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Pernambuco

Camponeses de Barro Branco resistem e impedem invasão de pistoleiros

Dois posseiros e um estudante foram baleadas; uma pessoa foi internada com queimaduras

Na manhã desse sábado (28), os camponeses do antigo Engenho Barro Branco, liderados pela Liga dos Camponeses Pobres (LCP), expulsaram mais de 50 pistoleiros que tentaram invadir o território ocupado pelos posseiros. Em um conflito intenso, no qual foram disparados mais de cem tiros pelos capangas do latifúndio, três pessoas foram baleadas. Uma quarta foi internada com queimaduras graves e passou por cirurgia.

Localizado no município de Jaqueira, na Mata Sul pernambucana, o Barro Branco, próximo à fronteira entre Pernambuco e Alagoas, tem sido um dos principais palcos de luta pela terra no Nordeste no último período. Segundo denunciam os posseiros, os enfrentamentos entre os pistoleiros e os camponeses se intensificaram nos últimos anos graças à ação de Guilherme Maranhão, latifundiário que pretende tomar conta da terra onde hoje moram centenas de pessoas.

As tensões se escalaram após os camponeses anunciar que aconteceria, no dia 28 de setembro, uma missão de solidariedade do Comitê de apoio à luta dos posseiros de Barro Branco.

Segundo uma das lideranças da LCP, após muita luta dos posseiros, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) teria prometido cadastrar todas as pessoas que residiam em Barro Branco e lhe garantiriam o direito à terra. Ela afirma que, de acordo com o cadastramento feito pelo próprio movimento, mais de mil pessoas teriam direito à terra. Os posseiros também reivindicaram junto às autoridades o fim dos conflitos e o pagamento das dívidas trabalhistas da Usina Frei Caneca, que decretou falência e até hoje não pagou os seus funcionários.

De acordo com a liderança, nenhuma reivindicação foi atendida. Pelo contrário: o que tem sido visto são pessoas alvejadas, baleadas dentro de casa ou no local de trabalho, e camponeses sendo humilhados pelos pistoleiros.

A missão, ao mesmo tempo em que permitiria fazer um balanço da situação atual da luta pela terra em Jaqueira, também seria um ato público de apoio aos posseiros. O Comitê, que reúne estudantes, professores, sindicatos, partidos e entidades da sociedade civil, fez uma ampla convocação da atividade, mobilizando dezenas de pessoas. Percebendo que a missão fortaleceria a luta dos posseiros, os latifundiários realizaram várias ações com o objetivo de intimidar os camponeses nos dias anteriores ao evento.

Dois dias antes da assembleia, os camponeses denunciaram que Guilherme Maranhão estaria contratando policiais do estado de Alagoas para invadir as terras dos posseiros à noite. A invasão, contudo, não aconteceu.

Em meio a esse clima tenso, os posseiros criaram uma barricada para impedir qualquer tentativa de invasão. E ela aconteceu justamente no dia em que ocorreria a assembleia.

Os apoiadores da luta dos posseiros chegaram por volta das 11h no Barro Branco. Entre os presentes, estavam militantes do Partido da Causa Operária (PCO), do Mangue Vermelho, correspondentes do Diário Causa Operária e de A Nova Democracia, advogados da Associação Brasileira dos Advogados do Povo (ABRAPO), professores, estudantes e sindicalistas. No momento da chegada dos apoiadores, várias viaturas policiais já se encontravam presentes na entrada do terreno. A cerca de 100 metros da entrada, um grupo de pistoleiros observava a movimentação.

Por volta das 12h, os pistoleiros começaram a tentativa de invasão. Os capangas do latifúndio dispararam diretamente contra os que se posicionaram atrás da barricada.

Para se defender, os camponeses e apoiadores reagiram jogando pedras.

No momento mais dramático, uma os latifundiários tentaram passar com uma retroescavadeira por cima dos que resistiam.

A tentativa, no entanto, fracassou. Os correspondentes deste Diário flagraram o momento em que o veículo tentou invadir o terreno. Veja abaixo:

Durante todo o confronto, a Polícia Militar, que supostamente ali estava para a segurança dos posseiros, não agiu em nenhum momento. Quando começaram os tiros, vários agentes se esconderam por trás de uma igreja no local.

Mesmo ferindo quatro pessoas, os pistoleiros não conseguiram invadir. As lideranças do movimento consideraram o confronto como uma “grande vitória”. Uma das lideranças chamou os pistoleiros de “covardes” e afirmou que a polícia veio não para defender os camponeses, mas sim defender os pistoleiros. “Eles precisavam de uma babá”, disse a liderança.

Nenhum dos feridos corre risco de vida. Uma estudante, que veio de Recife, levou um tiro no pé e foi levada de ambulância para o Hospital Municipal de Jaqueira, a menos de cinco minutos do local. No entanto, pela falta de estrutura do município, ela teve de ser transferida para o Hospital Regional de Palmares, localizado a 30 quilômetros de distância.

Após cirurgia, ela passa bem.

Uma camponesa foi atingida no ombro. A jaqueta que vestia no momento ajudou a amortecer o impacto. No dia seguinte, já havia recebido alta e havia retornado para casa.

Outro camponês, que levou um tiro na canela, também foi socorrido, mas não precisou passar por cirurgia.

Várias cápsulas de bala foram recolhidas no local. De acordo com especialistas, alguns projéteis são de armas que são normalmente utilizadas pela polícia.

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