória de um ataque mais decisivo contra o Hesbolá no Líbano.

Isso tudo estava em marcha. O imperialismo tinha organizado uma contra ofensiva. Procurou organizar uma contra ofensiva na Rússia. Só que a operação iraniana que atingiu o território ocupado na Palestina com inúmeros misseis de longa distância, colocou um freio nesse impulso que o imperialismo estava tomando contra o Líbano e ao conjunto da contra ofensiva imperialista de modo geral

Os israelenses, os sionistas, procuraram organizar algumas operações militares de menor calibre na fronteira com o Líbano, foram rechaçados pelo Hesbolá, e a contra ofensiva, pelo menos pelo momento, se dissipou. E “israel” ta se dedicando a fazer o que ele tem feito nesse 1 ano contra o povo palestino: que é bombardear áreas civis, com o apoio do imperialismo

Isso não é um fato que significa que a tentativa de contra ofensiva do imperialismo terminou, mas com certeza a primeira tentativa fracassou. O imperialismo falou em guera contra o Irã, em atacar o Irã, o programa nuclear iraniano. Falou em destruir as refinarias de petróleo iranianas e, diante das consequências, não dá para dizer que eles recuaram totalmente, mas paralisaram essas operações. O Irã ameaçou destruir as refinarias de petróleo dos países vizinhos. Se eles fizessem isso iria interditar o golfo pérsico e isso complicou a situação.

Os russos com certeza acenderam um alerta vermelho para o imperialismo e isso fica claro porque eles ostensivamente mandaram as baterias de mísseis mais modernas que eles têm, que são essas baterias S400 para o Irã. Foi um recado: se houver um ataque ao Irã, nós vamos fornecer armas para um contra-ataque, a situação ficou meio que num impasse momentaneamente. Nós vamos ter que ver como o imperialismo vai procurar sair desse impasse.

Na frente russa a situação não foi nem um pouco melhor. Os russos estão avançando, encaminhando para expulsar o exército ucraniano do Donbass, então a situação é muito complicada. Isso do ponto de vista mais conjuntural. Do ponto de vista mais geral, as coordenadas principais permanecem. O imperialismo está procurando organizar uma ofensiva generalizada contra o Irã, a Rússia, a Coreia do Norte, a China.

O congresso norte-americano votou 25 leis anti-China, inclusive com um programa de propaganda contra os chineses em vários países. Esse programa de propaganda é o que eles sempre fazem: comprar a imprensa que já tá do lado deles, mas eles têm que comprar mesmo assim, para fazer uma campanha sórdida contra a China.

A polarização mundial é muito intensa nesse momento. Essa caracterização é uma caracterização que deve guiar todo nosso raciocínio sobre a situação política internacional e nacional.

Não há solução para o problema que tá colocado que não seja a derrota de um dos lados, uma derrota decisiva. O imperialismo pode conseguir um fôlego fazendo acordos com os envolvidos e esses acordos podem eventualmente ser aceitos pelos russos, iranianos, chineses, que querem evitar a guerra. Mas de um modo geral, está claro que postergar os acontecimentos aumenta a crise do imperialismo. Nós temos que trabalhar com essa caracterização.

Não é porque o tempo está passando que a situação do imperialismo está melhorando

quanto mais o tempo passa, mais nós temos um esgarçamento da situação politica, econômica e militar do imperialismo. Essa caracterização está e vai estar vigente até que algum acontecimento muito importante faça mudar o rumo dos acontecimentos.

Uma resposta que o imperialismo já está dando que diz respeito ao Brasil e a América Latina são os golpes de estado. Nós temos um alerta dos governos de golpe de Estado na Colômbia, em Honduras. Temos a tentativa na Venezuela. E nós temos uma situação muito delicada que pode resultar em um golpe de Estado na Bolívia, onde o governo está tentando neutralizar a influência do ex-presidente da Bolívia, Evo Morales. Então essa linha de ação está em pleno desenvolvimento.

Isso é importante porque diz diretamente respeito ao Brasil. A linha política da esquerda brasileira, que se materializou nas eleições com um resultado catastrófico, é a linha de uma frente ampla, uma frente popular, uma frente de colaboração de classes com o imperialismo.

O que nós temos visto é que o governo Lula, que é um governo fraco, que não tem base no Congresso Nacional para governar, que, dentro do executivo, visivelmente tá perdendo o controle da situação. Ele lançou como política estratégica uma aliança com os setores pró-imperialistas no Brasil, isso desde a eleição, mas moderadamente. Mas, no último período, essa politica tem se aprofundado bastante. E ela se aprofunda em função daquilo que levou que essa política fosse colocada em prática: a fraqueza do governo, que se acentuou muito.

Então nós temos que analisar bem essa política em face do que esta acontecendo. Porque na realidade o PT e o Lula dizem o seguinte: isso é uma frente pela democracia. Mas eles estão fazendo uma frente com as pessoas que estão 100% numa política de golpe de Estado, de destruição das liberdades democráticas, de guerra contra os países oprimidos. Em outras palavras, uma política totalmente anti-democrática. É uma frente pela democracia com os setores mais anti-democráticos que existem no mundo. Que não respeitam nada, que não respeitam ninguém. Estão organizando guerras contras as pessoas que não rezam pela sua cartilha. Estão organizando golpes contra os governos que não são absolutamente obedientes.

Se essa política for bem sucedida nos países em que o imperialismo está tentando impor aqui na América Latina, o governo ficaria completamente isolado e aí não haveria mais sentido nessa frente pela democracia. O que dá a essa frente uma aparência de realidade, mas é uma mera aparência, e nós temos que discutir bem esse problema, é a presença da extrema direita.  Então, os setores imperialistas exploram um flanco dessa extrema direita que permite a eles agrupar uma base de sustentação da sua política, que é a questão dos costumes, do identitarismo.

Para a gente ter uma noção, um articulista do 247, disse o seguinte: a sociedade brasileira (uma coisa abstrata), o povo seria fascista porque em São Paulo o vereador mais votado, um bolsonarista, cuja proposta central era impedir a entrada das mulheres trans, quer dizer, homens, que segundo a definição dos próprios identitários, consideram que são mulheres, no banheiro feminino. Então, pra ele, que é um dos principais identitários de plantão no 247, essa posição do cidadão seria a própria definição de fascismo. E como a sociedade votou nele, a sociedade é fascista.

Essa definição de fascismo não tem nada a ver com a realidade. O deputado pode até ser fascista, mas não por esse motivo. Ele está fazendo demagogia com o sentimento da população. Ninguém vê com bons olhos esse tipo de proposta. Tem gente que não fala nada porque se sente pressionada. Não é de bom tom ser contra a entrada de um homem no banheiro feminino porque ele se identifica como mulher, mas a esmagadora maioria da sociedade é contra.

Isso, por si só, não caracteriza a existência do fascismo.

É uma política justificada por um pseudofascismo. Não que o Bolsonaro não seja fascista, mas o que dizem ser fascismo aqui não tem nada a ver. Isso é apenas conservadorismo nos costumes ou, neste caso, até bom senso, que não tem qualquer relação com o fascismo.

Eles criam um espantalho, e, em nome da luta contra ele, jogam-se nos braços do imperialismo.

O problema seria derrotar Bolsonaro porque ele é fascista por esses motivos, e, para derrotá-lo, você se alia com os agentes do imperialismo no Brasil.

Essa diretriz é a principal linha que deve ser combatida.

Não é possível aceitá-la de maneira alguma.

É uma política totalmente sem sentido.

Basta colocá-la no contexto internacional para perceber como ela é ilógica.

Com essa política, você ficaria contra a Rússia, a China e o Irã, e se alinharia com os EUA, a França e a Alemanha.

Ou seja, essa luta contra o suposto autoritarismo é a famosa situação em que o rabo abana o cachorro. Você não aborda o problema central, mas sim um secundário, e esse secundário acaba dominando tudo.

Mesmo que você possa concordar com algumas críticas a esses países, tudo isso é secundário. Ao se opor a eles, você acaba permitindo guerra, genocídio, uma série de crimes, golpes de estado. Então, no final, isso não importa.

A política de defesa dos oprimidos pelo imperialismo é uma farsa. Basta dizer que é realizada pelo imperialismo — se é feita pelo imperialismo, é uma farsa.

Alguns setores se deixam seduzir pela propaganda imperialista. Mas é só propaganda.

A política que o PT traçou é uma política que leva ao alinhamento com o imperialismo em todos os lugares, inclusive no Brasil, contra os países que resistem ao imperialismo.

Essa política, que não é nova na esquerda, é um desastre gigantesco no momento atual.

Eu diria que, de maneira séria, essa política pode liquidar completamente a esquerda brasileira como um todo.

É importante reiterar o seguinte: além da política de guerra, como o que está acontecendo em Gaza, o imperialismo também promove uma política de matar de fome a população mundial. O Brasil é um caso muito claro disso.

Eu não sei o que os militantes e ideólogos da esquerda pensam sobre o retrocesso econômico extraordinário que o Brasil está sofrendo, mas devemos dizer alto e claro que tudo isso é obra do imperialismo.

Não é um problema administrativo do Brasil, nem uma questão de falta de recursos; é o vampirismo econômico do imperialismo, representado pela política neoliberal.

Se você se aliar ao imperialismo, acabará adotando também essa política de vampirismo.

Nesse ponto da política neoliberal, o PT tenta um jogo de equilíbrio praticamente impossível de se alcançar.

O mercado financeiro internacional exige que o estado brasileiro mantenha um rigoroso ajuste fiscal.

O governo brasileiro decidiu ceder completamente nesse ponto e buscar o equilíbrio fiscal.

Esse equilíbrio fiscal é uma política nitidamente neoliberal.

O objetivo é garantir que o estado brasileiro ofereça segurança para o “investimento” estrangeiro no país.

Os estrangeiros compram ações da Petrobras e querem garantia de que terão lucro, que receberão altos dividendos, e que poderão enviá-los para fora do país em dólares.

Ninguém investe dinheiro sem garantia de retorno. Até uma loja comercial exige garantias. Então, o investidor estrangeiro só colocará dinheiro aqui se souber que terá retorno e lucro.

Recentemente, vi setores ligados ao PT comemorando que a agência MUDES melhorou a nota do Brasil no mercado financeiro internacional. Não chegou a conceder o tão desejado grau de investimento, mas houve uma melhora. Isso não é motivo de celebração; significa que o investidor estrangeiro virá aqui, realizará sua pirataria, seu vampirismo, e será pago.

Isso garante que os vampiros virão e receberão. É uma garantia para o vampirismo econômico.

O governo do PT foi empurrado para essa situação. Acompanhamos essa novela. Lula dizia uma coisa, Haddad outra. Finalmente, o governo do PT se tornou o governo do equilíbrio fiscal. E veja só: hoje li a notícia de que vários setores preveem que as perspectivas futuras da economia brasileira são negativas, e que, portanto, ninguém vai querer investir no Brasil, porque a política fiscal não é suficientemente rígida.

Você tenta equilibrar as coisas, pendendo para um lado, mas um empurrão faz você cair do muro.

Esse é mais um sinal do fracasso dessa política. É uma manifestação clara da política de frente ampla, de colaboração de classes com o imperialismo. O imperialismo não quer sócios. A política do imperialismo não é de parceria econômica. É uma política de leão contra ovelhas: ou ele devora as ovelhas, ou não há graça no jogo.

Por isso, falamos em vampirismo, e temos sistematicamente apontado para isso.

Os chineses elaboraram um plano econômico para emprestar dinheiro a países capitalistas atrasados, e têm sido muito bem-sucedidos, porque, enquanto eles dão dinheiro para construir portos, rodovias e ferrovias, o imperialismo vai lá e rouba tudo o que esses países têm. Com quem você prefere fazer negócios?

A situação é tão grotesca que até Javier Milei, que está disposto a vender a Argentina ao imperialismo, elogiou os chineses, dizendo que investir com eles é ótimo porque eles não colocam condições.

Então, imaginem a situação.

O governo Lula está se aliando ao vampirismo internacional. Isso vai dar certo? Não vai.

As perspectivas não são positivas.

Essa política não trará nenhum resultado positivo.

O governo apresenta como um trunfo o menor índice de desemprego dos últimos cinco anos, mas faz 30 anos que metade da população está sem emprego. Isso não vale nada. Temos um país cheio de gente dormindo nas ruas. O retrocesso econômico é total. E, se você estiver do lado do imperialismo, isso não mudará.

O governo brasileiro assinou um acordo com os EUA para combater a fome mundial. Ou seja, eles criam a fome no mundo e depois dão um pedaço de pão para quem está morrendo de fome.

É uma farsa.

O governo Lula pode achar que essa é uma boa política, mas não é. É uma farsa.

Aqui está o texto com as correções ortográficas sem modificar o conteúdo:

Um problema chave da situação política brasileira está ligada a isso: o governo Lula está cada vez mais encurralado. Detrás de toda a retórica de “estamos fazendo isso, fazendo aquilo”, os sinais de que o governo está totalmente encurralado são bastante fortes. Esses dias, nós tivemos 2 sinais gravíssimos. O ministro da defesa, o Múcio, fez um pronunciamento público contra o governo. Falou que eles fizeram uma licitação, os judeus, e ele enfatizou o povo de Israel, ganhou a licitação, mas o governo não quer fazer o acordo por motivos ideológicos. No mundo tem um monte de gente que pensa assim, que o problema com o povo de Israel é ideológico, não é que eles agridem todos os vizinhos, tomaram conta das terras dos palestinos e matam todo mundo todo dia e todo mundo tá sabendo disso. Não, é um problema ideológico. O povo não gosta de alguma ideia que algum cidadão tem lá em Israel.

É uma barbaridade falar uma coisa dessa. E, tudo bem, até aí, que o Múcio pense isso não dá nem pra protestar. A gente sabe que ele não é ministro do Lula, é um representante dos generais dentro do governo. Esses generais, que segundo a esquerda brasileira iam todos pra cadeia. Se a gente pudesse colocar uma câmera na cadeia pra ver a chegada dos generais, a câmera tinha até enferrujado de tanta falta de ação que teve essa prisão de generais. Não aconteceu nada. O que tá acontecendo agora é que os generais querem encurralar o governo Lula a entregar 1 bilhão de reais para aquelas pessoas que estão matando gente todo dia na Faixa de Gaza. A cara de pau, a desfaçatez, a tranquilidade com que eles atuam é enorme.

Outra coisa importante. Nós tivemos o dia 7 de outubro, um ano da heroica ação da resistência palestina contra os nazistas sionistas. E o Ministério das Relações Exteriores do Brasil tirou uma nota que eu vou ler na íntegra. Eu acho que chega numa espécie de paroxismo da dupla personalidade do governo do PT. A nota diz o seguinte:

Título: “Um ano dos ataques terroristas do Hamas. Governo repudia terrorismo e pede libertação de reféns. Brasil volta”, nós somos brasileiros e não temos nada a ver com isso. Deveria falar governo Lula, porque o povo brasileiro não tá pedindo nada. “Brasil volta a exortar pela libertação imediata de todos os reféns e por negociações que levem ao cessar-fogo em Gaza e no Líbano. Ao solidarizar-se com o povo israelense (grifo nosso), o Governo brasileiro reitera seu absoluto repúdio ao recurso ao terrorismo.” Quer dizer, terrorismo aqui não tá falando de jogar uma bomba de 10 toneladas na casa de uma família. Terrorismo é o Hamas e a resistência Palestina. “O governo brasileiro registra, com profundo pesar, que a data de hoje marca um ano desde os ataques terroristas do grupo Hamas em Israel. Os atentados resultaram na tomada de 251 reféns”. Só que tem 10 mil palestinos presos. “… e na morte de cerca de 1.200 pessoas, em sua maioria civis”. Isso é uma mentira já comprovada por diversos órgãos. O governo brasileiro está mentindo. “…, entre elas as dos cidadãos brasileiros Michel Nisembaum”, vamos ter claro, é um soldado israelense, tem dupla cidadania. “…, tomado como refém, e Karla Stelzer Mendes, Bruna Valeanu e Ranani Nidejelski Glazer (dá pra ver que eles são bem brasileiros), assassinados no dia da invasão do território israelense por terroristas a partir da Faixa de Gaza. A crise dos reféns permanece sem solução, com dezenas de israelenses ainda em poder do Hamas em Gaza. Ao solidarizar-se com a família de todas as vítimas e com o povo israelense, o Governo brasileiro reitera seu absoluto repúdio ao recurso ao terrorismo e a todos os atos de violência.” “O Brasil volta a exortar pela libertação imediata de todos os reféns”, falou 4 vezes isso, “… e por negociações que levem ao cessar-fogo em Gaza e no Líbano.” Isso aqui não foi escrito no dia 11 de outubro de 2023, isso foi escrito no dia 11 de outubro de 2024. Há 1 ano, os sionistas estão fazendo uma coisa que nenhum ser humano normal pode aceitar: bombardear a população civil incansavelmente. O número de mortos diretamente pelas bombas já chega a 42 mil pessoas. Segundo as informações que nós temos, um número difícil de calcular, mas enorme, está morta sob os escombros e não está computada. Não é menos que 10 mil pessoas.

Mais de 100 mil palestinos feridos. Muitos dos quais mutilados permanentemente.

Todas as universidades e hospitais destruídos. Mais de 40 jornalistas assassinados.

Vários médicos assassinados, presos sequestrados.

Diante de todo esse horror, porque isso é um horror, o governo brasileiro tem a capacidade, a coragem, a falta de pudor, o cinismo, de publicar uma nota como essa.

Logicamente que nós aqui temos que votar nessa conferência um repúdio a isso. É monstruoso, criminoso. É uma conduta criminosa.

O Lula tem que dizer se ele concorda com isso. Se ele concorda com isso, ele é cúmplice do que tá acontecendo na Faixa de Gaza. As pessoas que escreveram isso são cúmplices.

São cúmplices de uma das coisas mais horrendas que o mundo já viu desde a II Guerra Mundial.

E tá todo mundo vendo, isso que é mais impressionante.

É um amontoado de mentiras, nem menciona os palestinos em momento nenhum. Não vou nem me estender mais sobre o que eu penso dessa declaração, que é o ponto mais baixo de todos os governos Lula até agora.

O que eu queria destacar, que é importante, é o que isso significa do próprio governo.

Enquanto o governo tá querendo assinar um acordo com os israelenses, o Itamaraty tira uma nota como essa. O governo está perdendo o controle do próprio governo. A não ser que eles tenham aderido ao sionismo, porque isso é uma nota sionista, abertamente.

O exército, o ministro da defesa, vem a público atacar o governo do qual ele supostamente faz parte dizendo que tem que fazer um acordo com os israelenses que estão matando gente na Faixa de Gaza, estão atacando o Líbano, porque não podem interferir com problemas ideológicos.

Eles dizem que os israelenses, os sionistas, ganharam licitação. Me permita duvidar, sr. Múcio, que essa licitação tenha sido honesta. É muito conveniente num mundo como esse que ganhe licitação os israelenses. Aí eu pergunto: os russos, os iranianos participaram da licitação? Ou foram só 3 empresas israelenses e 1 norte-americana? Quem participou dessa licitação?

O governo está encurralado aí. Na questão da Faixa de Gaza está totalmente encurralado porque esse tipo de nota é um ato criminoso. Esse ministro, Mauro Vieira, não é a primeira vez que o Brasil faz esse tipo de coisa, o Lula não fala nada, o PT não fala nada. Depois querem dizer que aqui todo mundo tá contra o genocídio na Faixa de Gaza, faça-me o favor.

E a terceira coisa é que a Polícia Federal atua em defesa do Mossad.

Nós temos o caso que já denunciamos várias vezes, do Lucas Passos, que foi preso pelas ordens do Mossad. Eu lembro que na época o Flávio Dino ficou vermelhão, parecia um balão de festa, falou: o Brasil é um país independente, não recebe ordens de ninguém. Pois o Lucas Passos foi condenado a 16 anos de cadeia e a única prova que o juiz utilizou foi o depoimento da Polícia Federal que veio do Mossad. Quer dizer, o Netanyahu foi a única prova de que o cidadão brasileiro é um criminoso, um terrorista.

Aqui nessa nota quantas vezes se fala em terrorismo? É uma vergonha.

Quer dizer, não controla as forças armadas, não controla o Itamaraty, o Banco Central, pelo que eu entendi, o Lula entregou de novo para os neoliberais porque esse Galípolo é um neoliberal. Não controla nem o Ministério da Economia, que é um ministério neoliberal. Não controla as forças armadas, não controla nada. É um governo fantasmagórico.

É importante entender isso aqui pra gente entender o que aconteceu na eleição.

Uma parte do PT está vivendo uma fantasia. Eles falam “estamos indo de vento em popa”. Não dá pra chegar nessa conclusão vendo o que está acontecendo no país.

Mas aí a fantasia vem para o terreno eleitoral e o que acontece? Uma catástrofe eleitoral gigantesca do PT e da esquerda brasileira.

Vocês devem ter visto o esforço do pessoal pra mostrar que não foi nada disso, que foi uma grande vitória.

Nós temos que dizer muito claramente que foi um desastre.

Eu vi a Gleisi Hoffmann falar em público que o PT está se reconstruindo. Mas se está se reconstruindo, é muito curioso, porque não dá a impressão de que estamos em reconstrução.

O dado mais importante da eleição é aquele que todo mundo quer evitar de falar: o partido que teve mais votos (15 milhões e 700 mil), que cresceu 11 milhões de votos em relação à eleição anterior, foi o partido do Bolsonaro.

É importante dizer o seguinte: o número absoluto não é tão importante, porque o voto tem que ser visto de um ponto de vista qualitativo. O voto dos grandes centros urbanos é muito mais importante do que o das pequenas cidades.

Estamos na época do politicamente correto, onde você tem que dizer que a formiga é tão poderosa quanto o elefante, senão você já está incorrendo em insultos contra as formigas, embora a realidade seja que o elefante é infinitamente mais poderoso do que a formiga.

Esse problema dos grandes centros é importante, porque a vida política do Brasil gira em torno dos grandes centros, não das pequeníssimas cidades.

O Brasil tem muita cidadezinha miúda.

Uma determinada vez, um líder do MDB, na época da ditadura, analisando uma eleição — acho que era municipal —, falou o seguinte: a Arena se transformou no partido dos grotões. Grotões é uma palavra que tem a ver com Minas Gerais, um estado muito grande com um monte de cidade miúda. Ele era mineiro, o Tancredo Neves, então usou uma expressão típica de Minas Gerais.

O voto do Bolsonaro não é dos grotões, é nas capitais, nas grandes cidades. Se expurgarmos os votos das grandes cidades, o resultado bolsonarista vai ser ainda maior.

Desse fato, temos que tirar muitas conclusões.

Eu, por exemplo, tenho falado incansavelmente em vários lugares que a perseguição judicial não vai deter o bolsonarismo.

Perseguição judicial não ganha luta política. Pelo contrário, se o cidadão for muito perseguido, o povo vai ficar com a impressão de que ele é bom, porque ninguém confia no sistema político de modo geral, pois todo mundo sabe que político é bandido, ladrão, corrupto, safado. Então, se você é muito perseguido, deve estar fazendo alguma coisa boa.

Na mente do esquerdista, provavelmente afetada pelo uso de drogas, é o contrário. Se um juiz do STF condenou um cara, pronto, toda a população vai atrás condenando a pessoa. Nós já tínhamos mostrado que o prestígio do STF, que foi calculado em algumas pesquisas, era baixíssimo, mas não há como convencer o esquerdista pequeno-burguês. Quando ele põe uma ideia na cabeça, ele é pior que um fanático religioso.

Tá aqui o Bolsonaro liquidado, ou como dizem os esquerdistas, inelegível. Ele pode ser inelegível, mas ele elegeu um monte de gente aqui. Ele é o maior eleitor do país, de longe. Esse dado é importante pelo seguinte, companheiros: com as eleições municipais, nós provavelmente estamos entrando numa nova etapa da evolução da situação política no Brasil. Vai chegar uma hora que o poder da extrema direita vai ser tão grande que não vai haver condições de conter a implantação de uma verdadeira ditadura no país.

Hoje, os direitistas põem uma cara amigável com a população. Você vê que eles nem estão falando muito de bandido, etc. Eles deram uma aliviada pra poder se desenvolver. A hora que eles sentirem que a situação é favorável pra eles, isso vai mudar radicalmente. É uma situação ameaçadora.

Esse é o primeiro dado. O segundo dado da eleição é o retrocesso da esquerda. Nominalmente, o PT teve um crescimento de 2 milhões de votos que, comparado com o Bolsonaro, é muito pequeno. São 11 milhões contra 2 milhões. Bolsonaro é 6 vezes maior. Só que nós temos que considerar o seguinte: esse crescimento do PT não foi nas grandes cidades. Quer dizer, é um resultado que não adianta absolutamente nada do ponto de vista da luta política.

Expressa uma situação muito ruim.

Nas cidades importantes, o PT parece que vai ter 3 prefeituras no estado de SP inteiro.

O PT já foi majoritário em todo o ABC paulista, na Grande SP, em várias cidades.

Quer dizer, nos centros fundamentais, perdeu o apoio, mas cresceu um pouquinho.

Agora, o resto do que é chamado de esquerda, do que o pessoal acredita que é esquerda. O PCdoB perdeu quase 1 milhão de votos. O PSOL cresceu 1 milhão e pouco de votos, mas isso é o Boulos em São Paulo.

Quer dizer, se você pegar só a esquerda mesmo, vai ter aí uma redução da votação.

Se você tirar o Boulos, que teve um resultado desproporcional em SP — foi a campanha mais cara do país e tudo —, PSOL e PCdoB retrocederam.

O PSOL perdeu todas as prefeituras que tinha, que eram poucas.

Então, se somarmos tudo, todo o voto da esquerda não chega nem perto do voto do Bolsonaro.

Só isso já dá pra ficar muito preocupado.

A discussão que o pessoal faz, quem ganhou, quantas prefeituras e tal, é relativamente irrelevante.

O que é mais relevante é o número de votos e onde eles estão localizados.

Nesse quesito, o Bolsonaro deu um banho extraordinário em toda a esquerda.

Bolsonaro sozinho, porque ele não é toda a extrema direita. Só o PL do Bolsonaro limpou o chão com a esquerda. PT, PCdoB, PSOL. Esquerda parlamentar. Os partidos que mais cresceram também são, se não diretamente bolsonaristas, bastante próximos. O segundo partido que mais cresceu foi o Republicanos, que é o partido da Igreja Universal, do bispo Macedo.

É um partido muito próximo da extrema direita.

Teve 7,4 milhões de votos. Cresceu 2,4 milhões.

Se somarmos os votos de todos esses partidos de direita, vamos ter 1/3 do voto nacional e esse 1/3 concentrado nas grandes cidades. Quer dizer, é extremamente preocupante.

A eleição mostra uma linha de desenvolvimento. Nessa linha, a esquerda retrocede e a direita avança.

A imprensa burguesa e algumas pessoas ligadas ao PT tiraram a seguinte conclusão: de que a frente ampla ou o centro político é que teria ganhado a eleição. Primeiro lugar, o que é exatamente esse centro político?

O partido que não é abertamente bolsonarista, mas é próximo do Bolsonaro, que mais cresceu, foi o PSD. É um balaio de gatos. Cresceu o número de prefeituras, mas não muito na votação.

Os partidos que tradicionalmente consideraríamos como sendo da direita tradicional, ou o que a imprensa chama de centro, ou às vezes até de esquerda, todos retrocederam. PSDB, PDT, Cidadania (que é uma sublegenda do PSDB), Rede, PV, tudo isso retrocedeu.

Quer dizer, o centro tradicional no Brasil, que não são os partidos abertamente conservadores, vamos dizer assim — PDT põe uma fachada de nacionalismo, PSDB de liberal, etc. —, o PSB cresceu um pouco porque pegou carona no PT, lógico. Os partidos que seriam de centro seriam o MDB e o PSDB. Mas em SP, o candidato do Bolsonaro é do MDB.

Então, o que significa esse crescimento? Não é uma coisa real. Também não cresceu muito.

O PL foi o segundo em número de prefeitos e o primeiro em número de vereadores.

O PP, do Arthur Lira, antigo partido do Maluf, partido caracteristicamente de extrema direita, também cresceu.

Quer dizer, o que nós vemos aqui é um desastre político. A frente ampla, inclusive, que foi apresentada e justificada como sendo um fortalecimento do governo Lula, etc., não apoiou o governo em lugar nenhum.

O PT sim apoiou candidatos de direita em nome da frente ampla, mas a frente ampla não apoiou os candidatos do PT.

Quer dizer, é uma política absolutamente desastrosa.

O pior desastre, logicamente, é em São Paulo. A vitória em SP vale por uma vitória em muitas cidades do país.

Não é mais uma prefeitura. São Paulo equivale a várias outras prefeituras de capitais. É uma coisa enorme, politicamente decisiva.

O que aconteceu na eleição de SP? O PT não lançou candidato, apoiou o Boulos, o novo herói da esquerda, apesar de que todo mundo acha que ele é vira-casaca. Apoiou o golpe contra a Dilma e tudo. Gastaram a maior quantia de dinheiro de todas as eleições, R$ 64 milhões, e por muito pouco ele não ficou fora do segundo turno. Quer dizer, é um desastre que não tem tamanho. Agora, logicamente, o pessoal fala “vamos virar o jogo”, o que obviamente não vai acontecer, é uma política de desespero.

Pelo desespero a gente vê a qualidade da política que a pessoa está levando, porque agora inventaram que o Boulos tem que conquistar os eleitores do Pablo Marçal.

Uma dobradinha totalmente inusitada, que é a dobradinha “Boçal”, Boulos e Marçal.

Inclusive, uma coisa que chama a atenção é que tudo indica que o Marçal entregou essa eleição para o Boulos. Aquele negócio no finalzinho da eleição, o ataque que ele fez contra o Boulos, que foi muito estranho, pode ter sido produto de um acordo, porque logo em seguida o Pablo Marçal aparece elogiando o Boulos, o Lula.

Um detalhe que a gente precisa discutir, porque é importante para o esclarecimento.

Um pouco antes da eleição eu falei que esse negócio do voto útil é uma coisa paradoxal. Eu elaborei a seguinte hipótese: o cidadão que defende o voto útil no Boulos acha que o Boulos é um candidato ruim. Uma boa parte do eleitorado do PT falou “bom, vamos votar no Boulos porque é contra o Nunes, não podemos deixar o Nunes ganhar de jeito nenhum”.

Aí o Boulos não vai para o segundo turno e é Nunes e Marçal. Aí eles falam “tem que votar no Nunes porque o Marçal não pode ganhar de jeito nenhum”. É um paradoxo. Se você tem que votar no Boulos porque não pode votar no Nunes de jeito nenhum, como vai votar no Nunes depois? Não faz sentido nenhum.

Agora, o paradoxo se revela uma farsa total, porque agora o pessoal está aí querendo namorar o Marçal, que seria o bicho-papão da eleição. Então, o que realmente eles estão defendendo nesse voto útil? Não estão defendendo nada. Na realidade, a questão do voto útil não é porque o mundo vai acabar se você votar em A ou B, é apenas uma maneira de manipular o eleitorado para conveniências políticas. Então, por exemplo, o PT passou anos falando que o PSDB era o pior monstro que existia no país. De repente o PT aparece apoiando candidatos do PSDB em inúmeros lugares. Se você pode apoiar o PSDB hoje, poderia apoiar também naquela época.

Por que? O que aconteceu? O PSDB mudou da água para o vinho? Não. Não aconteceu nada.

E nós vamos ver isso aí com o bolsonarismo também. Se aparecer uma força política mais agressiva que o bolsonarismo, o pessoal vai apoiar o Bolsonaro.

Quer dizer, é um desastre político.

E aqui é importante dizer o seguinte, que ninguém do bloco petista vai falar, mas que nós temos que dizer claramente.

Esse desastre deve ser colocado na conta de uma única pessoa: Luiz Inácio Lula da Silva, porque essa política é a política dele. De fazer acordo com Deus e o diabo para conseguir um resultado que ninguém sabe direito qual é, que é miúdo e imediato e que termina num desastre total.

Muita gente do PT está falando que a vitória no RJ foi uma vitória da esquerda. Como? Eduardo Paes é da esquerda agora? Isso não é vitória da esquerda, não é uma vitória de nada. Paes é o candidato da Globo. Estão jogando areia nos olhos da população. Amanhã tem um movimento para derrubar o governo do PT, o Paes faz parte do movimento, ele não vai defender o governo do PT.

O Lula falou o seguinte: tem que apoiar o Boulos porque ele seria o candidato com maior possibilidade de vitória e, se ele ganhasse em SP, seria um ponto de apoio para a eleição em 2026. Não. Primeiro que ele pode ganhar e pode se desmoralizar totalmente, que é o mais provável que aconteceria se ele ganhasse, porque ele não vai ganhar. O Paes também, que política ele vai fazer no Rio de Janeiro? Uma política de direita. Aí o bolsonarismo vai comê-lo pela beirada.

Os aliados do PT são todos aliados neoliberais. Eles vão conseguir apoio popular? Não vão conseguir.

Então, é um desastre político total. Uma política sem conteúdo, e resulta nessas coisas que nós vimos: apoio ao sionismo e coisas que o valha. Neoliberalismo na economia. É um desastre.

É importante destacar esse desastre porque essa é uma ideia louca de um punhado de pessoas, mas o prejuízo acaba sendo pago por todo mundo.

Esse gráfico mostra a quantidade de população que vai ser governada pelos três setores políticos e a comparação com a eleição de 2020.

A esquerda, considerada aí só a esquerda mesmo, não vamos considerar PSB, essas coisas, vai governar 7 milhões de habitantes. O centro, que é uma direita, que tem todos esses partidos híbridos e tal, vai governar 79 milhões de habitantes.

E a extrema direita, bolsonarista e outros, vai governar 73 milhões de habitantes.

O segundo turno vai piorar a situação para a esquerda e melhorar ainda mais para a extrema direita.

Vem aí a tese que foi adiantada por alguns setores, como o João Campos, de Pernambuco, de que a polarização acabou. A polarização não acabou, porque para ela acabar, o gráfico do meio precisaria ser muito maior do que os outros dois. O que está acontecendo aqui é o que está acontecendo na Europa. A polarização é canalizada pela extrema direita, enquanto a esquerda não vai para lugar nenhum e fica a reboque dos partidos pseudo-democráticos, neoliberais, do imperialismo.

Esse bloco do centro é o bloco do pessoal mais ligado no Brasil. Quer dizer, quando eles falam que o centro ganhou, é uma manipulação dos índices, na verdade o centro retrocedeu brutalmente.

Basta você colocar as coisas corretas.

De prefeitos, praticamente dá um empate técnico entre o que seria o centro e a extrema direita. A esquerda não consegue progredir, primeiro por causa da frente ampla. Esse é o ponto que nós temos que analisar com bastante cuidado.

O PT abriu mão de lançar candidatos na maioria das cidades, então a esquerda aparece com uma votação bem pequena.

Segundo, a política da esquerda é ruim. A eleição foi uma confusão do ponto de vista programático, mas se tem uma coisa que ficou nítida é que a população rejeita essa política identitária.

O governo Lula está cheio desse pessoal.

Inclusive, a gente teria que considerar que essa crise que teve entre a Anielle Franco e o Silvio Almeida foi uma investida das ONGs para destronar um setor que estava incomodando por algum motivo que a gente não sabe. O identitarismo, o sionismo, o neoliberalismo, a política pró-imperialista estão pesando muito no governo do PT. E o resultado é o que nós estamos vendo. Aí o Lula veio a público e falou “precisa ver por que eu tenho muito voto e o PT não.” Primeiro ele precisaria deixar o PT lançar candidato.

No Rio de Janeiro, por que o PT não lança candidatura? Por que apoiar o Paes? Ele é parte da máfia do Rio de Janeiro. Depois o pessoal vai sair falando que o povo vota em corrupto, etc. O PT chamou a votar numa quantidade de gente aí que a classificação mais bondosa seria de “bandidos.”

E essa política veio se aprofundar agora no segundo turno. Estão chamando a votar em tudo quanto é criminoso em nome do voto útil, para não deixar o bolsonarismo ganhar as eleições. Mas o bolsonarismo já faturou a eleição.

A única coisa que o voto útil vai fazer é fortalecer uma ala direita que amanhã vai estar do lado do bolsonarismo e ajudar a liquidar ainda mais a esquerda, do ponto de vista eleitoral.

Quer dizer, a falta de independência política da esquerda é um dos fatores fundamentais do desastre. Exatamente o que está acontecendo na Europa.

Vocês viram o que aconteceu na França.

O *Mélenchon, que apesar dos pesares é um dirigente de um partido de esquerda, decidiu se aliar com setores do imperialismo francês, como o partido socialista. Terminou num fiasco total.

Agora, a extrema-direita não é tão promíscua assim. Por exemplo, o Macron procurou a Le Pen para apoiar o primeiro-ministro. Ela não deu um aval público ao PM que ele escolheu, apesar de que ele é muito direitista. Eles sabem que o futuro deles depende de se separar da bandidagem (apesar de que eles são também uma bandidagem) maior, dos partidos imperialistas. Eles não entram nesse negócio e, quando eles entram, acabam sofrendo retrocesso.

Veja a Itália. Como a Itália é um país onde o negócio partidário é mais fluido, tem muito conchavo, muito cambalacho político, os partidos de direita todos acabaram entrando em governos que não eram de direita e se deram mal. O que um pessoal e o Lula não perceberam é o seguinte: cresce todos os dias o número de pessoas que não aguenta mais o regime político em que nós estamos vivendo.

Eles vão se afundar com esse pessoal. Agora o PT falou que o Paes é a coisa mais maravilhosa. Vamos ver como o Paes vai chegar. É o candidato da Rede Globo. Então, nós estamos nessa situação.

Por esse motivo também, nessa conferência aqui, nós temos que discutir o segundo turno e a nossa proposta é que a gente não vote em nenhum candidato de nenhum partido. Nem do PT e muito menos do resto. Que a gente levante a bandeira do voto nulo.

Sobre isso, é interessante em São Paulo que 50 mil pessoas votaram 13 e anularam o voto. Há várias versões, mas elas implicariam que as pessoas que foram votar seriam pessoas muito sem noção da realidade, porque se você digitar 13 pra prefeito vai aparecer que não existe o candidato e, se você confirmar, seu voto vai ser anulado. Então, se a pessoa acreditou que estava votando em alguém, são 50 mil alcoólatras, algo assim.

Tudo bem, falam que o Marçal estava induzindo o pessoal a votar 13, mas na hora que você chega lá, dá 13 e não aparece o candidato, você não vai confirmar o voto. Então, esse voto é um voto de protesto contra a política da frente ampla. A política de votar em picaretas em nome da necessidade tática.

Porque esse voto útil é chamado também de voto tático. Você vota sem convicção, por um problema de não deixar o outro ganhar ou coisa que o valha.

Aqui nós estamos bem no centro da cidade de São Paulo. Se vocês andaram por aqui, devem ter percebido que parece que teve uma guerra aqui. Isso é o calçadão de São Paulo. Se andar por aqui, vai encontrar retalhos de 5 ou 6 tipos de calçamento diferentes que fizeram aí. Faz 30, 40 anos que os prefeitos vêm remendando essa rua de tal forma que parece uma favela, parece um depósito de lixo. Aí o cidadão fala: “Vou votar naquele pra aquele não ganhar”.

Ontem teve uma chuva forte aqui na cidade com vento. Uma parte significativa da cidade ficou sem luz por 14 horas. Eu, por exemplo, fui uma das vítimas. E não é só isso. Eu cheguei em casa e quis assistir um filme no computador, mas também a internet não funcionava.

Você vive numa situação totalmente precária, pra não falar do RS. No RS, os prefeitos e o governador colocaram o estado debaixo d’água. Quem foi eleito? Uma boa parte dos prefeitos que colocaram o RS debaixo d’água. É uma farsa.

Aí o cidadão vai falar: “Vota no candidato do Leite contra o candidato do Bolsonaro”. Não, vota no candidato do Bolsonaro. Pelo menos ele ainda não teve a oportunidade de colocar o estado debaixo d’água. É uma loucura.

Tudo isso aqui tem que ser considerado tendo em conta o seguinte: primeiro que a corrupção foi o grande vencedor dessa eleição. A quantidade de compra de votos na eleição foi astronômica. Eu acho que, estatisticamente, compraram no mínimo 30% do eleitorado. Compraram diretamente. Foram lá e pagaram o cidadão pra votar no candidato X ou Y.

No Mato Grosso do Sul, por exemplo, onde nós tínhamos vários candidatos, a compra de votos foi enorme. O cidadão chegava lá e oferecia 200 reais para um famélico votar no candidato dele. Não dá pra culpar o cidadão por isso. O moralismo da esquerda pequeno-burguesa vai falar isso aí: a população é corrupta. O problema é que a população está morrendo de fome, então essa aceitação de R$200 é um desprezo com a eleição. Eles estão dizendo o seguinte: “Isso daí não vale nada, então vou aproveitar e ganhar R$200, que aí eu ganho alguma coisa.”

A corrupção cresce em cima da situação deplorável da população brasileira.

Nós falamos que o PT, quando assumiu o governo, tinha que fazer medidas sociais bastante profundas. Fizeram nada. Fizeram até pente-fino no Bolsa Família.

Agora não adianta chorar. Tem que reconhecer o valor da própria política. Você não faz programa social, a sua prioridade na economia é o ajuste fiscal. E pior de tudo, uma coisa que nós falamos inúmeras vezes: a questão de Gaza foi um show de capitulação política da esquerda. A direita sapateou em cima da esquerda com a questão do sionismo e de Gaza. Apesar de a população brasileira, majoritariamente, estar contra o genocídio. Mas eles escolheram capitular.

Aí falaram: “A maneira certa de combater não é combater politicamente, mostrar que eles apoiam o genocídio, fazer programas sociais, é chamar um careca vestido todo de preto e mandar o urubu careca colocar todo mundo na cadeia”. Só que o urubu careca não colocou um monte.

Eles colocaram na cadeia um blogueiro, Daniel Silveira, aí falaram: “Vamos colocar todos os generais na cadeia”. Não colocaram nenhum. Mas aí pegaram a mulher da banca de verdura, a manicure e tal, 17 anos.

Marx disse uma coisa muito importante, que é um dos pilares do marxismo: a validade das ideias tem que ser vista na prática. Ficar discutindo simplesmente é como nas faculdades medievais onde o pessoal ficava discutindo ideias em abstrato. Então, por exemplo: quantos anjos você pode colocar em pé numa cabeça de alfinete? Nunca ninguém viu um anjo. É uma discussão que não leva a lugar nenhum.

Aqui nós passamos 2 anos de governo Lula discutindo a política errada e a política certa. Agora veio o mundo real e deu uma espanada no pessoal. Todas essas teorias não valem nada. Olha o tamanho do desastre. Identitarismo, capitulação à direita e ao sionismo, perseguição judicial ao Bolsonaro. Fracassou tudo. O Bolsonaro não sentiu nem cócegas.

A direita tomou conta da eleição.

E essa eleição é uma eleição mais difícil. Na próxima, se as coisas continuarem como estão, vai ser uma coisa tão pavorosa que vai ter gente se mudando do país diante do resultado eleitoral. E assim, de vitória em vitória na live, nós vamos para a derrota total. O cara canta vitória todo dia e perde.

Ele só ganha o jogo nos comentários. Com a bola rolando, é tudo de goleada. Nós temos que nos opor a essa política. Eu acho que está na hora, acho que a gente deveria adotar uma resolução de apresentar em conjunto, bem organizado, um programa em oposição a todo esse besteirol que a gente ouviu durante esses 2 anos. Um programa enxuto, mas completo, que aborde todas as principais questões e fazer uma campanha junto à população em torno desse programa.

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