O portal Esquerda Online, do grupo Resistencia/PSOL publicou um texto intitulado Derrotar Éder Mauro, mas sem ilusão nos Barbalhos.
O texto começa dizendo que: “mesmo com a vitória de Lula contra Bolsonaro, em 2022, o que vemos na sociedade brasileira atualmente é uma ofensiva das forças políticas mais conservadoras e reacionárias. O esquema bilionário das Emendas Parlamentares comandado por Arthur Lira turbinou a eleição dos políticos do Centrão e da Extrema-direita”. De fato, a extrema direita avança para tomar conta do regime político. O bolsonarismo foi o grande vencedor das eleições municipais. Mas isso não deveria levar a conclusão de que o caminho é se aliar a outros inimigos dos trabalhadores.
Ele segue: “esse fenômeno ocorreu em âmbito nacional, porém foi mais profundo em nossa capital, Belém. É preciso que as forças políticas de esquerda e progressistas reflitam bastante sobre esse resultado de forma realmente (auto) crítica e busquem se (re) orientar pelo caminho da mobilização popular, da retomada do trabalho de base, da unidade na luta, da independência de classe e da radicalidade programática como meios para se recuperar da derrota sofrida. Conciliar com o inimigo de classe é o caminho para a derrota. Ou, como diz o ditado popular, ‘cria corvos e eles te arrancarão os olhos’. A esquerda, no governo, precisa necessariamente governar ‘à quente’, apoiada na mobilização popular, e entregar conquistas sociais robustas para o povo, sob pena de gerar frustração nas massas e preparar o caminho para a volta da direita”.
Aqui a crítica é valida, é preciso governar apoiado nas massas. O PSOL, que tinha a prefeitura de Belém, sofreu uma das maiores derrotas do país. Apenas 9% dos votos, mesmo com toda a máquina da prefeitura, algo que não acontece em nenhuma cidade importante do país. Até em casos absurdos como Porto Alegre, onde o prefeito é diretamente responsável pela catástrofe das enchentes, ele conseguiu uma quantidade enorme de votos. Mas se a esquerda precisa governar assim, precisa agir assim também durante a eleição, até mesmo no segundo turno. Mas o texto tenta justificar que é preciso votar na direita, na tradicional oligarquia paraense.
Ele afirma: “neste segundo turno entre a centro-direita neoliberal (Igor Normando) e o neofascismo radical (Éder Mauro), orientamos ‘nenhum voto em Éder Mauro’ e voto crítico em Igor Normando, tendo como principal critério político para essa definição a necessidade urgente de derrotar a extrema-direita neofascista, que representa o perigo maior de um governo negacionista, violento, autoritário e propagador de fake news”.
Igor Normando é um deputado da direita, do MDB, um inimigo declarado dos trabalhadores. Uma vitória sua de forma alguma é uma vitória dos trabalhadores. Aqui a tese é que o fascismo é enfraquecido quando a direita tradicional está no governo, isso é absurdo. Em toda a história, o fascismo ascendeu aliado a essa direita tradicional. Quando chega a hora de apoiar o fascismo, eles apoiam. E isso está acontecendo hoje inclusive.
Em Porto Alegre, a direita tradicional supostamente democrática, o PSDB declarou apoio ao bolsonarismo contra a candidata do PT, Maria do Rosário. Nunca a direita tradicional se colocou ao lado da esquerda contra o fascismo, a não ser quando à esquerda de fato era a principal força, que foi o caso da eleição de Lula. Era Lula quem de fato tinha força para derrotar o bolsonarismo, a “aliança da direita”, na verdade, era apenas um parasitismo para ganhar cargos. Já quando Haddad não venceria Bolsonaro, em 2018, a direita toda ficou com Bolsonaro.
O texto continua: “o sentimento das ruas e das urnas, assim como as pesquisas de opinião, apontam para a vitória de Igor Normando no segundo turno. Acreditamos que esse é o resultado mais provável e o menos danoso diante do cenário colocado”. Isso também é uma farsa. Uma prefeitura de direita e uma prefeitura de extrema direita não tem quase nenhuma diferença. Na prática, quanto mais os trabalhadores compreendem que o prefeito é o inimigo, melhor e a luta política. Isso ficou claro no governo Bolsonaro, que teve a maior mobilização de oposição desde o governo Collor.
Seguindo o argumento: “alertamos que o povo de Belém não deve depositar nenhuma confiança ou ilusão na oligarquia Barbalho e no MDB, partido que apoiou o golpe contra Dilma em 2016 e que aqui no Pará tem uma imensa ficha corrida contra os interesses da classe trabalhadora e dos povos da Amazônia. Não devemos nos esquecer da Reforma da Previdência estadual que sobretaxou os servidores públicos e nem da privatização da COSANPA, só para ficar em dois exemplos”.
Ou seja, o Esquerda Online tem a compreensão clara de que Igor Normando é um grande inimigo dos trabalhadores. O que eles não entendem é que o papel da esquerda é esclarecer a política para os trabalhadores, evoluir a consciência de classe. Ao considerar que é correto apoiar a direita contra a extrema direita isso contribui para confundir os trabalhadores. Basta comparar com um caso mais claro, Trump contra Biden. Seria o caso de apoiar Biden, o responsável pelo genocídio na Faixa de Gaza, pelo golpe contra Dilma? É evidente que não.
A política para as eleições deve ser da luta, da independência de classe, trabalhador vota em trabalhador. Qualquer coisa que divirja disso é uma política que favorece a direita. A esquerda deve esclarecer que é preciso lutar contra a direita, em suas duas formas, sempre. Antes, depois e durante as eleições. A política correta deve ser nenhum voto na direita!