O mais recente discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Organização das Nações Unidas (ONU) foi simplesmente lamentável. Visivelmente, o presidente, que iniciou o mandato bastante alinhado à Rússia e à China, agora procura se apresentar como um grande amigo das “democracias” – isto é, do imperialismo.
É verdade que Lula falou de temas como a fome e a pobreza, que de fato interessam os trabalhadores de todo o mundo. No entanto, o presidente não foi capaz de apresentar uma única proposta concreta para combater tais problemas. Por outro lado, aquilo que ficou de fato marcado foi a forma como se referiu aos dois principais conflitos atuais: a guerra da Ucrânia e a guerra na Palestina.
No caso da Ucrânia, Lula saiu de uma posição bastante crítica ao regime de Kiev para uma crítica muito mais dura à Rússia. Essa posição coincide justamente com o momento em que o imperialismo decidiu aumentar o cerco contra o país eslavo, como é visto no caso da Russia Today. No caso da Palestina, o presidente brasileiro teve o cinismo de chamar os combatentes do Hamas de “fanáticos religiosos”, culpando-os pelo atual conflito que já resultou em mais de 40 mil mortos.
Não é difícil entender porque essa guindada à direita na política internacional. O governo se vê cada vez mais pressionado internamente, com a extrema direita crescendo sem parar. Acuado, o governo petista vem apostando em uma política que levará a um desastre total: o apoio à política do imperialismo.
A questão que fica é: vale à pena tal política? Vale à pena trair o regime chavista, que sempre foi um amigo do povo brasileiro? Vale à pena virar as costas para um povo que está sofrendo um genocídio? Não vale, sob nenhum aspecto. O motivo mais óbvio é o de que, ao fazê-lo, o governo vai se desgastando cada vez mais com a sua base social. O segundo motivo é o de que, por mais bem comportado que Lula se mostre, o imperialismo nunca vai ver o seu governo com bons olhos.
Prova disso é o recente artigo Um santo de pau oco, publicado por O Estado de S. Paulo. O texto, que critica muito duramente o presidente brasileiro, acusa Lula de ter feito o Brasil perder a sua credibilidade junto aos demais países. O motivo, por sua vez, não seria a proximidade do governo pelo imperialismo, mas pelo seguinte:
“A Rússia, aliás, nem sequer foi nomeada no discurso de Lula, como em geral não são nomeados, nas notas do Itamaraty sob o comando espúrio de Celso Amorim, o Hamas ou o Hezbollah. Quando o Hezbollah, por exemplo, bombardeou um campo de futebol matando várias crianças, o governo lamentou simplesmente “um ataque”, sem autoria. Quando Israel revida, multiplicam-se as recriminações e adjetivos”.
A esquerda brasileira ainda não entendeu que o mundo se prepara para uma guerra de enormes proporções. Nessa guerra, estará, de um lado, o imperialismo; do outro, estará os povos oprimidos de todo o mundo. Nesse sentido, para o imperialismo, um presidente como Lula não cumpre o que precisa ser feito na atual etapa. O imperialismo precisa de alguém como o argentino Javier Milei, disposto a entregar o país inteiro para bancos estrangeiros. Lula, por mais que se esforce, não é Milei. E, por isso, sempre será visto com desconfiança por parte da burguesia.
Quanto mais o governo vai para a direita, mais se descola de suas bases. E, assim, vai perdendo aquilo que o sustenta: as massas populares. É preciso reverter já essa política antes que a direita já tenha tomado conta por completo do País e se prepare para um golpe de estado.