Nessa sexta-feira (11), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou publicamente a intromissão dos Estados Unidos no processo de aquisição dos caças Gripen pelo Brasil, chamando de “descabida” a solicitação feita pelo Departamento de Justiça norte-americano à fabricante sueca Saab. O pedido exige informações sobre a compra dos 36 caças pelo Brasil em 2014, um contrato avaliado em US$4,5 bilhões (R$26 bilhões em valores atuais). Durante entrevista em Fortaleza, Lula declarou que não faz sentido uma potência estrangeira pedir informações sobre uma transação concluída entre países soberanos.
A Saab, por sua vez, informou que cooperará com as autoridades americanas, embora já tenha sido investigada por autoridades brasileiras e suecas, que não encontraram irregularidades no processo de compra. A empresa reforçou que as investigações prévias foram encerradas, deixando claro que não há evidências de má conduta.
Esse movimento dos EUA ocorre em meio a tensões internacionais e demonstra uma nova tentativa de ingerência imperialista sobre os países da América Latina. O processo de aquisição dos caças Gripen foi iniciado em 2006, durante o primeiro mandato de Lula, e teve como competidoras as gigantes Boeing (EUA) e Dassault (França). A decisão de optar pelos Gripen foi, segundo o governo brasileiro, uma escolha estratégica que oferecia transferência de tecnologia e fortalecia a indústria bélica brasileira, especialmente com a participação da Embraer na fabricação dos caças.
O ataque à soberania brasileira por parte dos EUA evidencia mais uma vez o caráter imperialista da política externa norte-americana. O Brasil, ao buscar alternativas para sua defesa que não estejam atreladas aos ditames do imperialismo, desagrada profundamente os interesses norte-americanos, sempre ávidos por controlar as decisões militares e econômicas de outros países.
Nesse contexto, Lula tem a responsabilidade de resistir firmemente a qualquer tentativa de interferência e reforçar os laços com os BRICS, o bloco que se coloca como uma alternativa ao poderio dos EUA e da União Europeia. É fundamental que o Brasil se aproxime ainda mais de potências como China e Rússia, que, junto com os demais membros dos BRICS, podem construir uma frente unida contra o domínio imperialista.
No entanto, é preciso que Lula vá além de simples declarações. Ele não deve repetir erros passados de governos que, na tentativa de conciliar com o imperialismo, acabaram fragilizados e desestabilizados, como foi o caso do golpe de 2016 que depôs a ex-presidente Dilma Rousseff. A história mostra que tentativas de negociação ou apaziguamento com o imperialismo resultam, invariavelmente, em golpes e desmantelamento de governos populares.
Para garantir a soberania nacional, Lula precisa avançar na integração plena aos BRICS, fortalecer o papel do Brasil como liderança emergente e resistir a qualquer tentativa de controle por parte dos EUA. O Brasil tem o direito de decidir seus rumos estratégicos de forma independente, seja na área de defesa, de energia, ou em qualquer outro setor vital para a nação. Não há espaço para concessões diante das pressões imperialistas.
Os EUA, ao fazerem esse pedido à Saab, mostram claramente que sua preocupação não é com supostas irregularidades, mas sim com o fato de terem sido derrotados no processo licitatório. Não há outra justificativa para uma intervenção tão agressiva em um contrato concluído há quase uma década e já investigado pelas autoridades competentes. O que está em jogo aqui é a tentativa de enfraquecer a capacidade do Brasil de tomar decisões autônomas no campo da defesa, minando sua soberania.
É preciso que Lula e o governo brasileiro entendam a gravidade desse cenário e respondam à altura. Não basta denunciar a intromissão; é necessário transformar essa crise em uma oportunidade de fortalecer a independência do país, tanto em termos militares quanto econômicos.