O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, declarou guerra aos populares sítios de apostas online, conhecidos como ‘bets’, e impôs uma série de medidas severas para reprimir o que ele considera uma ameaça moral e econômica. Curiosamente, o mesmo rigor que Haddad aplica contra o trabalhador que tenta complementar a miséria do Bolsa Família não se vê quando o assunto é a jogatina dos banqueiros na Bolsa de Valores. A repressão às apostas online, apresentada como uma cruzada contra o vício e a exploração, escancara um duplo padrão: enquanto o povo é tratado como criminoso, os especuladores de terno brincam com trilhões de dinheiro público.
Ao proibir e restringir as apostas, o ministro da Fazenda não está preocupado com o empobrecimento da população. Fosse esse o caso, teria aumentado o valor do Bolsa Família para garantir, ao menos, o básico para uma família operária se alimentar. Em agosto, o custo de uma cesta básica em São Paulo chegou a R$2.359,05, quase quatro vezes mais do que os R$680 que o governo paga em média. Tudo bem posto, o aumento do Bolsa Família e o aumento real dos salários, em um ritimo que recupere o poder de compra e equipare-o ao mínimo vital, R$6.802,88 segundo o DIEESE.
A repressão às apostas revela a verdadeira intenção por trás dessas medidas: delimitar um mercado com um filtro burocrático e ao mesmo tempo, arrepiar a classe trabalhadora, que busca meios desesperados para sobreviver a uma crise econômica e social da qual o ministro demonstra indiferença.
Além de ser claramente uma medida dedicada a favorecer cem casas do gênero e fechar o mercado, é também um absurdo toda a campanha contra as ‘bets’ enquanto a farra especulativa dos bancos é mantida. Os verdadeiros parasitas que roubam o povo dentro da lei e na casa dos trilhões, apostam livremente na Bolsa de Valores com o dinheiro da rolagem da dívida pública, saqueando os recursos do País para multiplicar seus próprios lucros.
A diferença é que, enquanto as apostas dos bancos são institucionalizadas e protegidas pelo Estado, as ‘bets’ passarão por um afunilamento regulatório que só beneficiará os grandes tubarões. Se a preocupação de Haddad fosse o vício ou a exploração, deveria começar fechando a B3 e estatizando os bancos, que não fazem outra coisa além de enriquecer às custas do desespero e do empobrecimento da população.
A fórmula encontrada por Haddad para controlar o mercado de apostas revela uma insensibilidade contra o povo incompatível com um governo eleito pela mobilização popular. Enquanto o País se afunda em uma crise sem precedentes, Haddad busca colocar no trabalhador a culpa pela falência do sistema econômico. Enquanto isso, os verdadeiros culpados, os especuladores e os agiotas do mercado financeiro, seguem intocados.
Não há como defender que a repressão aos sítios de apostas trará qualquer alívio para a crise econômica. No máximo, servirá para desmoralizar ainda mais o governo, que se comporta como um carrasco contra os pobres e um protetor dos bilionários. É preciso um cavalo de pau nessa política.
Em primeiro lugar, porque é um caminho seguro para a desmoralização junto à base social do governo. Em segundo porque não resolve, muito pelo contrário, aprofunda o massacre e o desprezo da classe dominante contra as paupérrimas massas trabalhadoras do Brasil.
Não quer que as pessoas usem o auxílio em apostas, como de fato seria desejável, proporcione a segurança financeira necessária para isso, com o atendimento das necessidades elementares, alimentação, moradia, vestuário, transporte, cultura e lazer (claro, porque não?). Tratar o pobre como gado é uma das coisas mais horrorosas que o ministro pequeno-burguês poderia fazer contra os apoiadores do governo Lula. É preciso mudar isso urgentemente.