A corrida presidencial norte-americana tem escancarado o óbvio nas disputas entre os principais candidatos. Enquanto Donald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos e atual candidato pelo Partido Republicano, insiste em se posicionar como o presidente “mais pró-Israel da história”, suas declarações recentes evidenciam uma competição perigosa: qual candidato do imperialismo pode se mostrar mais impiedoso em sua política externa, particularmente em relação ao Oriente Médio e aos palestinos.
A afirmação de Trump, feita durante a Cúpula Nacional do Conselho Israelita, não apenas reforça a visão imperialista de berço de uma facção do imperialismo, mas também joga luz sobre como as eleições norte-americanas são o palco principal para demonstrações de poder militar e ações genocidas. Trump relembrou, com orgulho, a decisão de seu governo de reconhecer Jerusalém como capital de “Israel”, um movimento amplamente criticado por violar acordos internacionais e exacerbar as tensões no Oriente Médio.
A normalização das relações de “Israel” com alguns países árabes também foi colocada como uma de suas conquistas. Essas medidas, longe de pacificar a região, aprofundaram a desigualdade e a violência contra o povo palestino, sendo gestos de um governo que não hesita em apoiar ações genocidas do estado terrorista sionista.
No entanto, Trump não está sozinho nessa corrida para demonstrar dureza e apoio incondicional a Israel. Kamala Harris, atual vice-presidente e candidata pelo Partido Democrata, tem uma postura igualmente pró-Israel.
Harris também busca agradar o lobby sionista, fator que levanta questionamentos sobre a verdadeira natureza de seu projeto político. Apesar de não fazer declarações tão incisivas quanto Trump, a democrata participa de um governo cuja política externa, favorece os mais monstruosos atos cometidos pela ditadura sionista, inclusive nas ações militares e na repressão aos palestinos.
Essa disputa para ver quem será o candidato mais implacável, tanto no controle de imigração quanto no apoio irrestrito a “Israel”, coloca os trabalhadores em uma encruzilhada mortal. A violência do opressor, que deveria ser combatida, está sendo usada como moeda política.
Talvez o aspecto mais revelador do discurso de Trump tenha sido sua admissão sobre o poder do lobby sionista nos Estados Unidos. Ao expressar seu descontentamento com o “pouco” apoio da comunidade judaica norte-americana – que, de acordo com pesquisas, aumentou modestamente de 25% para 29% –, Trump sugeriu que os eleitores judeus que não o apoiam estão sendo desleais. “Vocês precisam ter a cabeça examinada”, disparou o ex-presidente.
A declaração é significativa, pois coloca à vista o que muitos preferem ignorar: o poder desproporcional que o lobby sionista exerce sobre a política norte-americana. Ao tentar conquistar o apoio da comunidade judaica, Trump não apenas reconhece essa influência, mas também expõe o quão central ela é em suas ambições eleitorais.
Ele claramente vê o apoio a “Israel” como um fator crucial para sua base de eleitores, e sua frustração ao não obter o suporte desejado revela o quanto essa questão é fundamental para suas estratégias políticas. Além disso, o ex-presidente associou o suposto aumento do antissemitismo, mesmo pouco provável de ter acontecido, à política de imigração de Kamala Harris, culpando-a por permitir a entrada de migrantes dos “principais pontos terroristas” do mundo.
Segundo ele, isso contribuiu para o crescimento de simpatizantes jihadistas e protestos pró-Palestina nos Estados Unidos. Ao destacar que restauraria a proibição de viagens e deportaria simpatizantes do Hamas, Trump parece disposto a transformar sua presidência em uma verdadeira cruzada contra qualquer manifestação de apoio à Resistência Palestina.
Apesar das duras palavras de Trump, é importante destacar que Kamala Harris não está distante das mesmas críticas. Enquanto o ex-presidente se orgulha de ser o “mais pró-Israel”, Harris, como parte do governo de Joe Biden, continua a seguir uma linha de apoio incondicional a “Israel”, promovendo políticas que não rompem com o regime ditatorial norte-americano.
Ela é a candidata do sistema, ou seja, aquela que mantém as mesmas alianças e compromissos estabelecidos por décadas de política externa norte-americana. Harris mantém uma postura moderada em comparação a Trump, mas suas ações e declarações refletem um compromisso inabalável com o apoio a “Israel”, sem abordar as violações de direitos humanos cometidas contra os palestinos.
Isso reforça a ideia de que, independentemente de quem vença a eleição, a política dos Estados Unidos, em relação ao Oriente Médio e especialmente no que diz respeito a “Israel” e Palestina, nenhuma mudança significativa ocorrerá, ao menos em favor do povo palestino. Embora não use uma retórica tão agressiva quanto Trump, o governo democrata tem mantido muitas das políticas restritivas de imigração implementadas pelo governo anterior, sem grandes alterações que favoreçam os direitos dos imigrantes.
Enquanto Trump usa uma retórica mais direta e ofensiva, Harris representa a continuidade de um sistema que, na prática, não se afasta dos mesmos interesses e alianças. No final, os eleitores norte-americanos se veem diante de dois candidatos que, de diferentes formas, perpetuam uma política de violência e genocídio contra os trabalhadores do mundo e o cenário internacional de modo geral, enquanto competem para ver quem é mais duro e quem tem mais apoio econômico.