O racha do PCB, que até pouco tempo atrás se denominava PCB-RR, agora diz chamar PCBR (Partido Comunista Brasileiro Revolucionário) e publicou a primeira edição de um jornal – que ainda não sabemos se foi impresso ou se existe apenas virtualmente – chamado O Futuro, com data de setembro.
O jornal traz o seguinte artigo, assinado em nome do Conselho Editorial do Órgão Central do Partido: A Situação na Venezuela e seus desdobramentos. Não sabemos exatamente por qual motivo o agora PCBR rachou com o PCB, já que sua posição sobre a Venezuela são quase idênticas, vejamos.
No início da matéria, o PCBR se solidariza com um suposto golpe levado pelo Partido Comunista da Venezuela (PCV). Tal golpe teria sido dado pelo PSUV, partido de Maduro, que teria tomado o controle do PCV.
A história desse suposto golpe não vem ao caso nesse momento. O que sabemos é que o PCV se aliou ao imperialismo nas eleições, não reconhecendo a vitória de Maduro. Até mesmo o artigo do PCBR reconhece esse “erro”: “a melhor alternativa a Maduro não é apoiar um candidato que borra e confunde as fronteiras entre as classes, como fez o PCV“, diz o artigo do PCBR. Se o problema fosse apenas de mera posição equivocada, tudo bem. Mas o PCV, na realidade, se alinhou à política do imperialismo, que apoia um golpe cuja figura de proa são dois fascistas, Edmundo González e Corina Machado.
A dificuldade em perceber esse problema explica também a posição errada do próprio PCBR que resume a questão como uma luta entre duas burguesias.
Embora reconheça que a oposição é de extrema direita e imperialista, o PCBR não consegue entender que não há meio termo nessa luta:
“A classe trabalhadora venezuelana está sendo empurrada para duas alternativas de blocos burgueses com interesses distintos: de um lado Maduro e o PSUV com ‘sua’ burguesia, que busca se manter no poder aplicando uma política econômica para os ricos e perseguindo os movimentos proletários e populares não-alinhados. Do outro lado, os setores burgueses mais reacionários e golpistas, representados por Corina Machado, representarão uma vitória dos interesses do imperialismo estadunidense. Nenhuma das duas alternativas é do interesse do proletariado venezuelano e cada uma a seu modo quer reconciliar a Venezuela com os ditames dos Estados Unidos.”
Segundo esse raciocínio, o governo Maduro seria burguês, logo, a classe operária não deveria estar ao lado dele contra o imperialismo.
Em linhas gerais, o sectarismo do PCBR afirma o seguinte: não devemos denunciar o golpe imperialista e combate-lo numa frente com o PSUV porque o governo é “burguês”. O PCBR ficaria, assim, a favor do golpe de 1964 para não ter que “defender” o governo burguês de João Goulart.
O problema é que o governo do PSUV, por maiores que posam ser as diferenças políticas com ele, é muito mais popular no sentido socialista da coisa do que o governo Jango.
Dizer que o governo Maduro é burguês não passa de uma frase vazia. É fato que o governo não expropriou a burguesia, mas não é fato que há apoio um real apoio da burguesia ao governo. A essa altura, o governo Maduro conta apenas com as massas.
Ao invés de chamar as massas a exigirem que o governo tome medidas cada vez mais revolucionárias, o PCBR acredita ser preciso estar à parte dessa luta com a desculpa de que a “prioridade continua sendo o fortalecimento de um bloco de organizações revolucionárias, não uma frente ampla entreguista. (…) A luta do proletariado deve focar em seu próprio programa, com máxima independência política e unidade das forças revolucionárias“.
A luta pela independência da classe operária não pode passar à margem da luta de classes real que está acontecendo no país nesse momento. A independência de classe só pode se dar na luta contra o imperialismo em primeiro lugar, ou seja, chamando as massas a derrotar a direita golpista e o imperialismo. A política do PCBR é uma fantasia, para dizer o mínimo. Mas é mesmo, concretamente, uma capitulação envergonhada diante dos golpistas.