Por Juca Simonard
Mais um jogo burocrático da Seleção Brasileira, mas o que importa é, finalmente, ganhamos. A Canarinho enfrentou a Seleção Chilena no Estádio Nacional do Chile e venceu, no sufoco, por 2 × 1.
O vexame estava anunciado quando, antes dos dois primeiros minutos de jogo, a Seleção tomou um gol de cabeça do quase anão Eduardo Vargas, jogador do Atlético Mineiro. Falhas de Danilo, que não subiu para tirar a bola, e Ederson, mal posicionado.
Após tomar um sufoco, sem finalizações, durante o primeiro terço do primeiro tempo, a Seleção começou a tentar alguma coisa, sempre errando. Danilo fez mais uma partida péssima. Não se pode falar nem que o capitão da Amarelinha atue como zagueiro, ficando atrás para formar uma linha de três com zaga: é a cara do jogo burocrático exercido pela Seleção de Dorival Júnior. Resultado: pela direita, o Brasil pouco criou. Savinho, errando muito, tentava, solitariamente ir para cima dos marcadores, às vezes ajudado por Raphinha e Rodrygo.
O Brasil tinha muita dificuldade de sair jogando a partir da defesa, claramente por causa da partida abaixo do meio de campo, formado por Paquetá e André. Tanto é assim que, no segundo tempo, quando os dois foram substituídos por Bruno Guimarães e Gerson, o time teve mais criatividade.
No ataque, Raphinha e Igor Jesus se apresentaram bem, mas Rodrygo, tirando um ou outro lance melhor, também esteve abaixo. O camisa 10 (na ausência de Neymar, que faz muita falta) pelo menos conseguiu algumas tabeladas com Abner para penetrar as linhas adversárias. Aliás, uma ótima partida do estreante na lateral esquerda.
O ponto positivo da partida, no entanto, não poderia deixar de ser Igor Jesus. Meio perdido em algum momento do primeiro tempo, o centro-avante do Botafogo, em sua primeira partida pelo escrete nacional, arrumou o gol do empate brasileiro no fim do primeiro tempo. Jogada ótima (uma das poucas) de Savinho, que partiu para cima da defesa chilena e, numa jogada tipicamente brasileira, pedalou e cruzou para Igor. Este, por sua vez, fez um gol de artilheiro, com uma cabeçada esplêndida sem chances para o goleiro.
No segundo tempo, com as mudanças no meio-campo, a Seleção deu uma melhorada. Bruno Guimarães entrou bem e Gerson, do Flamengo, fez uma partida excelente, dando mobilidade e dinamismo para o escrete brasileiro. Depois, Savinho foi substituído por Luiz Henrique, do Botafogo, e Endrick entrou no lugar de Igor Jesus.
As mudanças não surtiram os efeitos desejados. Mesmo dominando, o Brasil continuava apresentando um futebol burocrático, europeu, com muitos toques para trás e para os lados. A insistência em manter Danilo como terceiro zagueiro é realmente inexplicável. Rodrygo, por sua vez, começou a errar tudo, e nada de sacá-lo do campo.
Eis que, entendendo que a vitória era crucial para o escrete nacional (o empate o manteria na 6ª colocação, isto é, quase fora da classificação para a Copa), Dorival decide abandonar a mesmice e inventar um pouco mais. Sacou Abner para colocar mais um atacante, Gabriel Martinelli, que novamente entrou bem. O ponta do Arsenal partiu para cima e o pouco que tocou na bola, conseguiu realizar bons ataques pela esquerda.
No final da partida, Luiz Henrique, para a loucura dos brasileiros (principalmente da torcida do Botafogo), numa jogada individual, limpou um zagueiro dentro da área e bateu, de chapada, no cantinho do gol adversário, sem chance para o goleiro, virando para a Amarelinha, e garantindo sua vitória. Três pontos conquistados no sufoco e com o brilhantismo dos jogadores do Glorioso, o melhor time da América do Sul atualmente. Apesar de ter feito uma partida abaixo no geral, Luiz Henrique, em sua terceira partida pela Seleção Brasileira, mostra porque é um dos melhores pontas da atualidade.
A vitória, porém, não muda o fato que a Seleção jogou um futebol muito burocrático. E disso podemos tirar algumas conclusões: Dorival está certo quando convoca mais jogadores que atuam em solo nacional. Vejam bem, Gerson (Flamengo) e Igor Jesus e Luiz Henrique (Botafogo) fizeram a diferença.
Por outro lado, a insistência com jogadores europeus, envenenados pelo jogo burocrático do velho continente, principalmente no meio-campo, prejudica a Canarinho. Claro, alguns jogadores que atuam lá fora são indispensáveis. Rodrygo, Vinícius Júnior (mesmo jogando abaixo na Seleção) e Raphinha são um exemplo. Outros craques também têm espaço, Savinho, Bruno Guimarães, Paquetá, etc.
No geral, todos os jogadores convocados são ótimos jogadores. Mas o que se coloca atualmente é que, diante da superioridade do Campeonato Brasileiro em relação às outras competições europeias, a preferência com jogadores de times europeus não faz mais sentido. Jogadores como Matheus Pereira, do Cruzeiro, Gregory, do Botafogo, Leo Ortiz, do Flamengo, Paulinho, do Atlético, entre outros, também precisam ter chances. Aliás, os três gols da partida foram marcados por jogadores do Brasileirão.
Enfim, mais um comentário. Não tem jeito: o Botafogo e a Seleção Brasileira têm um vínculo inexplicável. O Glorioso é o time que mais cedeu atletas para a Seleção em Copas do Mundo e foi base dos escretes que conquistaram os três primeiros mundiais, em 1958, 1962 e 1970. Inclusive, com três atletas convocados para a Amarelinha nessa Data Fifa (Igor Jesus, Alex Telles e Luiz Henrique), o Alvinegro é o time com mais representantes no escrete nacional.