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Eleições municipais

Boulos: de ‘sem teto’ a candidatura mais cara da eleição

Candidatura "periférica" supera R$65 milhões e é mais cara no primeiro turno das eleições em São Paulo, com gastos que incluem um treinador para ensinar Boulos a falar

A candidatura mais cara no primeiro turno das eleições de 2024 em São Paulo é a de Guilherme Boulos (PSOL). A campanha do psolista lidera em arrecadação, com R$65.662.114,03, um valor próximo ao limite de R$67.276.114,50 para o turno. Ele também está à frente, em relação aos R$38.787.919,77 arrecadados por seus concorrentes.

Candidatura mais importante do país

Embora a direita domine São Paulo com mãos de ferro, isso não implica que o paulistano seja, necessariamente, direitista. A esquerda pequeno-burguesa, incluindo a direção do PT, apoia essa dominação, dando suporte à política do PSDB, coligando-se e até elogiando os carrascos do povo.

A necessidade desta introdução se dá para refletir sobre os setores da esquerda que buscam, honestamente, uma solução para os problemas do país. Uma primeira indagação seria sobre a candidatura do maior partido da esquerda, o PT, na maior cidade do Brasil, a qual é, portanto, a mais importante do país. Aqui encontramos não um trabalhador ou quadro do PT, mas Guilherme Boulos.

Quem é Guilherme Boulos?

Já tecemos diversas críticas a Guilherme Boulos, do PSOL, principalmente em relação à sua contribuição fundamental para o golpe de Estado que derrubou o governo do PT em 2016. Sua campanha de “Não Vai Ter Copa” foi a mão esquerda da campanha pelo impeachment de Dilma.

Segundo Boulos, “não dava para defender o governo da Dilma”, devido ao diminuto ajuste fiscal realizado por ela. Essa medida de envergadura secundária foi tomada na esperança de angariar algum apoio dos banqueiros ao segundo governo Dilma.

Iludido com a possibilidade de colaboração, o PT frequentemente delira em suas avaliações acerca da atividade da burguesia. A infertilidade dessa política, no entanto, ficou latente na campanha da luta contra o golpe, uma vez que não consolidou apoio alguma à mandatária petista, resultando apenas na desmoralização do governo Dilma.

A aparição de Boulos em meio a um golpe, censurando moralmente o governo perante a esquerda e a população em geral, é a melhor indicação de sua política. Entretanto, há outros indícios indeléveis: ele participa do Instituto IRE, ligado ao imperialismo, o que revela sua essência como candidato do PSDB.

Bastião do imperialismo

Para quem não sabe, Fernando Henrique Cardoso (FHC) era um sociólogo de esquerda, exilado durante o regime militar. Com o início do desmantelamento da ditadura, retornou ao Brasil e ingressou no MDB. Na época, era considerado um príncipe dos sociólogos brasileiros e elaborador da teoria da dependência, entre outras de grande consideração acadêmica.

Com a ascensão de vários governos estaduais pelo MDB, compostos por candidatos truculentos, corruptos e mafiosos, FHC rompeu com o então PMDB e fundou o PSDB, apresentando-se como um partido de esquerda e propagandeando uma suposta orientação ideológica social-democrata, uma farsa completa desde sua origem.

Declarando à imprensa “esqueçam o que escrevi”, FHC mudou de postura e se colocou como um homem do imperialismo. O novo FHC se opôs à teoria da dependência e outras ideias que marcaram seu passado, alegando ter se alinhado ao imperialismo, concretizando isso ao realizar a maior espoliação do patrimônio público no Brasil.

Novo FHC

Boulos é um candidato que realizou toda sorte de estripulias políticas no passado, mas agora se apresenta como uma espécie de novo FHC, mesmo sem ter ganho a eleição. Neste sentido, FHC foi mais cuidadoso ao revelar sua política após vencer o pleito; Boulos, por sua vez, desnuda sua política com antecedência.

De “liderança dos sem-teto”, quando conveniente, quase um cosplay do Lula, Boulos se tornou uma caricatura desleixada da liderança sindical. Como candidato à prefeitura de São Paulo em 2024, ele transformou-se em um arremedo do conservador Bolsonaro, o que tem sua ironia.

No âmbito internacional, ao ser questionado sobre a declaração de Lula afirmando que há um genocídio na Palestina, Boulos respondeu apenas que “não era candidato a prefeito de Telavive”. Em outra ocasião, ao ser perguntado sobre a Venezuela, posicionou-se imediatamente como um “candidato à prefeitura de Caracas”, afirmando que houve fraude por parte de Maduro nas eleições venezuelanas.

No terreno nacional, Boulos já declarou que deseja manter o equilíbrio fiscal em São Paulo, aderindo à política imperialista neoliberal. Também expôs que usará força policial para promover desocupações de terrenos e imóveis.

Em seu programa eleitoral, o ponto central seria dobrar o efetivo da Guarda Municipal, sob a justificativa de defesa da segurança pública. Todo morador do Brasil sabe que polícia não implica em segurança para a população.

Mesmo com a cidade de São Paulo se assemelhando a ruínas, com sua população desassistida no essencial, Boulos pretende alocar mais recursos na Guarda Municipal, uma “polícia” que não deveria existir. Esse gasto resultaria apenas em aumento da repressão sobre a população.

Um novo FHC, atraindo a intenção de votos de muitas pessoas da esquerda, que acreditam que sua possível gestão municipal será um esteio para a esquerda. Na Análise Política da Semana do último dia 28, o presidente nacional do Partido da Causa Operária (PCO) Rui Costa Pimenta, afirmou: “visto isso, tenho conversado com várias pessoas”. Ele complementou: “Então, aqui nós vamos deixar a pergunta: será que, mesmo com toda essa política direitista, ele será um apoio para a esquerda? O futuro dirá, embora eu ache que ele não vai ganhar eleição alguma”.

Candidatura Popular?

Qualquer desavisado deduziria que o candidato recebendo o maior suporte da burguesia em São Paulo seria Nunes. Todavia, é Boulos quem possui a candidatura mais rica da eleição; a campanha com mais recursos pertence a ele, e não a Nunes.

Esse viés foi marcante desde o início da pré-candidatura, com o PSOL vendendo convites para jantar com Boulos a R$ 20 mil. A candidatura de Boulos, da coligação composta pela Federação PSOL REDE (PSOL, REDE), pela Federação Brasil da Esperança – Fé Brasil (PT, PC do B, PV) e pelo PDT, passou de “sem-teto” a ser a candidatura mais cara da eleição.

Elencando as candidaturas pela ordem crescente dos recursos arrecadados, teríamos:

– João Pimenta, pelo PCO, com R$ 0,00, o único partido que realiza a campanha com fundo único nacional;
– Ricardo Senese, pela UP, com R$ 7.325,00;
– Bebeto Haddad, pela DC, com R$ 119.026,90;
– Altino Prazeres, pelo PSTU, com R$ 425.200,00;
– Marina Helena, pelo PSOL Novo, com R$ 2.810.500,27;
– Datena, pelo PSDB, com R$ 3.696.000,00;
– Pablo Marçal, pelo PRTB, com R$ 6.233.756,80;
– Tabata Amaral, pelo PSB, com R$ 16.716.882,94;
– Ricardo Nunes, pelo MDB, com R$ 44.306.450,15;
– Guilherme Boulos, pelo PSOL, com R$ 65.662.114,03.

Marcos da campanha financeira

Os números da campanha financeira de Boulos são importantes não apenas pelo volume das receitas, mas também pela origem e destinação dos recursos. Entre os apoiadores, destacam-se Daniela Maria Moreau, Mariana Moreau e Gisela Maria Moreau, com a monta de R$ 550 mil. Essa família deteve o comando do Banco da Bahia.

Outros dois grandes apoiadores de Boulos, que justificam suas loucuras, são a Revista Fórum e o DCM. Esses órgãos da “esquerda progressista” realizaram uma campanha contra o PCO por gastar R$ 250 mil com uma representação advocatícia para candidatos de todo o País, o que envolveu 183 processos, em condições mais plausíveis que a campanha de Boulos, que até 25/09/2024 gastou R$ 1.739.712,23 com seis representações diferentes para a mesma candidatura em uma cidade.

Embora os gastos principais sejam com a terceirização das atividades de comunicação, a Janela Comunicação LTDA, uma empresa de pequeno porte aberta em 2023, recebeu R$7.511.355,00, equivalente a 19,37% do montante arrecadado, e o Facebook Serviços Online do Brasil LTDA, uma empresa da Faria Lima, recebeu R$2.405.000,00, equivalente a 6,20% do total.

Entretanto, existem outros gastos importantes que devem ser destacados não apenas pelo valor, mas pela finalidade. Um deles é o gasto de R$70 mil com “media training”, destinado a uma pessoa responsável por ensinar “oratória” ao candidato.

Na realidade, temos outro termo em inglês para “coach” (treinador), o que poderia transformar Boulos em um Pablo Marçal em sua orientação. Difamar a Venezuela com a campanha imperialista de “ditadura” deve estar entre as lições aprendidas por Boulos e postas em prática durante suas entrevistas, como a que deu à Globo.

Além disso, apenas com direitos autorais de músicas utilizadas nas propagandas, foram gastos a bagatela de R$ 400 mil. Em direitos autorais diversos, foram gastos outros R$ 240 mil.

Com assessoria de imprensa, o valor gasto foi expressivo, totalizando R$ 400 mil. Com segurança privada profissional — algo incomum para um candidato de esquerda — foram gastos R$ 251 mil, o que indica uma preocupação de Boulos em relação à sua integridade física.

O PCO, por sua vez, recebe R$ 3,4 milhões, um montante irrisório comparado a outras campanhas, sem gastar com bobagens como segurança privada, coaching de comunicação e absurdos similares, mas é alvo do escrutínio da esquerda pequeno-burguesa.

É fundamental que a esquerda reflita sobre a candidatura de Boulos e as implicações de apoiar um candidato que, em muitos aspectos, se alinha às políticas da direita. O que está em jogo não é apenas uma eleição, mas o futuro da luta política em um país que enfrenta graves crises sociais e econômicas. A escolha de apoiar ou não Boulos pode ter consequências profundas para os setores populares e as verdadeiras demandas da população.

Ao avaliar sua trajetória e as alianças que vem formando, é preciso ter clareza sobre as verdadeiras intenções por trás de sua candidatura e como isso se relaciona com os interesses do povo. O desafio da esquerda é construir uma alternativa genuína que represente os trabalhadores e a justiça social, sem se deixar seduzir pelas promessas vazias de um novo FHC.

Neste cenário, a unidade e a conscientização dos setores progressistas são essenciais para garantir que a luta por uma sociedade mais justa e igualitária continue, independentemente das dificuldades que possam surgir. A eleição de 2024 não é apenas uma disputa eleitoral; é uma oportunidade para redefinir os rumos da política em São Paulo e no Brasil, e essa responsabilidade recai sobre todos nós.

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