Em uma nota publicada no sítio Esquerda Online, a Coordenação da Resistência-PSOL de Belém (PA) demonstrou o quão falida está a política da maior parte da esquerda no Brasil. Isso porque o grupo pretende chamar voto para o governo de Belém, segunda maior cidade do norte do país, no candidato do MDB, o partido do golpe de estado de 2016.
A matéria tem como título “Derrotar Éder Mauro, mas sem ilusão nos Barbalhos”. A própria matéria o grupo do PSOL diz que a conciliação de classes é o caminho para a derrota, para depois… se conciliar com o MDB.
“Esse fenômeno ocorreu em âmbito nacional, porém foi mais profundo em nossa capital, Belém. É preciso que as forças políticas de esquerda e progressistas reflitam bastante sobre esse resultado de forma realmente (auto) crítica e busquem se (re) orientar pelo caminho da mobilização popular, da retomada do trabalho de base, da unidade na luta, da independência de classe e da radicalidade programática como meios para se recuperar da derrota sofrida. Conciliar com o inimigo de classe é o caminho para a derrota.”
Se levarmos a sério o que escreveu o grupo em “Conciliar com o inimigo de classe é o caminho para a derrota.” para depois chegar à conclusão de que ainda assim deve-se chamar o voto nos inimigos dos trabalhadores, chegaremos à conclusão de que o objetivo principal dessa política é a derrota, o que ainda assim não seria motivo para se chamar voto em alguém no segundo turno, pois, o PSOL, que governava a cidade, mas ficou de fora do segundo turno, já foi derrotado nas eleições. Objetivo cumprido!
No entanto, não basta perder a capital, o grupo psolista quer também fazer crer que o MDB e seu candidato, Igor Normando, são aceitáveis, embora ruins para a população, enquanto o candidato bolsonarista Éder Mauro e seu partido PL são ruins, mas inaceitáveis. Vemos aqui a mesma distinção feita pela esquerda que já desistiu de lutar contra o genocídio na Palestina e que sai chamando votos para que Kamala Harris mate mais crianças e mulheres de maneira aceitável, tudo para impedir uma eleição de Trump.
Essa tática, chamada de “mal menor”, nunca deu resultado algum. Votar criticamente em Hindenburg não garantiu a derrota do nazismo, mas 12 anos da pior ditadura possível contra o povo alemão, o genocídio contra dezenas de povos diferentes, milhões de mortos e a divisão do país por décadas.
A mesma política que levou os franceses a votarem nos candidatos de Macron contra a extrema direita na França, alguns meses atrás, só garantiu que a esquerda não governasse e que Macron instituísse um primeiro-ministro de extrema direita no país, mesmo com a vitória da esquerda nas urnas.
Trata-se, assim como nos dois exemplos citados acima, de uma política de conciliação com a burguesia, muito diferente, por exemplo, do que fez a esquerda em 2022 ao votar em Lula. Em 2022, o PCO defendeu o voto em Lula, pois a união da esquerda, dos movimentos populares, da classe operária e de todos os oprimidos em torno de sua candidatura levariam a uma mobilização política. Além disso, Lula é um político operário, ligado a CUT e que representa para os operários uma saída para seus problemas. A mobilização em torno de sua candidatura servia também para esclarecer quem são os inimigos do povo e o que deveria ser feito para a população para chegar a sua emancipação. Sua candidatura não traia os princípios políticos da classe operária, além de ter sido uma exceção, pois o próprio PCO não chamou o voto no PT e em Lula na maioria das eleições passadas.
Já no caso observado na política da Resistência-PSOL, nada do dito acima é observado. O candidato em questão não se apresenta como um candidato dos trabalhadores, dos oprimidos, e muito menos a população tem ilusões em sua figura. Além disso, o MDB é um partido destacadamente burguês, tendo sido o que restou do MDB do período da Ditadura Militar. Chamar o voto em um político desses é criar ilusões para a população no sentido de que o MDB é menos pior do que os bolsonaristas, sendo que quem deu o golpe de estado em Dilma em 2016 foi o próprio MDB, o que abriu caminho para o governo de Bolsonaro posteriormente.
Começar chamando voto no MDB para derrotar o bolsonarismo inicia um ciclo vicioso. Em todas as eleições a burguesia vai lançar mais de um candidato e vai tentar apresentar seu candidato preferencial como o pior em relação a outro. Sendo assim, hoje vota-se no MDB para impedir o bolsonarismo, amanhã surge um novo grupo político que parece pior para a burguesia em relação à Bolsonaro e a esquerda passa a votar nos bolsonaristas para impedir que o outro vença. É o mesmo de se escolher entre Hitler e Mussolini.
Tudo isso acontece, pois, a esquerda não vê nas eleições uma ferramenta para a luta política contra a burguesia, mas sim, uma oportunidade para subir na vida e conseguir algum cargo na gestão burguesa do estado. Não conseguindo se eleger, o esquerdista pequeno-burguês escolhe um dos candidatos da burguesia somente para impedir aquele que ele enxerga como pior.
Por fim, deixamos que o leitor leia pelas próprias palavras do Resistência-PSOL o que seria um governo do MDB, palavras essas que estão na mesma matéria em que o grupo chama voto no mesmo MDB.
“Alertamos que o povo de Belém não deve depositar nenhuma confiança ou ilusão na oligarquia Barbalho e no MDB, partido que apoiou o golpe contra Dilma em 2016 e que aqui no Pará tem uma imensa ficha corrida contra os interesses da classe trabalhadora e dos povos da Amazônia. Não devemos nos esquecer da Reforma da Previdência estadual que sobretaxou os servidores públicos e nem da privatização da COSANPA, só para ficar em dois exemplos.”.