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Governo federal

Se os ‘sabotadores’ estão felizes, quem realmente errou?

Para jornalista esquerdista, "sabotadores" erraram ao fazer previsões para a economia brasileira. O erro, porém, foi não considerar o direitismo do ministro Fernando Haddad

O jornalista Moisés Mendes publicou uma coluna no Brasil 247, intitulada Na bet da economia, os sabotadores erram todas, argumentando que os críticos do governo Lula estariam errando suas previsões porque, segundo ele, não se baseiam em análises reais, mas em uma “torcida contra” o sucesso econômico do governo. O ponto central de sua defesa é a elevação da nota de crédito dada ao Brasil pela agência norte-americana de risco Moody’s. Mas, ao contrário de uma demonstração de falência dos argumentos dos “sabotadores”, essa “conquista” revela algo mais profundo e problemático para quem realmente almeja mudanças econômicas substanciais: a política econômica de Haddad, longe de ser a ameaça que os “analistas” previam, é, na verdade, uma política de continuidade e aprofundamento do receituário neoliberal dos governos anteriores.

A própria elevação da aprovação da Moody’s deveria ser motivo de preocupação para qualquer um que se identifique como de esquerda. Afinal, não é segredo que as agências de risco de crédito são instrumentos do capital financeiro internacional, interessadas unicamente na manutenção de condições favoráveis para a maximização dos lucros de grandes corporações e investidores. Se Moody’s elogia, é sinal de que a política econômica em vigor está sendo bem-sucedida em garantir esses interesses – às custas, necessariamente, do povo brasileiro.

Sob a gestão de Haddad, o Ministério da Fazenda fez ajustes nas medidas draconianas impostas por Temer e Bolsonaro, mas sem jamais desviar da linha geral que orienta a gestão pública sob o neoliberalismo: controle rígido dos gastos públicos e sacrifício dos investimentos sociais para assegurar o pagamento dos juros da dívida pública. Trata-se do maior assalto institucionalizado da história brasileira, que destina anualmente trilhões de reais para os bancos e grandes fundos de investimento.

Os “analistas” da imprensa burguesa não se enganam ao continuar criticando Haddad – mas não por ele estar desviando do projeto neoliberal. Pelo contrário: criticam justamente porque sabem que ele não se afastou o suficiente da política econômica que atende aos interesses do grande capital.

A própria imprensa não consegue esconder sua satisfação com o desempenho econômico que Haddad proporciona ao grande capital. O jornal O Estado de S. Paulo admitiu: “melhora da nota é esforço de vários governos, mas mostra que PT não quebrou o brinquedo da economia.” O elogio velado demonstra que, na verdade, Haddad não fizeram mais do que zelar pelo “brinquedo” que foi tão bem mantido por Bolsonaro.

A verdade é que a política econômica atual é exatamente aquilo que as agências de risco e os setores da burguesia brasileira esperavam: uma continuidade travestida de mudança, em que o controle de despesas é mantido, e o assalto aos cofres públicos, através da rolagem da dívida, permanece inabalável. O que Mendes e outros colunistas tentam mascarar ao chamar os críticos de “torcedores” ou “sabotadores” é que esses setores da burguesia têm interesses muito bem definidos e não hesitam em elogiar medidas que os beneficiam.

Os analistas de viés sabotador sabem que a racionalidade de Fernando Haddad incomoda até parte do governo e das esquerdas. Que nenhuma bobagem, mesmo sob o ponto de vista da direita, foi cometida até aqui. E que a consistência da política econômica tem agora reconhecimento formal de uma agência que eles deveriam respeitar.”

Enquanto a esquerda pequeno-burguesa se ilude com pequenos acenos progressistas, os especuladores e demais vampiro elogiam friamente a política que mantenha o assalto do País para os tubarões das finanças. Assim, as críticas contra Haddad são calculadas e servem apenas para manter o governo sob pressão. O elogio ao controle de despesas e ao “esforço” que evitou “quebrar o brinquedo”, no entanto, revela que Haddad está, na prática, governando para eles.

Por isso, o artigo do Estado de S. Paulo citado por Mendes não hesita em admitir que “o mérito de Lula foi não ter quebrado o brinquedo que teria sido tão bem cuidado por Bolsonaro (grifo nosso)”. É um elogio cínico e um ataque ao governo Lula, acusado de manter a política econômica do ex-presidente de extrema direita.

Os inimigos do povo estão, finalmente, satisfeitos com a condução de Haddad. Acontece que prefeririam, como demonstraram nas eleições passadas, ter um PSDB no comando. É o partido que historicamente soube executar essas políticas com mais eficiência, sem o risco de pressões internas por programas sociais ou políticas mais desenvolvimentistas que, mesmo quando superficiais, podem atrapalhar a farra dos rentistas.

Como o próprio Mendes aponta, a crítica dos “analistas” não assume o mesmo tom de ataques ferozes contra a figura de Lula. A razão é simples: não há qualquer sinal de que o governo Lula-Haddad vá “cometer bobagens”, como diz Mendes. A falta de “bobagens” mencionadas é, na verdade, uma falta de políticas que efetivamente alterem a lógica econômica do país. Haddad tem se dedicado a apresentar números “bons” para os padrões do mercado, como o aumento do superávit e a manutenção de juros altos.

O que desagrada a direita não são as medidas de Haddad, mas a possibilidade de uma guinada na política econômica. Afinal, o ministro segue cartilha neoliberal, o que diminui a necessidade de uma campanha feroz contra o governo. Se Haddad continuar a cortar despesas e manter as metas de superávit, a direita continuará a criticá-lo com moderação, mas sem a urgência que demonstravam na época dos governos petistas que ameaçaram, ainda que timidamente, romper com a ortodoxia econômica.

Enquanto isso, Lula amarga a situação de ter que engolir um ministro da Fazenda que age como um sucessor bem-comportado de Paulo Guedes. A flexibilização do teto de gastos, que tanto irrita os liberais de plantão, não passa de uma adaptação técnica, sem mudar a lógica do ajuste fiscal permanente.

Quem paga o preço é o povo brasileiro, que não verá nem sombra dos investimentos necessários em infraestrutura e para o desenvolvimento do País, capaz de tirar as massas trabalhadoras da penúria atual e elevar os padrões de vida do povo. Haddad governa para o capital financeiro. O silêncio das agências de risco e do mercado financeiro diante de seus atos é a maior prova disso.

Não é de se surpreender que Moody’s tenha se sentido confortável para elevar a nota do Brasil. Não há risco algum para eles, pois a festa dos rentistas segue garantida com Haddad, sob a tutela dos “sabotadores”, os maiores beneficiados pelos “erros” de avaliação, um fator crucial para entendermos o que realmente está acontecendo e porque as celebrações de Mendes são totalmente indevidas, sendo antes motivo de preocupação para esquerda.

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