As eleições municipais de 2024 eram um desastre anunciado. À exceção de um setor da esquerda nacional entorpecido com a ilusão de que poderia eleger um prefeito em um determinado local, estava mais que óbvio que a direita seria a grande vencedora do pleito.
E foi o que aconteceu. Os cinco partidos que mais elegeram prefeitos, conquistando mais de dois terços do total de prefeituras, são partidos de direita: o PSD, o MDB, o PP, o PL, o União Brasil e o Republicanos, nessa exata ordem.
Ao mesmo tempo em que tais partidos tiveram esse desempenho, o PSDB, o partido que foi o pilar da política neoliberal após a ditadura militar, teve uma perda inacreditável de 48,4% no número de prefeituras administradas. A legenda recuou da quarta para a oitava posição na lista de partidos com mais prefeitos eleitos. O PT, por sua vez, registrou um pequeno crescimento, praticamente mantendo a mesma posição que tinha antes.
De todos os partidos, os que mais se destacaram em relação ao crescimento foram o PSD e o Republicanos. Isso, levado em consideração a derrocada do PSDB, é um retrato bastante fiel do regime político.
Os partidos que costumavam dar sustentação ao regime estão em franca dissolução. O PSDB, identificado com a política de matar a população de fome, vem sendo cada vez mais esvaziado. Já a esquerda, na medida em que não se apresenta como uma alternativa a essa política, também não cresce.
Abre-se, assim, o espaço para que a extrema direita, profissional da demagogia, cresça. O Republicanos é um partido do bolsonarismo. É o partido do atual governador de S. Paulo Tarcísio de Freitas, um aliado notório do ex-presidente Jair Bolsonaro. O PSD, por sua vez, ainda que seja um partido muito fisiológico, vem abrigando todo um setor bolsonarista que evita se apresentar abertamente como tal. A criação do União Brasil, por sua vez, foi um expediente utilizado para evitar a falência do Democratas, que ficou marcado por sua aliança histórica com o PSDB. A chave para essa renovação é justamente a sua aliança com o bolsonarismo.
Desse processo, fica a mesma lição que deve ser tirada de casos como as eleições francesas e britânicas. A esquerda que procura se apresentar como apêndice do regime tende a ser atropelada pela extrema direita.