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Eleições municipais

Evitar a rejeição ou abraçar a polarização?

Enquanto Nunes e Boulos se apoiavam na inércia, Marçal optou por abordagem que se destacou por fugir dos padrões dados pelo PSDB e que parte da esquerda considera um modelo

A matéria do jornalista Aquiles Lins, intitulada Datafolha foi a melhor notícia que Boulos poderia ter, publicada no sítio Brasil 247, expõe o comportamento típico da esquerda pequeno-burguesa: tratar qualquer aumento de rejeição como sinal de fracasso, sem considerar o contexto maior de mobilização e engajamento que gera esse cenário. Lins se apega aos números e trata o crescimento da rejeição de Marçal, que supostamente chegou a 53%, como evidência de que sua campanha está fora de controle, especialmente após incidentes envolvendo confrontos físicos. Diz Lins:

“Um dado fundamental para entender o otimismo da campanha de Boulos é a simulação de segundo turno contra Pablo Marçal: Boulos venceria com 48% dos votos contra 37% do adversário. Esse cenário reflete o peso da rejeição de Marçal, que é o candidato com a maior taxa de rejeição, 53%, e cujo eleitorado é bastante restrito a uma base mais radicalizada. A recente agressão de um assessor de Marçal ao marqueteiro de Ricardo Nunes em um debate só reforçou sua imagem negativa. A rejeição ao ex-coach cresceu cinco pontos percentuais desde o último levantamento, refletindo como episódios de violência e intolerância dificultam seu caminho para conquistar novos eleitores.”

Esse tipo de análise reducionista ignora os dividendos políticos que uma postura mais combativa e polarizadora pode render. Ao contrário do que afirma o jornalista, Marçal não está isolado em uma base “restrita e radicalizada”, mas conseguiu consolidar apoio da base bolsonarista, mesmo contra o acordo do líder da extrema direita nacional com o imperialismo, que busca manter a principal cidade do País sob controle de um partido mais confiável, como o MDB de Nunes.

A rejeição elevada é apresentada como algo a ser evitado, mas o exemplo de Marçal demonstra justamente o oposto: é o custo de se posicionar claramente, algo que setores da esquerda criticam em nome de um pragmatismo desprovido de princípios. Ao invés de fortalecer uma base sólida, preferem o caminho fácil do “aceitável” e da “moderação”, sem oferecer uma alternativa verdadeira ao regime político. Em sua análise, Lins dá a entender que o crescimento de Marçal no eleitorado bolsonarista, saltando de 43% para 51%, foi algo inesperado e preocupante. O que não se menciona é que esse crescimento não seria possível sem demonstrar disposição de enfrentar diretamente as críticas e rejeições que surgem ao longo do caminho.

E se a rejeição aumentou, isso também se deve ao próprio crescimento do candidato. De um nome periférico, Marçal se tornou um dos três principais candidatos à prefeitura de São Paulo. Esse avanço não se deu por acaso. Enquanto Ricardo Nunes e Boulos se apoiavam na inércia, Marçal optou por uma abordagem que se destacou por fugir dos padrões estabelecidos pela imprensa e pelo regime político, utilizando a internet como principal campo de propaganda. Isso gerou mais desgaste? Certamente. Mas também consolidou o apoio de um segmento que busca romper com o velho establishment político.

O próprio autor reconhece que essa rejeição não significa isolamento. Ao admitir que Marçal conseguiu “praticamente eliminar qualquer possibilidade de Nunes se beneficiar do voto conservador”, Lins desconsidera que o aumento da rejeição foi o preço a pagar para consolidar sua posição em um eleitorado que, em grande parte, estava disperso e desiludido com a candidatura do atual prefeito.

A insistência na ideia de que Marçal “não tem chances de conquistar novos eleitores” soa como um conforto ilusório para aqueles que acreditam que a campanha deve se ater a uma propaganda comercial e não política. O fato é que a postura combativa é justamente o que fez Marçal crescer, mesmo que a rejeição aumente. Afinal, rejeição não é o problema, mas sim a ausência de mobilização. A rejeição alta é consequência de um enfrentamento necessário e, se é verdade que o caminho para a prefeitura de São Paulo parece mais favorável para Boulos, isso se deve mais ao controle que a imprensa tem sobre a propaganda eleitoral do que qualquer outra coisa.

O sucesso ou fracasso eleitoral não se mede apenas pela rejeição, mas pela capacidade de manter uma base coesa e ativa. A lógica de Lins em celebrar a “vitória” antecipada de Boulos baseia-se na suposição de que as pesquisas de intenção de voto são mais do que um reflexo do humor momentâneo da burguesia.

A lição que fica da trajetória de Marçal não é a de que se deve buscar evitar a rejeição a qualquer custo. Pelo contrário, é a de que enfrentar a polarização e abraçar um posicionamento claro, mesmo que isso signifique desagradar alguns, é a única forma de mobilizar de fato e romper com o marasmo estéril das campanhas tradicionais. Se a esquerda deseja realmente ter o apoio popular, precisa abandonar a ideia de aceitação pela aceitação e reconhecer que a população busca figuras que estejam dispostas a enfrentar o regime político vigente, com todas as suas implicações.

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